Era agosto. O dia amanhecera frio e o vento, qual orquestra, assoviava uma canção, balançando as folhas das árvores. Abri os olhos e lembrei-me de uma frase muito popular em minha região: “Quando venta demais é porque morreu um padre”. Era o primeiro domingo do mês, Dia do Padre, e eu, graças a Deus, estava vivo! Depois das orações pessoais e de um café feito por minhas mãos, saí de casa para celebrar a primeira missa da manhã.
Ao chegar à capela Nossa Senhora do Rosário, acolhi o carinho dos paroquianos que, abrindo um sorriso, abraçavam-me, cumprimentando-me pela data especial. A celebração estava festiva. As pessoas rezavam com fervor, cantavam, silenciavam o coração, atentas à Palavra de Deus. Após a proclamação do Evangelho, iniciei a homilia com as palavras de Jesus, naquele domingo: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Falei da vocação presbiteral, do meu chamado, das alegrias e dos desafios de ser pastor de uma comunidade, de conduzir as ovelhas ao coração de Jesus, de ir ao encontro das que estão afastadas, perdidas e feridas na estrada da vida. Disse, ainda, que todos precisavam rezar pelas vocações e incentivar as crianças, os adolescentes e jovens a ouvir a voz do Mestre, pois a messe era grande e os operários, poucos.
Quando finalizava a reflexão, observei um menino vindo ao meu encontro, pelo corredor central. Todos fixaram os olhares nele. Chamei-o para perto de mim, passei a mão na sua cabeça, abaixei-me e perguntei-lhe: “Você, quando crescer, gostaria de ser padre?”. O menino fez cara de poucos amigos, franziu a testa e, assustado, respondeu: “Eu? Padre? Não!!! Deus me livre!”. O povo caiu numa gargalhada incontrolável. E eu também! Abracei o menino com ternura e abençoei-o. Então, ele saiu correndo, indo ao encontro de sua família, sentada num dos últimos bancos da igreja.
Todos os batizados, membros do povo de Deus, são chamados a assumir um compromisso com Jesus Cristo, não só com palavras, mas com a vida, sobretudo por meio de gestos concretos de amor. No testemunho diário da fé deve-se contagiar as pessoas, despertando nelas o desejo de conhecer Jesus. Aquele menino, na sua inocência, respondeu, espontaneamente, “Deus me livre!”, à pergunta que lhe fiz. Que todos possam responder “Eis-me aqui, Senhor”, quando Jesus chamar para um serviço na comunidade paroquial na qual participam.
Que as palavras do Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial das Vocações, celebrado em 17 de abril deste ano, toquem seus corações, motivando-os a dizer “sim” àquilo que Jesus preparou para cada um: “Como gostaria que todos os batizados pudessem, no decurso do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, experimentar a alegria de pertencer à Igreja! E pudessem redescobrir que a vocação cristã, bem como as vocações particulares, nascem no meio do povo de Deus e são dons da misericórdia divina! A Igreja é a casa da misericórdia e também a terra onde a vocação germina, cresce e dá fruto”.
Por Pe. Agnaldo José
Texto adaptado da edição de agosto. Para ler os conteúdos na íntegra, clique aqui e assine a Revista Ave Maria.
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