A Santa Mãe Igreja nos pede para olharmos para cima, para a Igreja que já está na pátria celeste, para os que morreram na amizade com Cristo. Talvez, você fique com dúvidas sobre a solenidade de todos os santos, e nunca quis perguntar a ninguém do que se trata este dia litúrgico. Desejo que, através deste pequeno artigo, suas dúvidas sejam sanadas e seu coração professe uma fé ainda mais esclarecida e madura. Pois, infelizmente, sabemos que muitos abandonam a barca de Pedro, na qual Jesus quis estar: “Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem” (Lc 5,1-11). Muitos se afastam da fé por falta de formação e acabam cometendo erros, deformidades na fé de outros irmãos etc. Daí a queixa de Deus aos Seus sacerdotes ainda no Antigo Testamento: “O meu povo se perde por falta de conhecimento” (Os 4,6).
Os santos não são uma exígua casta de eleitos, mas uma multidão inumerável, para a qual a liturgia de hoje nos exorta a levantar o olhar. Em tal multidão não estão somente os santos oficialmente reconhecidos, mas os batizados de todas as épocas e nações, que procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade divina. De uma grande parte deles não conhecemos os rostos nem sequer os nomes, mas, com os olhos da fé, vemo-los resplandecer como astros repletos de glória no firmamento de Deus. (BENTO XVI).
Quando nós, Igreja Católica Apostólica Romana, festejamos a vida dos santos, homens e mulheres unidos a Deus, em grau heriico de virtudes, nós estamos dizendo ao mundo que a Esposa de Cristo, sua Igreja imaculada, é a mãe dos santos! Ela é a imagem da cidade de Deus (Civita Dei – S. Agostinho de Hipona)! Veja o que temos na primeira leitura de hoje do Livro do Apocalipse de São João; Deus revelou ao Seu discípulo amado que era uma “uma multidão enorme, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap. 7,9).
Bento XVI (idem) coloca luzes para entendermos esta palavra. Essa multidão compreende os santos do Antigo Testamento a partir do Justo Abel e do fiel Patriarca Abraão, os do Novo Testamento, os numerosos mártires do início do cristianismo e também os beatos e os santos dos séculos seguintes, até as testemunhas de Cristo desta nossa época. Todos eles são irmanados pela vontade de encarnar o Evangelho na sua existência sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus, que é o Espírito Santo.
Eis a pergunta que São Bernardo de Claraval (1090-1153) respondeu numa homilia famosa. Ele, a quem Pio XII chamou de “o doutor melífluo”, que tem a doçura do mel. O Papa, na ocasião, disse ainda: “Último dos padres, mas certamente não inferior aos primeiros”(Mabillon, Bernardi Opera, Praef. generalis, n. 23; PL 182, 26).
É, inclusive, a resposta que o Salmo nos oferece: “Os nossos santos não têm necessidade das nossas honras, e nada lhes advém do nosso culto. Por minha vez, devo confessar que, quando penso nos santos, sinto-me arder de grandes desejos” (Disc. 2; Opera Omnia Cisterc. 5, 364ss.). Eis, portanto, o significado da solenidade: contemplando o exemplo luminoso dos santos, despertando em nós o grande desejo de ser como os santos: felizes por viver próximos de Deus, na sua luz, na grande família dos amigos de Deus. Ser santo significa viver na intimidade com Deus, viver na sua família. Esta é a vocação de todos nós, reiterada com vigor pelo Concílio Vaticano II, e hoje proposta de novo solenemente a nossa atenção (ibid.).
Antes de tudo, é preciso compreender que para ser um santo não é necessário viver ações extraordinárias nem possuir carismas excepcionais. É preciso, sobretudo, ouvir Jesus e, depois, segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. “Se alguém me serve, Ele admoesta-nos que me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há de honrá-lo” (Jo 12,26).
Dessa forma, vamos morrendo para nós mesmos, nosso egoísmo vai morrendo e o nosso interior vai florescendo. Desabrochar para a vida espiritual é, de qualquer maneira, trazer a morte para as obras da carne.
“Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda lei se encerra num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Mas se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros. Digo pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.
Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito. Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós”. (Gal 5,13,26).
