Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-me e farei de vós pescadores de homens”. Eles deixaram logo as redes e seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-no.
Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.» (Do Evangelho do III Domingo do Tempo Comum)
A palavra inaugural de Jesus, premissa de todo o Evangelho, é «convertei-vos». E logo depois o “porquê” da conversão: porque o reino fez-se próximo. Ou melhor: Deus fez-se próximo, muito próximo de ti, envolve-te, está dentro de ti. Então, «converte-te» significa: volta-te para a luz, porque a luz já está aqui. A conversão não é a causa mas o efeito da tua «noite tocada pela alegria da luz» (Maria Zambrano).
Imaginava que a conversão era fazer penitência pelo passado, uma condição imposta por Deus para o perdão, pensava encontrar Deus como resultado e recompensa do meu empenho. Mas que boa notícia seria um Deus que dá segundo a minha prestação?
Jesus revela-nos que o movimento é exatamente o inverso: é Ele que me encontra, que vem até mim, que me habita. Gratuitamente. Antes que eu faça alguma coisa, antes que eu seja bom, Ele fez-se próximo. Então eu mudo de vida, mudo a luz, mudo o modo de entender as coisas.
Escreve o padre Giovanni Vannucci: «A verdade é que nós estamos imersos num mar de amor e não nos damos conta». Quando finalmente me dou conta, começa a conversão. Cai o véu dos olhos, como a Paulo em Damasco. Abandono a barca como os quatro pescadores, troco a pequena rede por algo de bem maior.
Jesus, ao passar, viu… Duas duplas de irmãos, duas barcas, um trabalho? Não, vê muito mais: em Simão bar Jonas vê Cefas, Pedro, a rocha sobre a qual funda a sua Igreja; em João intui o discípulo da mais fulgurante definição de Deus: Deus é amor. Tiago será «filho do trovão», alguém que tem dentro de si a vibração e o poder do trovão.
O olhar de Jesus é um olhar criador, uma profecia. Olha-me e vê em mim um tesouro enterrado, no meu inverno vê a semente que amadurece, uma generosidade que não sabia ter, estrada à luz do sol. No seu olhar vejo para mim a luz de horizontes maiores.
Vinde após mim: farei de vós pescadores de homens. Recolheremos homens para a vida. Transportá-los-emos da vida enterrada à vida luminosa. Responderemos à sua fome de liberdade, amor, felicidade.
Os quatro pescadores seguem-no de imediato, sem saber onde Ele os conduzirá, e também sem lhe perguntar: já têm dentro de si as estradas do mundo e o coração de Deus.
Jesus caminhava pela Galileia e anunciava a boa-nova, caminhava e curava a vida. A extraordinária notícia é que Deus caminha contigo, sem condições, para curar cada mal, para curar a ferida que a vida te infligiu e os teus enganos de amor. Deus está contigo e cura. Deus está contigo, com amor: a única coisa que cura a vida.
É este o Evangelho de Jesus: Deus convosco, com amor.
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