Os antepassados da minha Ordem religiosa, nos legaram uma Regra de Vida maravilhosa. Ela é conhecida como “A Regra de Vida dos Carmelitas.” Esta trás capítulos que fundamentam a vida dos frades carmelitas. Ou seja: o carisma. Dom de Deus dado a essa família religiosa.
Um dos capítulos da Regra de Vida que me chama atenção, é o Capítulo 7, citado acima. Ele nos mostra o valor da CELA (quarto) para o religioso carmelita. Essa experiência de “estar na cela”, nos leva mais do que uma experiência geográfica, e sim, uma experiência que vai firmando no carmelita um grande espírito de “estabilidade”. Estabilidade ou permanência.
Olhando para a natureza, podemos perceber esse processo de permanência/estabilidade nas plantas. Toda e qualquer planta necessita enraizar-se para poder crescer. Sem esse processo de enraizamento, a planta não desenvolve todo o seu potencial e não suporta os “transplantes” que a vida há de oferecer-lhe de forma obrigatória ou espontânea. A permanência/enraizamento é que dá condições ao ser vivo, de enfrentar o transitório da vida. A experiência do “permanecer na cela” nos leva a descobrir a beleza da própria vida, numa postura de simplesmente perceber, sentir a presença de Deus. E a experiência do eterno nos leva ao grande conhecimento de nós mesmos. E o estar diante da face de Deus que mostra para o discípulo o seu original. Como realmente somos ou seremos em Deus.
Tenho percebido, muitas vezes, situações desconfortáveis da vida, que nos raptam, porque não conservamos uma estabilidade interior diante do transitório que é inevitável. Pessoas que se perdem numa ladainha de palavrões, simplesmente porque o trânsito está daquele jeito que é tão comum em São Paulo. Se esbravejar palavrões melhorassem a vida da maioria das pessoas, creio que estaríamos no paraíso. E falando em paraíso, ali se vê um grande elemento que devemos levar para a nossa “cela interior”. A AMIZADE com DEUS. Essa é de suma importância para nós. Depois que os primeiros homens macularam a transparência do relacionamento para com Deus, a desordem entrou no mundo. A amizade com “a serpente enganadora” só nos leva ao caos interior e exterior. Um bom amigo está sempre ao nosso lado. O verdadeiro amigo só deseja o nosso bem. Isso porque o amigo nos importa para dentro dele. E o que importamos para o nosso interior é precioso. Imagine se no silêncio mais profundo do nosso ser, alimentarmos a nossa amizade com Deus. Pode ter certeza que, quando silenciamos em estado de presença dentro de nós, ELE nos fala. É o momento do toque de Deus na alma do discípulo. Quando percebemos o seu toque, nós não mendigaremos ninharias para o mundo, mas ofertaremos coisas boas que vem do manancial que jorra de dentro de nós, por causa desta amizade com Deus que não tem fim.
Procure no interior da sua “cela” aquele que já por primeiro te espera. Assim como a música boa precisa de “pausas” para encontrar harmonia, também corpo e alma para estar conectados com Deus, necessita de pausas. Essas se dão no “ permanecer e estar com Ele”.
Com mãos postas peço que Jesus o abençoe.
Texto de: Frei Rothmans Campos, O.Carm.
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