Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
O comportamento defensivo se externa quando a pessoa, através de suas desconfianças, percebe perigo no grupo, desgastando assim suas energias numa autodefesa – que pode ser inútil, se o perigo não for real e não passar de uma “encucação” da pessoa. Nesta óptica, dividimos as pessoas em dois tipos. De um lado, temos as pessoas naturais, seguras, que enfrentam os desafios e são mais sinceras. Sabem moldar-se às necessidades, porque acreditam em si próprias. Não que deixem de sentir as injustiças, mas vão caminhando em meio a elas, vão caindo e se levantando, aprendendo, amadurecendo e trocando idéias. E dessa forma que se realiza a troca afetiva.
De outro lado, há pessoas inseguras ou medrosas, que nunca estão no seu natural. Colocam-se sempre na defensiva, preocupadas consigo mesmas, num esforço desmedido em saber como estão sendo vistas pêlos outros, como devem fazer para serem identificadas de forma mais favorável: como vencer, impressionar, manter-se impune ou, então, como reduzir ou evitar um ataque por antecipação.
As pessoas soltas, menos preocupadas com o seu mundinho, mostram sempre o que são. Se agradam, ótimo. Se não agradam, não se desesperam. O que não as impede de se questionarem sobre possíveis falhas em seu comportamento. Elas têm capacidade de reconhecer o próprio erro e voltar atrás, pela consciência profunda de seus limites humanos.
Mas há o reverso da medalha. Determinadas pessoas são sempre “as tais”. Como donas da verdade, não admitem nada que contrarie seu modo de pensar e ser. Querem que os outros ajam pela cabeça delas, ao mesmo tempo que usam a defesa para não serem atacadas. Só que a melhor atitude perante a vida é a sinceridade. Se alguém errou, por que não admitir o próprio erro? Se ninguém é perfeito, por que justificar-se o tempo todo ou abusar das justificativas para mostrar-se diferente do que na verdade é? Quem se justifica continuamente não tem fibra, responsabilidade, respeito pêlos outros. Desgasta de tal forma as desculpas, que ninguém mais acredita nelas.
O defensivo sempre pensa que os outros são bobos. Não quer dar o braço a torcer em determinadas circunstâncias, para não mostrar suas fraquezas. E, ao tentar enganar os outros, engana-se a si mesmo. Mas em pior situação está aquele que, além de colocar-se na defensiva, é agressivo. Externa, com esse procedimento, as frustrações, angústias e mágoas que carrega dentro de si. Esquece-se de que ninguém deve pagar pelo seu mau-humor. Essas pessoas costumam gritar primeiro para impressionar, tentando encobrir a falta de
regam em seu íntimo.
O esforço para ser verdadeiro sempre foi e é válido. Se todos parassem para refletir sobre a própria vida, descobririam as razões pelas quais andam tão agressivos, mau-humorados, chatos, fofoqueiros, “cutuquentos”, tão do lado errado. É só parar para pensar, e essas pessoas descobrirão as falhas dentro de si. Um bom parâmetro é este: se dez pessoas estão contra mim, impossível que só eu esteja certo. No momento em que ocorre essa constatação, é hora de fazer auto-análise e ver as razões disso.
Inúmeras pessoas queixam-se de que tudo lhes sai errado na vida. Deve haver uma causa para esse azar todo. Há coisas que não dão certo mesmo. Mas algumas saem erradas por culpa da própria pessoa. De quem quer que seja a culpa pelo fracasso, é importante que a pessoa malsucedida naquele momento não desconte seus infortúnios em cima de quem convive com ela, usando parentes e amigos como bodes expiatórios. O que ela deve fazer é manter a serenidade, ter paciência e ir consertando os desvios de rota que aconteceram.
No mundo dos defensivos, existem dois tipos de pessoas: a melosa e a agressiva. As duas assumem atitudes errôneas. A melosa apela para a chantagem emocional, fazendo-se de vítima quando deseja esconder-se atrás de uma desculpa. Agindo assim, pensa que impressiona ou comove seu interlocutor. Ledo engano. Ninguém é tão bobo a ponto de acreditar todos os dias em desculpas esfarrapadas. Enganar algumas vezes é até possível. Mas sempre, não.
Os que se colocam na defensiva através da agressividade não querem se sentir expostos (e por isso criam uma barreira de medo que afasta as pessoas) ou desejam impressionar de alguma forma aqueles que deles se aproximam. Esses ficarão sozinhos na vida. No começo, acharão bom, mas depois concluirão que convivência não é isolamento.
Há outra forma de agredir: a daqueles que ficam sempre “em cima do muro”, tentando levar vantagem e tirar partido dos dois lados. Esses são uns coitados. Têm um trabalho insano para se equilibrar entre duas posições e, no final, desagradam a todos e a si mesmos. Agradar a gregos e troianos é algo que ninguém nunca conseguiu.
Na vida há coisas boas e más, das quais gostamos ou não. Há sonhos frustrados, empenhos não gratificados. Essa é a condição do ser humano. Em meio a tantas vicissitudes e divergências, o que vale é a vontade, o querer. O modo de viver em sociedade deveria brotar dessa vontade de querer ser sempre sincero, legal, sem artifícios nem “armações”. Seria bem mais fácil viver.
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