SANTO TOMÁS DE AQUINO
DOUTOR ANGÉLICO
28 DE JANEIRO
(1226-1274)
“Deus onipotente e eterno, eis que me aproximo do sacramento do teu Filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo: me aproximo como um doente do médico, que lhe devolve a vida, como o pecador à fonte da misericórdia, como o cego à luz do esplendor eterno, como o pobre e o necessitado ao Senhor do céu e da terra1.”
Com esta oração Tomás de Aquino iniciava sua preparação à celebração eucarística, profundamente consciente do próprio nada e totalmente abandonado ao amor do Pai. Talvez sua grandeza fosse proporcional à sua humildade.
Nasceu no castelo de Roccasecca, próximo de Caserta, no sul da Itália, em 1225 ou 1226, da nobre família dos Aquinos. O pai, Landolfo, era de origem longobarda e a mãe, Teodora, era uma napolitana de origem normanda. Teve outros três irmãos e cinco irmãs, sem contar os três nascidos de um matrimônio anterior do pai.
Sendo Tomás o filho mais novo dos homens, os pais pensaram no seu futuro oferecendo-o como oblato aos 5 anos à abadia de Montecassino. A oblatura – como se costumava chamar – não pressupunha que o rapaz, quando atingisse a maturidade, tivesse necessariamente de fazer os votos religiosos; era apenas uma preparação que tornava os candidatos idôneos a tal escolha. Tomás se deu muito bem no mosteiro e sempre manteve ótimo relacionamento com seus mestres. O abade o estimava muitíssimo, seja pelos dons intelectuais, seja pelo amor que demonstrava à disciplina monástica, embora Tomás, já crescido, não pensasse em ser monge.
Foi em Nápoles, Itália, onde aconteceu um fato muito importante. Tomás conheceu os frades pregadores do Convento de São Domingos, talvez por tê-los escutado nas pregações, ou por terem sido seus companheiros de estudos, e ficou fascinado pelo estilo de sua vida. Ele conhecia a vida do mundo e da igreja. Nos anos que passou em Montecassino descobriu a beleza do cristianismo, mas viu também como os monges sempre estavam envolvidos em interesses mundanos por causa da riqueza que possuíam. Na família, havia experimentado o amor verdadeiro dos pais e dos irmãos, mas havia também visto tantas tramas políticas para ele incompreensíveis. Sobretudo, não aceitava que homens da Igreja se envolvessem nos afazeres temporais e ficassem competindo para obter por todos os meios cargos economicamente rentáveis.
Àquela situação nada evangélica Tomás quis dar uma resposta bem concreta com a sua vida e resolveu se tornar mendicante dominicano. Tinha aproximadamente 20 anos e a sua decisão deixou os parentes boquiabertos, sobretudo a mãe, viúva, que contava com ele para levar adiante a gestão dos negócios da família. Usufruindo, de fato, dos favores do imperador a quem seguiam seus filhos, tinha a possibilidade de torná-lo rapidamente abade de Montecassino, segundo um antigo desejo paterno.
Quando a castelã de Roccasecca soube que Tomás estava viajando para Paris, pediu aos filhos para trazê-lo de volta para casa, usando, se necessário, também a força. Eles obtiveram uma escolta armada da parte do imperador, que se encontrava na Toscana, para combater as cidades fiéis ao Papa, prenderam-no e enviaram-no de volta, fazendo uma parada no Castelo de São João, que lhes pertencia.
A paciência tem seus limites…
Na cela onde Tomás estava preso foi levada à noite uma belíssima jovem com a desculpa de servi-lo, mas na realidade era para tentar seduzi-lo. Tomás, que normalmente era muito paciente, depois de um dia cheio de aventuras e agitado perdeu a paciência e com um tição aceso ameaçou-a, obrigando-a a fugir. O acontecimento pode parecer lendário, mas, além de seus biógrafos daquele tempo, também os historiadores modernos consideram-no autêntico.
O amor de Tomás pela castidade, de fato, era proverbial; não é por nada que ele é chamado doutor angélico. Não se trata de uma castidade miraculosa, mas de um dom conquistado com luta, no dia a dia; como testemunha, esta oração escrita por ele: “Ó, meu bom Jesus, sei bem que todo dom perfeito, mais do que qualquer outro, o da castidade, depende da poderosa influência da vossa providência, e que sem vós o homem não pode fazer nada. Peço-vos que me protejais com a vossa graça a castidade e a pureza da minha alma e do meu corpo. E se receber contra a minha vontade qualquer impressão sensual, que possa manchar a castidade, e a pureza, eu vos peço que a retireis de mim, vós que sois o supremo senhor de todos os sentidos, para que eu possa com o coração imaculado avançar no vosso amor e serviço, oferecendo-me casto, todos os dias de minha vida, sobre o altar da vossa divindade2”.
No dia seguinte foi conduzido a Roccasecca e entregue à mãe, que o amava com muita ternura, mesmo que não conseguisse aceitar que um de seus filhos se tornasse um mendicante. A mãe nada mais podia fazer além de aceitar a decisão do filho. Começou por permitir aos dominicanos de Nápoles que visitassem o filho e depois de um ano deixou-o partir com sua bênção. Nesse meio de tempo, a nobre castelã normanda viu caírem por terra os seus planos, pois o imperador, depois de acontecimentos desagradáveis, já não tinha mais a mesma força. Naquela confusão de lutas entre o Papa e o imperador, entre poder temporal e espiritual, Tomás expressou com clareza seu pensamento num escrito3.
Assim o resume o biógrafo James A. Weisheipl: “Tomás afirma que o Papa, em virtude de seu ofício canônico, é o chefe espiritual da Igreja e nenhum outro; todo atributo político ou mundano que se sobreponha a esta autoridade essencialmente espiritual é um elemento acidental, cuja presença ou ausência não modifica de modo algum a natureza espiritual intrínseca na Igreja4”.
(…) Tomás não foi só um grande pensador, mas também um homem de oração. Por isso foi chamado de “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”. A influência do seu pensamento sobre a Igreja do Ocidente foi determinante e durante séculos profundamente benéfica.
Texto adaptado da edição de janeiro da Revista Ave Maria. Para ler os conteúdos na íntegra, clique aqui e assine.
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