Aos sábados, o que o jovem quer é ir para casa, tomar banho, caprichar na roupa, no penteado, no visual. Encontrar os amigos, ir para o clube, a balada, o cinema, o shopping, a praça etc. É o melhor momento da semana; não é para se perder, por nada deste mundo!
Na noite de Sábado existe uma energia toda especial movendo os ares de uma cidade. Energia que vem da dança dos jovens nos inúmeros “pontos” da cidade e desprendida por toda a agitação que antecede esse evento: a preparação, o deslocamento em grupo, a farra durante o caminho, os encontros, as paqueras, as brigas que acontecem enquanto rola a música.
Dançar no final de semana é uma das principais, senão a principal atividade de lazer dos jovens. Há lugar que se toca rock, outros em que se vai dançar Funk, samba, e assim por diante. O desejo e a necessidade de lazer e de prazer não são exclusivos dos jovens, mas nessa fase parecem assumir uma importância quase vital.
Os jovens das camadas mais pobres ficam sobre a corda-bamba da dificuldade de equilibrar o gasto do seu dinheiro (aquilo que não é destinado a contribuir no orçamento familiar) entre suas necessidades pessoais como transporte, educação, por exemplo, e garantir o consumo de roupas bonitas, para sair “na moda” e o lazer (rádio, cds, fitas, ingresso do show etc).
Muitos jovens pobres são objetos de suspeita nas ruas, ainda mais se não estão a caminho da escola e do trabalho, se estão “à toa” – sobre eles paira a desconfiança da baderna. Alguns locais de diversão dos jovens, como casas de jogos eletrônicos, são considerados “pontos” suspeitos de venda de drogas e, portanto, passíveis de sofrer “batidas”.
A impressão é que “se divertir” exige um esforço danado dos jovens. E, no entanto, lá vão eles. Sem isso, a vida não vale a pena.
“Gostava de música americana, ia pro baile dançar todo fim de semana” (Ed Motta, Manoel)
“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” (Titãs, Comida)
Tamanha necessidade e desejo de diversão tem a ver com o fato de que ela é o outro lado da moeda da vida cotidiana; aí se encontram satisfações que são negadas em outros espaços da vida. O lazer, para os jovens, abre a possibilidade de sair do ambiente regulador, e muitas vezes repressivo e sufocante, da família, da escola e do trabalho.
É o momento de estar com os amigos, entre seus pares, com quem é possível processar as buscas, características da juventude, no sentido da formação de sua identidade. O lazer abre também oportunidades de sair para a esfera pública, circular pela cidade, entrar em contato com desconhecidos, com novas informações, e buscar satisfazer suas necessidades de experimentação. É, dessa forma, um campo em que se aguçam e canalizam os desejos e as buscas de inovação, e que faz vibrarem mais forte as expectativas de uma vida mais aberta, mais satisfatória, menos sufocante. “… A gente quer inteiro e não pela metade”.
O lazer juvenil contém uma grande movimentação e riqueza de significados. Está presente em todos os lugares da cidade e de muitas e diferente formas. As turmas de amigos que se reúnem todo fim de tarde ou noite, para conversar ou ouvir música; a molecada que joga bola, que anda de bicicleta; a sinuca, os jogos eletrônicos; a agitação do fim de semana, os bailes, os shows, os barzinhos; as bandas de rock de garagem etc. Não param de pipocar acontecimentos, novos lugares, novas ondas.
Tudo isso é brincadeira, é farra? É muito mais. A procura por diversão mobiliza múltiplas buscas, e por isso contém também dificuldades, frustrações, conflitos. Envolve grande circulação de informações e também processos de confrontação e identificação. Dessa forma, o lazer, o lúdico constitui para o jovem um espaço de experimentação extremamente significativo, e que entra fortemente na composição de seu universo de valores e de seu modo de vida. Em suma, a questão do lazer se cruza de forma intensa com a questão da cultura (jeito de viver de um grupo).
Falamos em “consumo de objetos de lazer, de roupas, em moda, em novas ondas”. Não podemos duvidar que o lazer se processa em grande parte através dos meios de comunicação de massa e numa relação de mercado, pelo consumo de bens industriais e pelos estímulos vinculados pela mídia. Há influência nas atividades de lazer, dos interesses comerciais e industriais. A partir dos anos 70 a juventude passou a ser uma importante fatia no mercado consumidor.
A massificação acontece, mas não esgota a questão. O jovem vive o lazer em grande parte através do consumo, mas isso não implica em passividade e ausência de escolha; isso não elimina o caráter de experimentação, de criação de relações de sociabilidade, de processos de delimitações de identidade, de procura de inovação. Há um processo incessante de apropriação e reapropriação.
O Funk, o Rap, por exemplo, que desenvolveram estilo de comportamento e uma identidade própria, revelam que o jovem é capaz de criar, de inovar, de ser sujeito. Observar esses fenômenos mais de perto revela que precisamos tirar da juventude o rótulo de passiva, apática, conformista. Basta ver o que aconteceu nas ruas do País neste junho/2013 que entra para a história.
E o que isso tem a ver com a Catequese da Crisma? O espaço e tempo da catequese com adolescentes e jovens precisa ser lúdico. O lúdico é a expressão externa do prazer de viver. O jovem é faminto de alegria e prazer de viver.
O lúdico também é experimentado na acolhida, no sorriso sincero, na intimidade do amor, no prazer da convivência. Um encontro de catequese onde se vive isso é uma “alegria”. O seguimento de Jesus não é um peso a mais para a vida, mas o que torna a vida mais suave. A experiência de Deus alegra o coração, mesmo diante da dor, da perda, da derrota.
A catequese pode organizar brincadeiras, jogos, passeios, festival de música, de poesia, trilhas ecológicas… Prever festas, celebrações, danças, músicas, teatro, cinema, nos encontros catequéticos ou em outros momentos. Importa diversificar o uso da criatividade, inserido na realidade da catequese de cada lugar. Preparar dinâmicas, gestos, ritos, narrativas, mas, sobretudo, criar clima de alegria, sinceridade, testemunho e transparência.
O grupo de catequistas de crisma pode prever atividades em conjunto com os diversos grupos de crismandos da paróquia, mas várias dessas atividades podem e devem ser realizadas nos encontros catequéticos com os jovens. Tudo isso pode estar em sintonia com os conteúdos que propomos na caminhada.
E a catequese pode ajudar o jovem a enxergar o verdadeiro lazer, o verdadeiro lúdico e ter senso crítico diante do que a sociedade de consumo propõe a ele como “alegria”.
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