O segundo capítulo do Diretório destaca a identidade da catequese.. Começa lembrando a importância do anúncio centrado no mistério pascal de Jesus (o querigma). Isso deve ser trabalhado de modo a provocar a descoberta da beleza do Evangelho. Catequese com conversa desanimada não funciona.
Mas a catequese não é um aspecto isolado da vida da Igreja, ela se relaciona com o conteúdo social e todas as outras dimensões da vida humana. Por isso se tornam presentes as dimensões das outras pastorais. O catequizando está sendo preparado para ser Igreja, ligando-se a tudo que é importante para a vida humana, já que Jesus veio para que todos tivessem mais vida, num sentido bem amplo.
O novo Diretório valoriza a inspiração catecumenal mas lembra que isso não significa que sempre se seguirão ao pé da letra todos os detalhes e condições do que está proposto para o catecumenato, que pode ser adaptado de acordo com as legítimas condições dos participantes. Isso é importante para não acabamos excluindo pessoas que, por válidas questões particulares, acabariam sendo rejeitadas em vez de acolhidas.
O Diretório destaca como elementos principais a serem tratados nesse processo:
– caráter pascal (centrado na oferta de Jesus por nós, sua vida, morte e ressurreição)
– caráter iniciático (que leva o catecúmeno a uma nova identidade como membro da Igreja)
– caráter litúrgico, ritual, simbólico (que leva a um envolvimento nas celebrações)
– caráter comunitário (a comunidade faz parte do processo, acolhe, testemunha, propõe ações concretas)
– progressividade na formação (centrada no primeiro anúncio, temos uma mensagem que se retoma sempre, de diferentes maneiras, e se vai aprofundando, sendo luz para todos os aspectos da vida humana.)
Assim, teremos uma catequese permanentemente ligada à Sagrada Escritura, à liturgia c aos sacramentos e também à caridade e ao testemunho de vida. É importante perceber que Deus nos fala ainda hoje através da Criação que contemplamos e da história humana que nos cerca (com aquilo que nos faz louvar ao Senhor e com o que representa o apelo que Ele nos faz para corrigir injustiças e amar ao próximo).
Esse capítulo traz uma ideia interessante, que pode gerar boas atividades e reflexões na catequese: diz que as bem-aventuranças são o bilhete de identidade dos cristãos. Após a leitura de Mt 5,1-12, podemos conversar sobre o significado mais profundo de cada bem-aventurança e descrever situações que fariam parte da vida de quem assume esse tipo de “cartão de identidade”. Por exemplo: pobres de espírito seriam os mais humildes, não vaidosos nem dominados pela idolatria do dinheiro. Os que choram seriam os que sofrem e se sentem consolados por Deus mas também os que se comovem com os sofrimentos do próximo. Sempre que leio essa bem-aventurança me lembro da cena de um seriado americano (E.R.) ambientado num hospital de pronto socorro, que era assim:
Uma enfermeira estava estreiando no pronto socorro, transferida de uma maternidade. No seu primeiro tipo de atendimento, uma senhora morreu nos seus braços.. Ela se desesperou e saiu chorando para o terraço do hospital. Um médico foi atrás dela querendo entender e ajudar. No meio das lágrimas, ela disse que não estava acostumada com pacientes que morrem, a maternidade de onde viera era um lugar de alegria, de nascimentos . O médico então lhe disse que tinha para ela duas notícias: uma ruim e outra boa. A ruim era: você nunca vai se acostumar, sempre que alguém morrer você vai sofrer. Mas a boa era: você nunca vai se acostumar porque você sempre vai ser uma boa pessoa e seu coração nunca vai se endurecer, indiferente diante do que atinge a outros.
Depois podemos imaginar como seria uma “Feliz Cidade” onde todos tivessem atitudes, sentimentos, palavras e atos de verdadeiros cristãos.
Chamamos, com razão, a Bíblia de Palavra de Deus. Ouvindo bem essa Palavra e tendo-a sempre presente vamos perceber que Deus continua falando hoje, sua Palavra é para ser percebida em tudo que Ele criou e na história que cada um de nós vive. As celebrações aprofundam esses sentimentos e nos ajudam a perceber o que Deus está nos dizendo através dos fatos que vivemos. Para isso é preciso educar a sensibilidade dos fiéis para identificarem como funciona essa linguagem também na vida através de gestos e sinais. Há um elo que deve ser bem trabalhado, que une a liturgia e a responsabilidade missionaria e fraterna dos cristãos. Seria bom também refletir sobre as palavras que ouvimos no final de cada missa: “Vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe.” Ou seja: o encontro com Jesus não termina no final da missa, não nos despedimos deixando-o isolado no sacrário. Se o recebemos, Ele vai estar e se comunicar conosco em todos os lugares e situações. Vale a pena refletir sobre essa presença amiga, orientadora, salvadora, que vai fazer de nós pessoas melhores.
Por Therezinha Motta Lima da Cruz, via Catequese Hoje
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