Nesta entrevista, conversaremos com Frei Lucas de Melo Pires, O.Carm, que será ordenado Diácono no próximo dia 20 de agosto.
Já estamos nos aproximando de sua ordenação diaconal. Como está o coração neste momento?
Está batendo forte. Estou para receber um sacramento que me conferirá um serviço, uma missão para toda a vida. O Sacramento da Ordem, junto do Batismo e do Crisma, imprime caráter, ou seja, é recebido uma vez na vida, mas o seu efeito perdura até a morte. Enquanto eu viver, sempre serei diácono. Trata-se de um projeto de vida que estou para assumir que me trará muitas responsabilidades.
Conte-nos como estão os preparativos em sua paróquia de origem? Como fica o coração de quem te viu crescer?
As pessoas que me viram crescer dizem que estão felizes e orgulhosas de mim. Quando me veem, começam a recordar os tempos em que eu era vocacionado e trabalhava em minha paróquia como membro da Infância Missionária, coroinha, da Cáritas e da Pastoral Carcerária e me parabenizam pela fidelidade ao chamado de Deus.
Conte um pouco sobre as suas lembranças de criança nas Santas Missas:
Eu sempre achei as igrejas lugares de grande beleza. Ver a cruz ao centro, no alto da parede, fascinava-me. Os espaços dentro das igrejas católicas não são vazios, frios e racionais, mas são uma expressão da linguagem litúrgica da Igreja que é simbólica, viva e atual. Quando lá entramos imediatamente nos recordamos do céu, da beleza que é Deus. Eu lembro que esses elementos me atraíam e me faziam ter vontade de participar das missas com a minha mãe que, aliás, sempre foi um grande exemplo e incentivo para mim.
Quando surgiu o desejo de ser religioso? Algum fato específico o motivou para o caminho vocacional?
O desejo de ser carmelita surgiu quando eu li “História de uma alma”, de Santa Teresinha do Menino Jesus. O modo como ela se referia ao Carmelo me fez um apaixonado deste carisma. Santa Teresinha ajudou-me, com o seu testemunho, a encontrar-me vocacionalmente.
Antes de ingressar no Carmelo, eu era seminarista diocesano. Foram dois anos de grandes descobertas e aprendizado. Muitas pessoas me perguntam se a vida religiosa é melhor do que a vida na diocese. Eu respondo que o melhor lugar é aonde Deus chama. Se eu tenho vocação diocesana, então o melhor lugar é a diocese. Se eu tenho vocação religiosa, então o meu lugar é na vida religiosa.
O Espírito Santo encheu a Igreja de carismas, portanto, nela existe lugar para todos.
Como foi esse momento de decisão em seu coração? E sua família, quando soube que iria trilhar este caminho, qual foi a reação?
A decisão de entrar no convento foi o resultado de uma longa reflexão pessoal. Quando fui convencido, através de inúmeros momentos de oração, de que valia a pena largar tudo para segui-lo, então eu dei o meu sim. Não foi fácil. Graças a Deus os meus pais sempre me apoiaram.
Conte-nos um pouco sobre o lema escolhido para sua ordenação:
“Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10,45)
A palavra “diácono” tem a sua origem no grego “διακονός” que significa “servidor”. No livro dos Atos dos Apóstolos, precisamente no capítulo seis, temos o relato das viúvas helenísticas que eram esquecidas no serviço das mesas, ou seja, na distribuição dos alimentos naquela determinada comunidade cristã da época. Os apóstolos, que até então serviam as mesas, perceberam que não eram capazes de desempenhar de forma satisfatória tal função porque deveriam dedicar-se principalmente ao ministério (lat. ministerium = serviço) da palavra e da oração.
Escolhem, portanto, sete homens de boa fama para servir-lhes de colaboradores neste serviço. Daí surge o ministério do diaconato.
Da sua origem surge a identidade do diácono: ser o servidor dos mais vulneráveis da comunidade cristã e cooperadores do ministério apostólico, por isso o diácono é também considerado “auxiliar” dos bispos, os sucessores dos apóstolos. Poderíamos, portanto, resumir o ser diácono na palavra “servidor”.
Ser diácono é ser o Cristo servidor da comunidade. O lema por mim escolhido me faz lembrar que o meu Senhor a quem eu sirvo vem antes me servir. Ele é o verdadeiro servidor a quem eu sou chamado a imitar.
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