“Se não fizerdes penitência, todos perecereis.” (Lc 13,3)
Qual é o sentido da penitência na Quaresma? Certamente não é para nos punir física ou espiritualmente, impedindo-nos de ter ou fazer algo de que gostamos.
A Igreja nos ensina que “aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado; e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (Catecismo da Igreja Católica, n° 1.488).
Olhando para Jesus, desfigurado e destruído na cruz, é que entendemos o horror que é o pecado. Por isso Jesus veio a nós como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). A nossa luta é contra o pecado e tudo que a Igreja nos oferece é para nos livrar dos pecados e nos levar à santidade.
É nesse sentido que entra a penitência da Quaresma. Não é fácil vencer as tentações do demônio, nossos pensamentos desordenados e estranhos e as paixões desordenadas que nos atormentam. Então, assim como Jesus jejuou e orou quarenta dias no deserto para poder vencer, humanamente, as tentações do inimigo, nós, também, precisamos disso. Então, a Igreja nos propõe esses quarenta dias de penitência e oração, de resistência contra o pecado. O jejum, a esmola e a oração, que a Igreja nos recomenda nesse tempo como “remédios contra o pecado”, não são para nos fazer sofrer, mas para fortalecer o nosso espírito no combate espiritual contra o pecado e o demônio.
Jesus nos alertou: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3). O que Deus quer é a nossa transformação, nossa santificação, não o nosso sofrimento. Então, a mortificação do corpo deve ser feita com alegria espiritual. São Paulo nos oferece uma indicação precisa: “Nós vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça”. Porque Ele diz: “No tempo favorável, eu te ouvi; no dia da salvação, vim em teu auxílio’’. Este é o “tempo favorável”, este é “o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).
A Quaresma é um convite à conversão. Um alerta contra a superficialidade de nossa maneira de viver; mudar de direção no caminho da vida. Conversão é ir contracorrente, contra a vida superficial, incoerente e ilusória que frequentemente nos arrasta, domina e nos torna escravos do mal, ou pelo menos prisioneiros dele. A conversão é uma decisão de fé. A conversão é o “sim” total de quem entrega sua vida a Jesus pela vivência do Evangelho. “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1,15)
A mortificação e o jejum não são um fim, mas um meio de dominar as fraquezas da carne e se aproximar de Deus.
Qual a mortificação que eu preciso fazer? É aquela que abate o meu pecado. Se eu sou soberbo, então minha penitência deve ser o exercício de humildade. Se meu pecado é o apego aos bens materiais e ao dinheiro, então, eu preciso exercitar, muito, a boa esmola, o desprendimento do mundo e das criaturas. Se meu mal é a luxúria, a impureza, então, vou exercitar a castidade: nos olhos, nos ouvidos, nas leituras, nos pensamentos, nos atos. Se sou irado, vou conquistar a mansidão; se sou invejoso, vou buscar a bondade; se sou preguiçoso, vou trabalhar melhor e ser diligente em servir aos outros sem interesses.
Prof. Felipe Aquino
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