SANTA LUZIA
VIRGEM E MÁRTIR
13 de DEZEMBRO
“Dirijo-me a ti, que vens do povo, da gente comum, mas pertences à fileira das virgens. Em ti o esplendor da alma se irradia sobre a graça exterior da pessoa. Por isso és uma imagem fiel da Igreja”
O grande bispo de Milão exprimia com essas palavras o conceito altíssimo que a comunidade cristã tinha, desde os primeiros séculos, a respeito das virgens: elas representavam a beleza e a fecundidade da Igreja. Era, pois, normal voltar a reviver a memória daquelas jovens que, durante as perseguições, tinham dado um duplo testemunho: o da virgindade e o do martírio. Algumas delas eram muito famosas, a ponto de serem recordadas durante a celebração eucarística juntamente com os apóstolos e os mártires.
Naturalmente a comemoração litúrgica dessas jovens heroicas não comportava necessariamente uma reconstrução da sua vida e do seu martírio segundo nossos critérios historiográficos modernos; a comunidade cristã queria, antes de tudo, admirar aquela virtude heroica com que meninas cristãs tinham sabido desafiar e vencer o grande poder corrupto do seu ambiente.
A famosa passio, a narrativa do martírio, frequentemente uma verdadeira obra de arte literária, aproxima-se do nosso romance histórico, em que o autor, servindo-se da liberdade permitida por esse gênero literário, embeleza a verdade histórica com elementos que a tornam mais atraente e bem inserida no contexto da época.
Falam de Luzia
De Luzia sabemos com certeza que viveu em Siracusa e que foi martirizada aproximadamente em 304, durante a famosa perseguição de Diocleciano. Esses dados foram confirmados por recentes escavações que descobriram uma catacumba a ela dedicada e o lóculo onde tinha sido depositado o seu corpo.
Quanto ao mais precisamos contentar-nos com a sua passio escrita no século V ou VI. Luzia pertencia a uma abastada família de Siracusa, na Sicília. Vivia com a mãe porque, quando tinha sete anos de idade, perdeu o pai. Ambas eram cristãs e Luzia se havia consagrado a Cristo como virgem, mesmo quando, ainda pequenina, seu pai, segundo o costume do tempo, a havia prometido como esposa a um rico concidadão.
Não obstante a perseguição, os cristãos da cidade de Catânia celebravam todo ano, com a chegada de muita gente, a festa de Santa Ágata, a virgem cataniense martirizada por volta do ano 250. Luzia foi em peregrinação a Catânia com a mãe e juntas fizeram parte na comemoração durante a qual o diácono leu o Evangelho da hemorroíssa. Pura coincidência ou um sinal do céu? A mãe de fato sofria desse mesmo mal fazia anos e já sem esperança de cura.
Luzia se dirigiu à mãe: “Mãe, tu deves acreditar em tudo o que foi lido. Ágata padeceu por Cristo e agora reina com ele no céu. Toca com fé o seu túmulo e serás curada”. Esperaram que a multidão se retirasse e juntas dirigiram-se ao túmulo da mártir para implorar a cura. Luzia, vencida pelo cansaço, adormeceu e viu em sonho a virgem Ágata circundada pelos anjos e adornada de pérolas, que lhe disse: “Luzia, minha irmã, por que pedes a mim aquilo que tu mesma obtiveste? Eis que, pela tua fé, a tua mãe está curada”. Depois, acrescentou: “Como Cristo glorificou por meio de mim a cidade de Catânia, assim glorificará por meio de ti a cidade de Siracusa, porque com a tua virgindade preparaste uma agradabilíssima morada para Deus”.
Ao acordar Luzia apercebeu-se de que com a mãe acontecera o milagre e ela lhe disse: “Agora que estás curada, eu te suplico em nome daquele que te obteve a saúde que não me constrinjas a casar-me com um homem, mas coloca à minha disposição os bens que preparaste para o meu casamento”.
A mãe lhe fez notar: “Desde os nove anos não só conservei, mas também acrescentei quanto teu pai te deixou. Fecha-me primeiro os olhos e depois poderás fazer dos teus bens o que quiseres”.
E Luzia: “É muito pouco dar a Deus aquilo que não se pode levar consigo para o outro mundo”. E a mãe consentiu e assim que voltaram para Siracusa começaram a distribuir os seus bens aos pobres, segundo as indicações da comunidade cristã da sua cidade.
Soube disso o noivo que lhe fora prometido, que não era cristão, e fez suas demonstrações na tentativa de não perder nem a futura esposa nem as muitas riquezas dela. Não tendo, porém, conseguido dobrar a vontade das duas mulheres, recorreu ao prefeito da cidade, Pascásio, fazendo-lhe notar que a sua Luzia estava desperdiçando o patrimônio que devia levar-lhe em dote. Também isso foi inútil. Fez então a última tentativa: acusou Luzia de ser cristã e iniciou o processo.
Texto adaptado da edição de dezembro da Revista Ave Maria. Para ler os conteúdos na íntegra, clique aqui e assine.
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