Precisamos rezar a Maria e aos santos ou é melhor diretamente a Deus?
15/10/2015Ofertar a vida
16/10/2015Conheça um pouco mais sobre a vida extraordinária dessa doutora da Igreja
Dia 15 de outubro a Igreja celebra Santa Teresa, e neste ano o V Centenário de seu nascimento; a grande santa reformadora do Carmelo, mística e doutora da Igreja. Neste ano tive a graça de estar em Ávila, conheci seu primeiro mosteiro reformado, o de São José, e pude rezar diante das relíquias de seu braço e coração, conservados em Alba de Tormes. Ela nasceu em Ávila, Espanha, em 1515, com o nome de Teresa de Ahumada. Seus pais eram virtuosos e tementes a Deus, teve nove irmãos e três irmãs.
Dom Ricardo Blázquez, Arcebispo de Valladolid e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, disse em Ávila, durante sua alocução na abertura do V Centenário:
“Nos reunimos para recordar as obras da misericórdia de Deus, para cantar suas maravilhas, para fazer o elogio de uma mulher excepcional que nos precedeu na Fé em Deus, no amor a Jesus Cristo e nos trabalhos pelo Evangelho. A memória de Santa Teresa de Jesus, nascida próximo desta praça há 500 anos, nos convocou esta manhã. Sua recordação está viva entre nós; é motivo de alegria, de estímulo e de esperança”.
O bispo disse que Santa Teresa foi um “sinal de atuação do Espírito Santo na Igreja e a humanidade”. Além disso, convidou a viver o Centenário recuperando o sentido da oração, tal como o fazia Santa Teresa de Ávila: “Descobrir o sentido cristão e humanizado da oração. A oração não é um diálogo consigo mesmo, alienando-se enganosamente e desfazendo-se falsamente do peso da existência. A oração não é uma expansão do espírito do homem até o vazio ou a solidão sideral esmagadora; nem um exercício do homem a superficialidade buscando a profundidade ou para superar a fragmentação em um centro unificador.
A oração é um trato de amizade com Deus, que sabemos que nos ama, que vem a nosso encontro, que nos espera, que nos acompanha”.
“A celebração do V Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus é uma oportunidade preciosa para atualizar e assimilar as dimensões fundamentais da vida cristã e apostólica na Igreja, e também a autenticidade da existência humana que todos compartilhamos”, concluiu Dom Blázquez.
O Papa Francisco também se uniu espiritualmente aos festejos pelo V Centenário de Santa Teresa e através de uma mensagem que dirigiu ao Bispo de Ávila, convidou a todos a serem peregrinos, tal como foi a Santa.
“Na escola de Santa Teresa aprendemos a ser peregrinos. A imagem do caminho pode sintetizar muito bem a lição de sua vida e de sua obra. Ela entendeu sua vida como caminho de perfeição pelo que Deus conduz ao homem, morada após morada, até Ele e, ao mesmo tempo, o põem em marcha até os homens. Por que caminhos quer levar-nos o Senhor após as pegadas e as mãos de Santa Teresa? Gostaria de recordar quatro que me fazem muito bem: o caminho da alegria, da oração, da fraternidade e do próprio tempo”.
Neste sentido exortou a todos a caminharem, tal como o faria Santa Teresa quando chegou a hora de sua morte. “Já é tempo de caminhar!” (Ana de São Bartolomu, Últimas ações da vida de Santa Teresa). Estas palavras de Santa Teresa de Ávila a ponto de morrer são a síntese de sua vida e se converteram para nós, especialmente para a família carmelitana, seus conterrâneos e todos os espanhóis, em uma preciosa herança a conservar e enriquecer”, escreveu o Papa.
“A todos digo: Já é tempo de caminhar, andando pelos caminhos da alegria, da oração da fraternidade, do tempo vivido como graça! Percorramos os caminhos da vida da mão de Santa Teresa. Suas pegadas nos conduzem sempre a Jesus”.
Santa Teresa, segundo o Papa Bento XVI, é uma santa que representa um dos cumes da espiritualidade cristã de todos os tempos. Ainda jovem, com pelo menos 9 anos, leu a vida dos mártires, que inspiraram nela o desejo de martírio, tanto que chegou a improvisar uma breve fuga de casa para morrer como mártir e ir para o céu (cf. Vida 1, 4): “Eu quero ver Deus”, disse a pequena aos seus pais. Alguns anos mais tarde, Teresa afirmou ter descoberto a verdade, que se resume em dois princípios fundamentais: por um lado, que “tudo o que pertence a este mundo passa”; por outro, que só Deus é para “sempre, sempre, sempre”, tema que recupera em seu famoso poema:
“Nada te perturbe, nada te espante; tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!”. Ficando órfã aos 12 anos, pediu à Virgem Santíssima que fosse sua mãe (cf. Vida 1,7).
