Nas duas narrativas da infância de Jesus que aparecem nos evangelhos de Mateus e Lucas, um anjo se apresenta anunciando que a gravidez de Maria é obra do Espírito. Maria: “Respondeu-lhe o anjo: ‘O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra’” (Lc 1,35). A José o anjo diz: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). Este também comunica que o filho será chamado Jesus, porque, segundo Mateus, vai salvar o seu povo de seus pecados: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21).
Jesus era um nome comum naquele contexto. Em hebraico – Yeshua – significa “o Senhor salva”.
Na Bíblia, os nomes ganham fundamental importância, pois comunicam a essência, a missão da pessoa. O nome de Jesus, dado a Maria e a José pela revelação, revela sua central missão: “o Senhor salva”.
Mateus se apropria da profecia de Isaías a Acaz: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Is 7,14) e a aplica a Jesus, porque, para ele, Jesus é o cumprimento da profecia, é o Emanuel, Deus Conosco: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel” (Is 7, 14), que significa Deus conosco (cf. Mt 1,23). Em seu contexto original, essa profecia é uma palavra de encorajamento a Acaz, rei de Judá, do século VII a.C., para permanecer confiante diante da ameaça do rei de Damasco de invadir seu reino. Com receio do ataque e da perda do trono, Acaz age contrariamente às exortações de Isaías e pede auxílio ao rei da Assíria, Teglat-Falasar, que protegeu Judá dos invasores, porém, isso custou a independência de Judá, que passou a pagar tributos à Assíria.
Mais tarde, depois da morte de Teglat-Falasar, Oseias, que ocupava o trono, em aproximadamente 730 a.C., rebela-se contra o domínio assírio. Em 722 a.C., Samaria foi sitiada e tomada. Grande parte da população foi deportada para a Assíria, que repovoou a região, trazendo pessoas de outras nacionalidades que estavam sob seu domínio: da Babilônia, de Cuta, de Ava, de Emat e de Sefarvaim (cf. 2Rs 17,24), misturando-as, assim, à população local. Esses foram os alicerces do que mais adiante viria a ser chamado de nação dos samaritanos.
Mateus e Lucas enfatizam que Jesus foi concebido pela obra do Espírito, portanto, sem a intervenção de José, o que realça ser filho do Senhor Altíssimo (cf. Lc 1,31). Contudo, a linhagem de José é fundamental para compreender Jesus como o filho de Davi. Lucas destaca que José é da casa e da família de Davi (cf. Lc 2,4). Mateus exibe a genealogia de Jesus desde Abraão, passando por Davi e indo até José, o esposo de Maria. Por meio de José, Jesus congrega toda a história do povo de Israel. Para confirmar essa realidade, Jesus nasce em Belém, cidade de Davi: “Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi” (Lc 2,4).
Em Miqueias aparece a profecia que de Belém sairia aquele que governaria Israel. Todos aguardavam: “Mas tu, Belém-Éfrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel” (Mq 5,1).
Essas são as narrativas do Menino Jesus. Assim, cada leitor é chamado a reconhecer a história como sagrada, pois ela é guiada por um Deus sempre presente. Ele é o Deus Conosco. Você crê nisso?
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