A celebração do nascimento de Jesus Cristo abre o Tempo do Natal e se estende por oito dias, durante a Oitava do Natal. Assim, a solenidade continua a ser celebrada, como um mesmo dia, entre os dias 25 de dezembro e 1º de janeiro.
“A oitava nos convida para vivermos o nascimento de Jesus em nosso coração e em nossa vida. Essa vivência acontece pelo reconhecimento do ‘Menino de Belém’ como nosso Salvador; pela participação nas celebrações natalinas; pela atitude de serviço e pelo amor fraterno. Cada um poderá descobrir como Cristo vai nascer em sua vida e na sua comunidade”, explica o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta.
Nesses oito dias, a Liturgia da Igreja contém celebrações de quatro festas e uma solenidade. “Cada uma dessas celebrações exprime um aspecto do testemunho do mistério da encarnação”, explica o arcebispo de Londrina (PR), dom Geremias Steinmetz.
“O mistério da encarnação do verbo de Deus (tornar-se carne) é aquele no qual se reconhece que o Filho de Deus se fez homem no seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo”, reforça dom Geremias.
Além da solenidade do Natal, há durante a Oitava de Natal a solenidade de Maria, Mãe de Deus, no dia 1º de janeiro. Já as festas da Oitava de Natal são a de santo Estevão, são João Apóstolo e Evangelista, dos Santos Inocentes e da Sagrada Família.
“O tempo da Oitava de Natal é exatamente para conseguirmos olhar para a nossa realidade de hoje, onde efetivamente vai acontecendo grande o mistério da encarnação”, afirma dom Geremias, que também aponta para o martírio de Estevão, João e os Santos Inocentes, onde acontece o mistério da encarnação.
O martírio da realidade atual, que ocorre no dia-a-dia por causa do testemunho que as pessoas dão, é muito importante, reflete o bispo:
“E esse martírio a gente encontra em muitas mães que veem seus filhos mortos, seus filhos assassinados, em muitas famílias que veem os seus perdidos no mundo das drogas; ou nas pessoas que sofrem especialmente a questão da doença, que vem os seus queridos não sendo bem atendidos, morrendo por causa de doenças que poderiam ser curadas; veem o sofrimento dos trabalhadores, dos sem-teto, sem trabalho. São muitos os martírios que acontecem no dia de hoje e que vão manifestando como continua ocorrendo a encarnação do verbo na vida das pessoas, especialmente nos seus sofrimentos”.
Estevão foi o primeiro mártir de Cristo e um dos sete que os apóstolos escolheram para o serviço à comunidade, porque era homem cheio de fé e do Espírito Santo. Nele realizou-se de modo exemplar a figura do mártir imitador de Cristo. Ele contemplou a glória do ressuscitado, proclamou a sua atividade, confiou-lhe o seu espírito, perdoou seus assassinos. E, inclusive, uma curiosidade: Saulo, testemunha do seu apedrejamento, recolhe a sua herança espiritual tornando-se apóstolo das nações.
Filho de Zebedeu (Mc 1, 20), irmão de Tiago Maior, (Lc 5, 10), discípulo de João Batista (Jo 1, 35-41), foi um dos primeiros a seguir Jesus, foi o discípulo predileto que, na última ceia, colocou a cabeça no peito de Jesus (Jo 13). Também testemunha da transfiguração e da agonia do Senhor, estava presente aos pés da cruz, onde Jesus confiou-lhe a mãe. Na primeira carta, ápice de toda a teologia sapiencial, nos dá a mais alta definição da divindade: “Deus é amor”.
Depois, exilado na Ilha de Patmos, o Espírito tomou conta dele no dia do Senhor e teve visões que descreveu no Apocalipse, último livro do novo testamento. A liturgia sublinha a revelação da misteriosa profundidade do verbo e a inteligência penetrante da Palavra, que caracterizam os textos inspirados do apóstolo.
Eles deram testemunho de Cristo não com palavras, mas com o sangue. Lembram-nos que o martírio é dom gratuito do Senhor. As vítimas imoladas pela ferocidade de Herodes pertencem, junto com Santo Estevam e João Evangelista ao cortejo do Rei Messiânico e recordam a eminente dignidade das crianças na Igreja.
Esta festa recorda que o mistério da encarnação é um mistério de partilha. O Filho de Deus veio partilhar em tudo, exceto do pecado, na nossa condição humana, e veio para fazer parte da família humana, vivendo na obediência, no trabalho dentro de uma família concreta, embora única e irrepetível. Emergem, porém, nessa família os valores e as virtudes que devem caracterizar qualquer família cristã. E assim, com certeza, todos os textos bíblicos desse período trazem então características muito bonitas que devem ser, acima de tudo, cultivadas pelas famílias. Os textos evangélicos também apresentam os principais momentos da família de Nazaré: a fuga para o Egito, a apresentação do menino Jesus no templo, Jesus com 12 anos no tempo e, acima de tudo, a solenidade de Maria Santíssima, mãe de Deus.
Temos ainda para completar e espiritualidade desse período da Oitava do Natal, a festa da Virgem Maria Mãe de Deus. A partir do Concílio de Éfeso o culto prestado pelo povo de Deus prestado a Maria cresceu admiravelmente em amor, em oração e em imitação. Todos a veneram como a Mãe de Deus. A maternidade divina, de fato, está na origem de todo o privilégio de Maria. Essa dignidade é única. A virgem concebeu e deu a luz ao verbo de Deus segundo a carne e por isso pode ser chamada verdadeiramente Mãe de Deus. Ela não é apenas mãe do corpo do seu filho, mas é, a pleno título, a mãe do seu filho, mãe desse filho que é Deus. O essencial dessa maternidade é a relação pessoal com Deus que encontramos em Maria num nível único de profundidade. Certamente permanece uma relação infinitamente distante das relações substanciais divinas encontradas nas pessoas da Santíssima Trindade e menos profunda que a relação da humanidade de Jesus com o Verbo que a assume.
Comments0