A alegria e o amor são fundamentais ao canto cristão. Não como euforia, uma forma patológica de expressão, mas como alegria que equilibra e proporciona saúde mental e física. É canto como experiência do amor de Deus vivido em comunidade. A música da Igreja deve ser fruto do coração que ama com o amor de Cristo e não com o amor egoico. É melodia que vem do silêncio, o único lugar onde se pode encontrar Deus verdadeiramente. O encontro com Deus provoca uma alegria interna na alma e expressa no cantor o canto novo. Santo Agostinho nos diz que “No interior está este prazer, lá onde se canta e se ouve a voz de louvor, e com esta voz se louva àquele que deve ser amado sem reservas, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente, àquele que acende no que ama o amor a ele com a graça de seu santo Espírito”.
Que bela palavra é “vocação”! O canto interior é a vocação de todos nós porque é o chamado para o canto do amor. É o amor da Sagrada Família onde o canto novo ecoava pelos mais humildes gestos de silêncio. No maravilhoso livro São José na vida de Cristo e da Igreja, Maurício Meschler denomina São José como “o homem segundo o coração de Deus” e nos traz o real valor da vocação cristã: “Com efeito, o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho mediante a vontade ou o amor, representa, na divindade, o amor ou o coração, símbolo do amor. E como não há nada mais ativo que o amor, o Espírito Santo representa também o princípio de todo movimento ordenado ao fim. Numa palavra, ele é o princípio diretor a que todas as criaturas devem obedecer para atingirem o seu destino eterno. O Espírito Santo, o dedo de Deus, que criou todas as coisas pela sua sabedoria, conduz todas as criaturas ao seu fim pela sua providência, designando-lhes a sua vocação e tornando-as capazes de cumprir essa vocação”. Por isso a afinação musical na Igreja deve ser absoluta! Simboliza a ausência do pecado, o não errar o alvo, e é fruto do trabalho interno e externo em fazer tudo para estar afinado ao amor de Deus. São Bento já disse, “Ora et labora”. Ao cristão não há oração sem trabalho. Música é oração e muito trabalho!
Cantar o canto interior é cantar a beleza da Eucaristia! Nela somente está o amor e a alegria do coração cristão.
O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, ressalta o valor entre beleza e a liturgia dizendo que “A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo particular, no valor teológico e litúrgico da beleza” (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 35). E nos diz sobre a verdadeira beleza da vocação: “Em Jesus, como dizia São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das origens. Referimo-nos aqui a esse atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor” (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 35).
O canto interior do coração é amar com o amor de Deus no nosso coração!
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