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Na adolescência, a leitura de livros profanos a levou às distrações da vida mundana, mas a experiência como aluna das freiras agostinianas de Santa Maria das Graças, de Ávila, e a leitura de livros espirituais, ensinaram-lhe o recolhimento e a oração.
Aos 20 anos de idade, entrou para o convento carmelita da Encarnação, em Ávila. Três anos depois, ela ficou gravemente doente, tanto que permaneceu por quatro dias em coma, aparentemente morta (cf. Vida 5, 9). Ela disse: “Eu desejava viver porque compreendia bem que não estava vivendo, mas estava lutando com uma sombra de morte, e não tinha ninguém para me dar vida, e nem eu poderia tomá-la, e Aquele que podia dá-la a mim, estava certo em não me socorrer, dado que tantas vezes me voltei contra Ele, e eu o havia abandonado” (Vida 8, 2).
Na Quaresma de 1554, aos 39 anos, Teresa chegou ao topo de sua luta contra suas próprias fraquezas. A descoberta de “um Cristo muito ferido” marcou profundamente a sua vida (cf. Vida 9). Lendo as “Confissões”, de Santo Agostinho, descreve assim a jornada decisiva da sua experiência mística: “Aconteceu que… de repente, experimentei um sentimento da presença de Deus, que não havia como duvidar de que estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse toda absorvida n’Ele” (Vida 10, 1).
Logo ela começou a grande obra de reforma da Ordem Carmelita: em 1562, fundou o primeiro Carmelo em Ávila. Nos anos seguintes fundou mais 17 novos Carmelos. Foi fundamental seu encontro com São João da Cruz, com quem, em 1568, constituiu, perto de Ávila, o primeiro convento das Carmelitas Descalças. Em 1580, recebeu de Roma a ereção a Província Autônoma para seus Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitas Descalços.
Teresa terminou sua vida terrena em 1582 enquanto estava se ocupando com a fundação do Carmelo de Burgos, repetindo humildemente duas frases: “No final, morro como filha da Igreja” e “Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos”.
Foi beatificada pelo Papa Paulo V, em 1614, e canonizada por Gregório XV, em 1622; foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970. Teresa de Jesus não tinha formação acadêmica, mas tinha profundos ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Como escritora, sempre se ateve ao que tinha experimentado pessoalmente ou visto na experiência de outros (cf. Prefácio do “Caminho de Perfeição”). Ao mesmo tempo, é alimentada com a leitura dos Padres da Igreja, São Jerônimo, São Gregório Magno, Santo Agostinho.
Entre suas principais obras, deve ser lembrada, acima de tudo, sua autobiografia, intitulada “Livro da Vida”, que ela chama de “Livro das Misericórdias do Senhor”. O objetivo é manifestar a presença e a ação de um Deus misericordioso em sua vida. Em 1566, Teresa escreveu o “Caminho da perfeição”, chamado por ela de “Admoestações e conselhos” que dava às suas religiosas. Entre os trechos mais importantes, destaca-se o comentário sobre o Pai Nosso, modelo de oração. A obra mística mais famosa de Santa Teresa é o “Castelo Interior”, escrito em 1577. O desenvolvimento da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo.
À sua atividade fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o “Livro das fundações”, escrito entre 1573 e 1582, no qual fala da vida do nascente grupo religioso.
A santa enfatiza a oração: rezar significa “tratar de amizade com Deus, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama” (Vida 8, 5). Para Teresa a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus que culmina na união com Ele pela graça, por amor e por imitação. Daí a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo na Igreja, para a vida de cada crente e como coração da liturgia. Santa Teresa vive um amor incondicional à Igreja: ela manifesta um grande amor a Igreja diante da divisão causada pela Reforma protestante. Ela reformou a Ordem Carmelita com a intenção de servir e defender melhor a “Santa Igreja Católica Romana” e está disposta a dar sua vida por ela (cf. Vida 33, 5).
Santa Teresa nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua ação; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe em nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente.
Santa Teresa estava contando seus planos a respeito da construção de um mosteiro carmelita. No meio da conversa, toda cheia de euforia, alguém perguntou:
– Irmã Teresa, onde está o dinheiro para tantos planos?
– Tenho dez centavos para começar.
– Esse tanto não dá nem para começar…
– Vocês tem razão. Teresa mais dez centavos não é nada. Teresa mais dez centavos mais Deus, é tudo.
Realmente, ela não construiu apenas um, mas quinze mosteiros.
Peçamos hoje sua especial intercessão entre os santos e anjos do céu. Santa Teresa de Ávila, rogai por nós!
Prof. Felipe Aquino