No princípio de uma caminhada há sempre um sinal que pede para ser visto ali onde todo o homem vive e trabalha. Os Magos perscrutaram o céu, que para a Bíblia é a sede da divindade, e tiveram um sinal: uma estrela. Mas para começar o percurso da fé não basta perscrutar os sinais da presença do divino. Um sinal tem a função de suscitar o desejo, um caminho de busca, uma espera. É significativa a expressão usada por Edith Stein para descreve o seu caminho de fé: “Deus é a verdade. Quem busca a verdade, busca a Deus, conscientemente ou não”.
Um verdadeiro desejo suscita perguntas. Os Magos, por seu lado, encontram Jesus porque têm no coração fortes interrogações. Tal experiência do encontro com Jesus é, verdadeiramente, uma provocação para a pastoral: impõe-se a necessidade de não privilegiar uma catequese feita de certezas ou preocupada em oferecer respostas pré-fabricadas, mas sobretudo despertar no homem de hoje perguntas significativas sobre questões cruciais da humanidade. É o que sugere um bispo do centro de Itália numa carta pastoral: “Apresentar Cristo e o Evangelho em conexão com os problemas fundamentais da existência (vida-morte-pecado-mal; justiça-pobreza, esperança-desilusão, amor-ódio, relações interpessoais familiares, sociais, internacionais…), para evitar o desfasamento entre as perguntas da humanidade e as nossas respostas” (Mons. Lucio Maria Renna, O. Carm.).
A resposta, como nos ensina a experiência dos Magos, encontra-se na Bíblia. E não se trata somente de um conhecimento intelectual ou de um saber acerca do conteúdo das Escrituras, como no caso dos escribas, mas uma aproximação para ela guiada pelo desejo, pela pergunta. Para os Magos aquela indicação contida nas Sagradas Escrituras iluminou-os para realizar a última etapa do seu caminho: Belém. Além disso, também a Palavra de Deus permitiu-lhes ver nos simples e humildes sinais de uma casa, do menino com Maria, sua mãe, o rei dos judeus, o esperado de Israel.
Os Magos adoram e descobrem em Jesus aquele que com tanta ânsia procuravam. O leitor, por um lado, ficará surpreendido pela desproporção existente entre os gestos e os dons dos Magos, e a humilde realidade que se apresenta diante dos seus olhos; mas, por outro lado, está seguro que aquele menino, que os Magos adoram é precisamente o Filho de Deus, o esperado Salvador do mundo. E assim o itinerário converte-se em itinerário de todo o leitor que lê esta significativa história dos Magos: quem procura, ainda que pareça que Deus está longe, pode encontrá-lo. Aqueles que, pelo contrário, presumem saber tudo acerca de Deus e creem ter assegurada a salvação, correm o risco de privar-se do encontro com Ele. Numa catequese havida em Colônia por ocasião da XX Jornada da Juventude expressava-se assim o arcebispo Bruno Forte: “os Magos representam todos os que procuram a verdade, prontos a viver a existência como um êxodo, em caminho para o encontro com a luz que vem do alto”.
Também a experiência dos Magos ensina-nos que em toda a cultura, em todo o homem, há esperanças profundas que necessitam de ser saciadas. Daqui a responsabilidade de ler os sinais de Deus presentes na história dos homens.
Fonte: site da Ordem do Carmo em Portugal
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