Jesus, em sua infância e juventude, viveu com seus pais em Nazaré da Galileia. “Crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos Homens” (Lc 2,52). Assumiu a vida comum dos jovens judeus de sua época. É precioso este tempo da “vida oculta” de Jesus. O fato do Filho de Deus fazer-se um de nós, assumindo totalmente a condição humana, revela que o cotidiano da vida de qualquer pessoa pode adquirir pleno sentido. Os mínimos gestos podem tornar-se caminho de santificação. Jesus foi santo não porque realizou grandes obras aos olhos dos outros, mas porque em todas as coisas fazia a vontade do Pai.
Pelo seu ministério público, a partir dos 30 anos de idade, verifica-se que Jesus cresceu na verdadeira sabedoria extraída da observação do dia a dia das pessoas, do seu trabalho, de suas alegrias e tristezas, de suas aspirações e angústias; da contemplação da natureza, dos pássaros, dos campos, dos trigais, das figueiras, das vinhas… As palavras e ações de Jesus demonstram que ele desenvolveu um espírito crítico frente às instituições políticas, econômicas e religiosas de sua época, assim como muitos jovens de hoje. Constata-se também que ele lia e meditava a Sagrada Escritura a partir da ótica dos pequenos e pobres. Seguiu a linha dos movimentos proféticos e sapienciais. Posicionou-se contra o sistema excludente de pureza. Rompeu com o poder dominante e optou pelo lugar social das pessoas excluídas. No meio delas gestou o seu programa e anunciou o Reino de Deus: um mundo justo, fraterno e solidário.
Sua mãe Maria, ainda muito jovem, assumiu a proposta divina e aceitou ser sua serva acolhendo Jesus em seu seio, enfrentando com coragem os preconceitos da sociedade de sua época. E anunciou que a misericórdia divina se estende de geração em geração para todas as pessoas que o temem; anunciou que Deus dispersa os homens de coração orgulhoso, derruba do trono os poderosos e exalta os humildes… (Lc 1,51-52). Não há dúvida que Maria foi mãe e também mestra de seu filho Jesus. Também José, “homem justo”, transgredindo as leis oficiais de sua época aceitou ser esposo de Maria e pai de Jesus. O filho de Deus nasceu e cresceu no meio de gente simples, trabalhadora e de profunda fé.
Desde o início de sua atividade pública Jesus escolheu um grupo para acompanhá-lo em sua missão. Certamente vários membros deste grupo de seguidores eram jovens. Jesus trabalha em equipe e ensina o modo de viver segundo o projeto de Deus, superando todas as formas de egoísmo, de discriminação e de domínio de uns sobre os outros. Especialmente dedicou-se para libertar as pessoas dos espíritos que impediam de serem livres para amar e serem amadas. Os espíritos imundos ou impuros estão relacionados com a ideologia do sistema de pureza, como vimos acima. Por causa deste sistema as pessoas doentes, pobres, trabalhadoras de vários tipos de profissões, desempregadas, estrangeiras e mulheres eram consideradas impuras e excluídas da salvação divina, uma vez que não conseguiam cumprir as leis estipuladas pela instituição religiosa. Além disto, havia a dominação do império romano: militarismo, escravização, invasões, saques, impostos, violência de todo tipo…
Jesus ensina um novo jeito de pensar e de agir. Abre para a juventude e para todas as pessoas de boa vontade um caminho novo de liberdade, justiça e paz. Os protagonistas da proposta de Jesus são os pobres porque deles é o Reino de Deus; os que choram porque serão consolados; os mansos porque possuirão a terra; os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados; os misericordiosos porque alcançarão misericórdia; os puros de coração porque verão a Deus; os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus; os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o Reino dos céus (Mt 5,3-10).
O novo ensinamento de Jesus é de quem tem autoridade. Suas palavras são expressão de sua fé vivida na prática. Ungido pelo Espírito do Senhor ele veio “para anunciar a Boa Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção e publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
Coerente com esta opção inspirada na profecia de Isaías (61, 1-2), Jesus liberta e cura as vítimas do poder econômico, político e religioso de sua época. Entre elas, os evangelhos citam alguns adolescentes e jovens, como a filha de Jairo, de doze anos de idade (Mc 5,35-43). Todos já a consideravam sem vida. Jesus toma-a pela mão e ordena: “Menina, eu te digo, levanta-te”. Ela é um exemplo da situação das adolescentes no tempo de Jesus, onde o patriarcalismo se impunha de forma truculenta. A partir da primeira menstruação a moça ficava à disposição para o casamento sem o direito de escolher o futuro marido. Além disso, o fluxo de sangue era considerado sinal de impureza, devendo nestas ocasiões ficar isolada; quem a tocasse também se tornava impuro, como também impuros ficavam os lugares onde ela sentava ou transitava. Não é por acaso que junto a esta narrativa, o evangelho insere a cura da mulher hemorroíssa. Jesus não segue as leis que discriminam. Segue o único mandamento que sintetiza toda a lei e toda a profecia: o amor a Deus e ao próximo. Diante da dúvida de quem é o próximo Jesus ilustra a parábola do samaritano solidário (Lc 10,25-37). A prática de Jesus, portanto, opõe-se a toda lei que impossibilita a vida digna para todos.
