Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
Cleptomania é um distúrbio mental que precisa de tratamento. E uma compulsão de roubar e diferencia-se do roubo intencional, que as pessoas fazem em geral por falta de caráter e às vezes por necessidade. Dizem que rico é cleptomaníaco e pobre é ladrão.
É evidente que o homem que obteve sua riqueza no roubo é ladrão. Não é cleptomaníaco. Ele se apoderou do que pertence aos outros ou ao governo (patrimônio dos cidadãos, que pagam impostos) através de manobras como comissões ilícitas ou desvio de verbas, por exemplo.
Quem se apossa de souvenirs como toalhas de hotel, copos, cinzeiros, guardanapos de restaurantes etc. também não é cleptomaníaco. O que ele faz chama-se falta de educação e respeito, antes de se chamar roubo. As razões podem ser até “nobres”, como levar o copo do restaurante onde esteve com a namorada pela primeira vez. Mas o ato é errado do mesmo jeito, porque os fins não justificam os meios. Á pessoa está roubando de forma premeditada, mesmo que obedeça a um rompante de momento, pois tem capacidade de controlar-se.
Já o cleptomaníaco é incontrolável, como o guloso, o mentiroso, o neurótico, o alcoólatra, o drogado – que são aquelas pessoas em fase de repetir um mesmo comportamento mecanicamente, por imposição de seu inconsciente. O cleptomaníaco também pratica uma coisa errada, que é o roubo,, mas ele não consegue se controlar. Diferindo dos ladrões, ele muitas vezes não quer roubar e não admite o roubo.
Muita gente honesta não admite o roubo, mesmo que esteja passando necessidade. Essas pessoas cumprem um mandamento ético que garante a própria continuidade das sociedades civilizadas, que se baseiam em leis e direitos. O cleptomaníaco, como outras pessoas que sofrem de problemas mentais crônicos, tem uma instabilidade emocional básica – tanto que não sabe nem a hora do dia em que será dominado por uma compulsão de roubar (pequenos objetos, geralmente). Em geral ele sofre, tem vergonha, sente angustia e às vezes chega a entrar em pânico. Mas passa quieto os seus momentos de aperto e não procura tratamento, nem fala de seu problema com amigos ou parentes.
Hoje sabemos que a causa das neuroses e dos problemas do comportamento se origina na infância e em nossa carga genética. O nosso caráter é moldado até perto dos 7 anos de vida. E nós respondemos aos estímulos do meio ambiente de acordo com esses estímulos e com nossa maneira de lidar com eles. Estímulos negativos podem desencadear reações negativas. Mas podem também ser filtrados pelo nosso caráter.
Algumas pessoas filtram situações de medo, carência, solidão, angústia, abandono, desespero e saem delas inteiras e de bem com a vida. Outras pessoas não conseguem filtrar situações penosas e as armazenam. A pessoa mais forte passa por cima dos problemas e toca a vida para a frente. A mais fraca guarda tudo o que acontece com ela – e por isso vive com a cabeça cheia de caraminholas.
Muitas vezes as privações físicas e de amor e compreensão por que passa uma criança antes dos 7 anos determinam certas respostas neuróticas. E se tornam a base de uma cadeia de episódios que acontecem com a pessoa ao longo de sua vida – porque ela os procura mecanicamente, sem pensar. É o caso de alguém que sempre rouba sabonetes nos supermercados para dar uma resposta para a mãe, que o obrigou a dormir de calça de pijama molhada porque não conteve a urina quando tinha 5 anos.
O tratamento da cleptomania busca esses episódios e situações não resolvidos e ajuda a pessoa a filtrá-los. É a forma de curar esse distúrbio. A pessoa precisa buscar lá atrás, na sua infância e na sua família, os estímulos que ela não resolveu adequadamente. E com isso ela passa a entender o seu próprio comportamento, tornando-se capaz de mudá-lo.
Mas a maioria dos clepto-maníacos sempre acha que se curará sozinha. Não é verdade, porque a origem de seus problemas pode estar na infância, envolvendo mecanismos emocionais que dificilmente são traduzidos em palavras. Nesses casos, os amigos e a família de uma pessoa clepto-maníaca podem chegar a dizer: “Você está se fazendo mal e atrás disso tudo tem um porquê. Vamos identificar essa causa para que você domine a situação e seja mais feliz consigo e com os outros”.
Mas, sabendo um pouco mais sobre seu problema, muitos cleptomanía-cos são capazes de procurar ajuda por si próprios, consultando médicos e psicólogos. E a vida fica mais fácil para quem se conhece melhor.
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