A arteterapia como veículo para o encontro com o divino
Sócrates, com sua frase “Conhece-te a ti mesmo”, já dava importância ao autoconhecimento, pois assim conseguiríamos estar à frente de nós mesmos, com o que é de mais sagrado. Outra referência é deus Mahadeva, na lenda hindu, que, ao usar de sua sabedoria, ajudando Brahma, deixou bem claro que o único caminho para o indivíduo resgatar sua divindade seria por meio de jñana (conhecimento). O que os homens não sabiam era que o poder divino havia sido colocado dentro deles mesmos.
Hoje, como terapeuta, percebo que muitos continuam descrentes. Reconhecer o sagrado nos motiva e nos engrena na grande roda da vida.
Conforme vivemos conscientes, vamos percebendo o movimento do nosso ciclo e dessa forma ficamos diante do tempo. Logo, pergunto: em que tempo estamos vivendo? Viver no presente, desfrutar e ser feliz no aqui e agora é a maior busca que temos. Nada faz sentido se as coisas não são pensadas, sentidas ou agidas no hoje. Nada se constrói ou mesmo permanece se não teve legitimidade no presente.
Mas, o que tem a ver com tudo isso a arteterapia? Ela é um canal, um veículo para o indivíduo se compreender. O processo arteterapêutico é desenvolvido dependendo da demanda do cliente e o arteterapeuta utilizará o recurso artístico que melhor se encaixar na situação (pintura, canto, expressão corporal, modelagem etc.), a fim de facilitar, de forma acolhedora, a expressão; tudo é visto como ferramenta para a expressão, o céu é o limite!
As ferramentas vêm facilitar o caminho dos conteúdos internos, pois há o diálogo entre o inconsciente e o consciente; o desconhecido ganha luz, avivando o equilíbrio psíquico e favorecendo o autoconhecimento, a confiança, o amor próprio, o senso crítico e o bem-estar.
Outro ponto interessante é a palavra “cliente”, que foi usada por Nise da Silveira, precursora da expressão artística no processo terapêutico. Ela dizia que os terapeutas é que deveriam ser pacientes, pois quem está na nossa frente é o nosso cliente, que vem buscar os nossos serviços. Assim, com paciência, conseguiríamos zelar, respeitar, da melhor forma possível, dando autonomia e responsabilidade ao cliente ao valorizar o que o fez buscar a terapia e a si mesmo.
O auxílio do arteterapeuta está diretamente ligado ao querer do próprio indivíduo.Os atos de sentir, pensar e agir dependem de cada um, no rumo ao equilíbrio. Estar em equilíbrio é compreender o sagrado, seu poder divino, é ter consciência e respeitar sua própria natureza.
Olhar para si tem sido cada vez mais uma conquista para muitos. O processo terapêutico vem ganhando território por ser um recurso de autoconhecimento para todos os envolvidos. Que a arteterapia, cada vez mais, seja veículo para o amor, a generosidade, o respeito e a vontade. Que o autoconhecimento seja a porta para o desconhecido ser luz, movendo assim com muita profundidade, sensibilidade e reflexão os desejos da alma.
Artigo escrito por Darleny Goes, extraído da seção “Saúde” da Revista Ave Maria, na edição de maio de 2018.
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