É um processo simples, deixar algumas coisas e abraçar outras. Mas é muito mais. Nós somos feitos para a eternidade, quando nos aproximamos mais de Deus, mais e mais, nosso coração gozará de uma felicidade que não se encontra nesta terra. É como que nosso coração deixa de ser fragmentado e, torna-se, maciço, integral. O maior dos problemas que enfrentamos é justamente este, querermos encontrar o caminho da felicidade a qualquer custo, mas nosso interior está um caos. É claro que não podemos dispensar os serviços de um bom psicólogo/psiquiatra em alguns casos. Entretanto sabemos que se fizéssemos nossa parte, de levar uma vida digna de um cristão católico, muitas coisas iriam se resolvendo com o tempo. Repito, a medicina foi dada por Deus (cf. Eclo. 38), portanto nos ajuda muito a equilibrar nosso biológico, fisiológico, psíquico.
Nossa geração está se perdendo nesses pontos. Porém, como disse acima, é a partir dessa busca por viver uma vida consciente e integral que podemos evoluir humanamente (virtudes cardeais/humanas: prudência, fortaleza, justiça e temperança). Por consequência, nós abriremos a Fé, Esperança e Caridade; virtudes teologais que foram infundidas no momento no nosso Batismo. Mas estão como embrionárias em nós. Portanto, cabe a cada um que está lendo este artigo, a todos, viver uma vida que tenderá à santidade. E Deus nos dará a Graça necessária para isso! Porque, o seu desígnio é:
As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um. Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade. Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade. Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim. (João 10, 27-30; 17, 16-23).
O Papa bávaro, Bento XVI, acrescenta que a experiência da Igreja demonstra que cada forma de santidade, embora siga diferentes percursos, passa sempre pelo caminho da cruz, pelo caminho da renúncia a si mesmo. As biografias dos santos descrevem homens e mulheres que, dóceis aos desígnios divinos, enfrentaram por vezes provações e sofrimentos indescritíveis, perseguições e o martírio. Perseveraram no seu compromisso, “vêm da grande tribulação lê-se no Apocalipse, lavaram as suas túnicas e branquearam-nas no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14).
Os seus nomes estão inscritos no livro da Vida (cf. Ap 20, 12); a sua morada eterna é o Paraíso. O exemplo dos santos constitui para nós um encorajamento a seguir os mesmos passos, a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus, porque a única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é o fato de viver longe de Deus. A santidade exige um esforço constante, mas é possível para todos porque, mais do que uma obra do homem, é sobretudo um dom de Deus, três vezes Santo (cf. Is 6,3).
Na segunda Leitura, o Apóstolo João observa: “Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos!” (1 Jo 3,1). Portanto, é Deus que nos amou primeiro e, em Jesus, nos tornou seus filhos adoptivos. Na nossa vida tudo é dom do seu amor: como permanecer indiferente diante de um mistério tão grande? Como deixar de responder ao amor do Pai celestial, com uma vida de filhos reconhecidos? Em Cristo, entregou-se inteiramente a nós e chama-nos a um profundo relacionamento pessoal com Ele.
Portanto, quanto mais imitarmos Jesus e permanecermos unidos a Ele, tanto mais entraremos no mistério da santidade divina. Descobrimos que somos amados por Ele de modo infinito, e isto impele-nos, por nossa vez, a amar os irmãos. O amar implica sempre um ato de renúncia a si mesmo, o “perder-se a si próprio”, e é precisamente assim que nos torna felizes.
Que fique claro que este caminho é próprio da operação da Graça de Deus em nós! Juntamente com Ele, o impossível torna-se possível e até um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha (cf. Mc 10,25); com a sua ajuda, somente com a sua ajuda, podemos tornar-nos perfeitos como é perfeito o Pai celeste (cf. Mt 5,48).
Quando você olhar, em contemplação e concentração, a elevação das Sagradas Espécies do Corpo e do Sangue de Cristo, em todas as Santas Missas é preciso que você compreenda. Espiritualmente, naquele exato momento, unidos a nós, a Igreja triunfante se une à Igreja militante (nós, neste mundo).
Eles adoram conosco, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo; de fato, se você vive um processo natural de crescer em santidade, em pouco tempo você se aperfeiçoará mirando sempre os exemplos de Cristo. O Amor atrai os amantes e os amantes desejam estar com o Amado. Até o momento, depois da nossa morte, viveremos e gozaremos dos méritos de intimidade que conseguimos – com Graça -, nesta vida peregrina. Gozaremos, junto a toda a Igreja, de uma felicidade que não se acaba!
Aqui nesta terra, as festas acabam! Tem hora para começar e terminar. No Céu, não existe Tempo! A festa é eterna! Vale a pena buscar a santidade! Vale a pena progredir nas Virtudes, assemelhar-se às bem-aventuranças! Vale a pena “escolher a vida” (Deut. 30,19), Jesus Cristo! Ele é nossa felicidade!
FONTE: Canção Nova
Comments0