Já havia diálogo entre Deus e a humanidade, no paraíso terrestre. Iniciado muito afetuosamente, mas com final desagradável.
Em Jesus Cristo, Palavra de Deus em carne e osso, somos interlocutores uns dos outros. A Igreja, em sua renovação conciliar, não pode ficar fora disso.
“Inter”, prefixo latino, significa “entre”; “loqui”, falar. Para ser interlocutor é preciso que se encontrem ao menos duas pessoas.
Em Jesus, nós não só ouvimos Deus falar, mas podemos conversar para Ele nos ouvir, isto é, tornamo-nos interlocutores de Deus. Afinal, conforme Paulo, para o Pai, nós somos “imagem do Filho” (Rm 8,29). Interlocutores, porque Jesus é um homem para a nossa humanidade; é Deus para a nossa fé.
Interlocutores, porque Jesus é a Palavra eterna que desde sempre existe em Deus, porque ela mesma é Deus (cf. Jo 1,1).
Interlocutores, porque recebemos da própria Palavra a capacidade de dialogar com ela. Interlocutores, porque a Palavra de Deus que já se fez ouvir na oportunidade da Primeira Aliança, agora, além de falar, torna-se visível em Cristo. Interlocutores, porque essa Palavra eterna que era Deus se fez carne da nossa carne e armou sua tenda entre nós (cf. Jo 1,14).
Interlocutores, porque a Palavra de Deus se coloca à altura do relacionamento humano, para dialogar conosco como nós dialogamos: fazendo-se entendida como entre nós nos entendemos. Somos, em Cristo, filhos com toda a chance de relação filial com o amor paterno de Deus.
Interlocutores, porque, se assim estamos em condições de nos entender com Ele e Ele conosco e nós entre nós, a Palavra nos dá a possibilidade de nos conformarmos a Ele nosso Mestre para que cada qual de nós possa viver Cristo em si próprio (cf. Gl 2,20). Ainda Paulo: “Não vos conformeis às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente…” (Rm 12,2). Interlocutores: “Nestes dias, Deus falou em seu Filho” (Hb 1,12).
Interlocutores, porque nesse diálogo, o homem descobre a manifestação do Pai em Seu Filho (cf. Ef 4,13): Jesus comunica-nos as coisas do Pai (cf. Jo 12,50); “… dei-lhes as palavras que tu me deste” (Jo 17,8). Interlocutores, porque, se o homem penetra nos mistérios de Deus, a Palavra de Deus também aceita o diálogo para penetrar nas dúvidas, anseios e questionamentos do homem moderno.
Tudo revela que Deus, na Sua revelação, é profundamente adepto do diálogo com os humanos. Percebemos que a interlocução é o maior distintivo da grandeza da pessoa humana. Só pode haver interlocutores nas relações entre pessoas humanas.
Por Padre Augusto César Pereira, SCJ via Aleteia
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