O maior desafio de qualquer um que fala em público é prender a atenção das pessoas por muito tempo. Agora, você já imaginou quando esse público é composto por crianças? O desafio é sem dúvida muito maior.
Desde o início do meu ministério sacerdotal sempre tive um apreço muito grande pelo trabalho com os pequeninos do Reino. Traduzir a mensagem do Evangelho para elas e ainda conseguir superar suas agitações é uma grande graça de Deus. Quem nunca ouviu uma criança chorando na Igreja e se incomodou? Na realidade, para alcançar o coração das crianças é necessário pensar como elas e, sobretudo, ter consciência de que o objetivo da Missa para elas é fazer com que se sintam parte da Igreja.
Para conseguir toda essa proeza não medi esforços, mudei a metodologia, pesquisei até encontrar um jeito que funcionasse com o meu público. Se o objetivo era que as crianças se sentissem Igreja, então tive que adaptar, quanto possível, a Missa para sua realidade. Como nem todas as crianças sabem ler, percebi que era importante evitar mudar os cantos da Missa, só assim todas iriam se recordar da letra e poder cantar. Dei preferência aos cânticos que tinham gestos, isso facilitou muito manter a atenção delas durante a celebração. Fiz com que as partes da Missa fossem entendidas por elas; a necessidade de pedir perdão, reconhecer-se pecador, agradecer e louvar a Deus por tudo o que Ele nos deu foram importantes para que elas não ficassem alienadas durante a celebração. Mas, só isso não bastava, o momento mais difícil era ainda prender a atenção delas durante a pregação, traduzir a mensagem do Evangelho. Foi aí que percebi que o modo mais fácil de fazê-las entender a mensagem era antes de tudo vencer a distância entre nós. Aprendi que trazer as crianças para a frente do presbitério, sentar, dialogar e fazê-las repetir alguns termos-chaves da liturgia do domingo facilitaria o processo de entendimento. Não foram poucas as vezes em que os pais chegavam à Missa me dizendo que o filho estava explicando para os coleguinhas o que aprendera na Igreja.
Após a homilia, todos voltam para os lugares e na preces ensinei-lhes a pedir as coisas para Jesus. Daí em diante, a Missa segue normal até o momento que considero mais importante durante o domingo. Você deve estar pensando no abraço da paz? Errou! A paz continua sendo um momento sóbrio para cumprimentar somente quem está ao nosso lado. Refiro-me ao abraço que dou em cada criança já fora da igreja depois que saio na procissão de saída. Esse abraço vale mais do que qualquer pregação, por melhor que seja. Dificilmente uma criança vai embora sem dar um abraço no padre. Isso gera vínculo, comunhão, pertença.
Ao longo destes cinco anos como pároco da Catedral de Palmas já não sou mais o Padre Eduardo, sou o Padre Dudu, o “meu padre”, como se referem as crianças a mim. Saber que muitas esperam o tempo que for para receber o abraço e quando viajam e participam de outra Missa falam categoricamente para seus pais “Esta não é a minha igreja, cadê o meu padre?” me faz sentir realizado no meu pastoreio. Vale lembrar que as crianças não vêem sozinhas à Missa, elas automaticamente trazem toda a família. Foi-se a época em que os pais traziam os filhos para a igreja, agora estamos na época em que os filhos trazem os pais. Vamos investir nas crianças. Com um olhar de criança seremos capazes de evangelizar toda a família!
Artigo escrito pelo Pe. Eduardo Zanom, extraído da seção “Catequese” da Revista Ave Maria, na edição de abril de 2018.
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