Catequese e vivência da fé cristã devem ser compreendidas como duas faces de uma só realidade. Isto porque a mensagem cristã, que cumpre à Igreja viver e transmitir às novas gerações, tem duas linguagens intimamente relacionadas entre si. Por um lado, a linguagem conceitual dos textos e formulações dos dogmas, de fundamental importância para dar precisão à mensagem e evitar ambiguidades. Por outro lado, a linguagem vivencial e simbólica que promana da vida da comunidade, da liturgia, da vida dos santos, do empenho dos cristãos por um mundo mais humano, tão importante para conferir sabor e credibilidade à mensagem cristã. Linguagens que convém distinguir, mas nunca separar.
Na catequese a linguagem conceitual deve ser sempre expressão da linguagem vivencial da fé cristã. A frieza dos textos e formulações doutrinais deve ser temperada com a riqueza simbólica do mistério de Deus vivido na comunidade. A linguagem conceitual é fria e árida, mas necessária para dar objetividade à mensagem. É inútil buscar a renovação da catequese mediante o abandono do ensino dos conteúdos da fé. A redação do Novo Testamento constitui eloquente exemplo de como a Igreja, desde cedo, sentiu a necessidade de dar precisão à mensagem do Evangelho da qual é portadora. A rica produção teológica dos Santos Padres constitui outro exemplo. Esta é uma realidade de que não se pode prescindir. Porém não podemos diminuir a importância do testemunho da fé da comunidade para a catequese. Uma mensagem que se descolasse do contexto vital da Igreja perderia toda a sua força de convencimento. A catequese será mais interessante na medida em que expresse o amor gratuito de Deus vivido na comunidade e em sua relação com toda a sociedade.
Isto fica evidente na própria atividade de Jesus de Nazaré ao anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Sua mensagem pôde interessar aos seus discípulos e às multidões porque o seu sentido era expresso em linguagem falada e vivida. Jesus ensinava os discípulos e as multidões, e até debatia com os doutores da lei. Mas seu ensinamento se dava por palavras e sinais. Os milagres – ações simbólicas que remetem os interlocutores à realidade maior do amor gratuito de Deus pela humanidade – e as parábolas de Jesus apresentam a ação salvífica de Deus no mundo de maneira atuada, num acontecer vivo dinamizado pelo Espírito (Lc 11,20). Assim, as pessoas acreditam em Jesus (Mc 8,29: “Tu és o Cristo”), pois o veem como o portador de uma mensagem que supera os limites deste mundo, mas que de algum modo já se realiza, oferecendo um novo horizonte de sentido para a vida. Por onde passa, Jesus faz o bem (At 2,22).
Vê-se que a maneira de Jesus transmitir a mensagem do Reino respeita a forma como a pessoa humana a compreende e se interessa por ela. Na realidade, a Igreja ao longo da história sempre se inspirou na pedagogia de Jesus para renovar os seus métodos de evangelização. De nossa parte, hoje, já nos demos conta de que está esgotado o modelo de uma catequese demasiadamente doutrinal e descolada da vivência da fé.
Convém, pois, interrogar a Escritura, e sobretudo o Cristo, acerca do caminho a seguir. Reaprender que o conhecimento de Deus é sobretudo envolvimento com o mistério de sua presença salvífica em nossa vida. Que Jesus é o “Deus conosco”, alguém com quem queremos envolver nossos interlocutores, os catequizandos, para que conheçam a sua mensagem e tirem consequências para a vida. E possam fazer experiência de Deus no encontro com a pessoa humana (Mt 25, 31ss).
A catequese, portanto, será tanto mais significativa quanto mais envolver as pessoas na dinâmica do Amor de Deus que se dá à humanidade através do mistério pascal de Cristo. Mistério que o Espírito Santo concede à Igreja celebrar, viver e comunicar.
Texto escrito por Pe. Valdecir Luiz Cordeiro, presbítero da Arquidiocese de Porto Velho. Doutorando em Teologia Sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE, em Belo Horizonte.
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