Sua opção pelas pessoas excluídas o leva a dedicar-se no resgate da integridade de cada ser humano e sua inclusão na sociedade. Tomando o Evangelho de Marcos, o mais antigo dos evangelhos, percebe-se que o primeiro milagre de Jesus foi libertar uma pessoa perturbada pelo espírito impuro proveniente do ensino na sinagoga (1,21-28). Jesus tem o poder de calar a voz dos ideólogos do sistema de impureza introjetado nas pessoas comuns, atingindo o próprio ambiente da casa, como se percebe pelo relato da cura da sogra de Pedro (1,29-31). Pela cura do leproso Jesus denuncia o sistema de exclusão e possibilita a integração da pessoa marginalizada (1,40-45). Pela cura do homem da mão seca ele possibilita a liberdade de ação tolhida pela ideologia religiosa (3,1-6). Assim também a cura do paralítico transportado por quatro amigos e introduzido na casa através de um buraco no telhado. Jesus percebe qual é a causa desta paralisia e, por isso, perdoa-lhes os pecados (2,1-12). O legalismo introduzido pelo sistema de pureza incutia nas pessoas a ideia de serem portadoras de pecado e impedidas de salvação. Assim ainda a cura do surdo-mudo (Mc 7,31-37) e tantos outros gestos libertadores narrados nos evangelhos.
Jesus com sua proposta é boa notícia para as pessoas de todas as idades. Certa vez, em terra pagã, ele acolheu o pedido de uma mulher cananeia e curou sua filha (Mc 7,24-30). Jesus se rende diante da fé manifestada por aquela mulher estrangeira e mostra que o evangelho da vida e da salvação é dom de Deus para todos. Na parábola dos dois jovens irmãos (Lc 15,11-32), Jesus revela o rosto misericordioso e acolhedor do Pai. O irmão mais novo que sai pelo mundo afora representa os estrangeiros, enquanto o mais velho representa os judeus. Eles têm o mesmo pai que não impõe ordens, mas proporciona o caminho de mútua acolhida. Na sua casa tem lugar para todos. O Reino de Deus é de fraternidade e de paz. Um grande esforço fez Jesus para libertar os discípulos da cegueira em que estavam mergulhados. Eles “enxergavam” a própria missão de Jesus com os olhos dos poderosos tanto do sistema religioso como do político; estavam contaminados com o “fermento dos fariseus e o fermento de Herodes” (Mc 8,15). Discutem entre si quem deles seria o maior (Mc 9,33-35). Tiago e João chegam a pedir para sentarem um à direita e outro à esquerda de Jesus na sua glória (Mc 10,35-45). Jesus diz que eles não sabem o que estão pedindo. Os outros dez apóstolos ficaram com raiva de Tiago e João. Jesus insiste no serviço mútuo pelo caminho do sofrimento, da cruz e da morte. Com o cego de Betsaida (Mc 8,22-26) os discípulos precisam ser tomados pela mão e levados para fora da cidade (ideologia de poder) e permitir que Jesus lhes possibilite uma nova visão. Como o cego Bartimeu eles precisam gritar com convicção de fé para pedir o socorro de Jesus, desvencilhar-se da “capa” das seguranças pessoais e institucionais, a fim de ver perfeitamente e segui-lo no caminho na cruz (Mc 10,46-52).
Jesus chamou para segui-lo não somente os doze apóstolos. Chamou também o jovem rico que o procurou para saber o que deveria fazer para alcançar a vida eterna (Mt 19,16-22). Jesus gostou dele e percebeu que ele tinha condições de avançar no caminho da perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terá um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!”. O jovem foi embora entristecido, pois era possuidor de muitos bens. De modo diferente agiram as mulheres, Maria Madalena, Joana, Susana e muitas outras. Mesmo sem serem convidadas explicitamente por Jesus, puserem-se a segui-lo colocando seus bens a serviço de sua missão (Lc 3,1-3).
Há jovens também que crescem e se educam em ambientes que não proporcionam uma visão verdadeira de Deus e servem aos interesses dos dominantes. Um exemplo é a filha de Herodíades, mulher de Herodes. Para satisfazer o desejo de sua mãe pede a morte do profeta João Batista (MC 6,14-29). A Bíblia mostra que há dois caminhos: o da vida e o da morte. O caminho da vida por excelência identifica-se com a pessoa de Jesus e Nazaré que veio não para ser servido, mas para servir e dar sua vida pela salvação da humanidade.
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