Amor se paga com amor. Celebramos com gratidão a festa do Sagrado Coração de Jesus. O coração fala ao coração. Deus fala ao nosso coração. Sabemos que o essencial, a melhor notícia, a verdade que liberta, a certeza definitiva é esta: Sou amado, somos amados por Deus de modo incondicional, incansável, irrenunciável.
Deus ama primeiro, sem medidas, com afeição. Ama-nos com zelo e desvelo. Ama-nos como somos, ergue-nos quando caímos, não se decepciona conosco, continua confiando em nós. Não tira nossa fraqueza, mas age através dela. Não tira o espinho, mas garante-nos a sua graça. Mesmo sendo defeituosos Deus realiza maravilhas através de nós. Eis o que significa o amor do Sagrado Coração.
No seu amor, Deus pensa em nós até nos por menores e está em nós amando como acontece entre o amante e o amado. Nada leva Deus se separar de nós. Ele sempre nos procura, não se esquece de nós, torce por nós e como Cirineu, ajuda-nos a carregar a cruz. Ele nos trouxe até aqui, estará sempre conosco, irá carregar-nos até o fim. Deus tem coração de mãe.
Dizer e crer que Deus nos ama é dizer que cada pessoa é objeto, centro, alvo do amor divino: “Existo porque sou amado” (G. Marcel). Cada pessoa pode dizer: eu venho do desejo eterno de Deus. Sou obra do seu pensamento, do seu desígnio, do seu plano salvífico, do seu coração, de sua decisão, do seu íntimo, da sua vontade, da sua consciência, do seu desejo. Nossa origem é o “útero eterno” da Santíssima Trindade, portanto o Coração de Deus.
Dizer e crer que Deus ama cada pessoa significa perceber que todo ser humano é centro da atenção, do interesse, no olhar, do coração do Pai, que declarou solenemente: “tu és meu filho muito amado”. Todo batizado é filho, filha, muito amado de Deus, em quem Ele coloca sua afeição. A sarça ardente que não se consome é o amor pessoal, ardente, inflamado e ciumento de Deus por nós, refletido no Sagrado Coração de Jesus.
Todo esse amor de afeição de Deus por nós é para que tenhamos amor de compaixão para com o próximo. Meu amor fraterno é o jeito que Deus tem de amar as pessoas através de mim. Estamos nas mãos de Deus, no seu colo. Somos olhados por Ele com amor. Ele cuida de nós com amor providencial. Usufruirmos de sua amizade, companhia, compaixão e presença. Eis a síntese do amor do Coração de Jesus.
Deus ama cada pessoa como se ela fosse filho(a) única. Cuida de nós mais que nossa mãe. Revela-se até no nosso sono. Compreende-nos mais que nós a nós mesmos. Ama de modo especial os moralmente feridos e socialmente perdidos. Ama-nos não porque somos bons, mas, para que nos tornemos bons. Nosso pecado não provoca furor em Deus, mas misericórdia e advertência: “Não peques mais”.
Deixemo-nos amar por Deus. Percebemos seu amor nas criaturas, na história da nossa vida, nos cuidados com as aves do céu, com fios de cabelo que perdemos. Ele conhece o pardal que caiu morto, veste as flores do campo, sabe o nome de cada estela, enfaixa nossas feridas. Pronuncia nosso nome e acompanha as batidas do nosso coração e a respiração dos nossos pulmões. Nossa vida é uma “teografia”, ou seja, uma vida escrita por Deus. Toda a história da salvação é uma história de amor. O Coração de Jesus é a maior expressão de amor de Deus que revela o íntimo do coração do Pai e seu plano de amor. Na vida dos santos e santas resplandece o amor de Deus como também na história da Igreja, na Palavra Santa, nos sacramentos e nos dons e carismas. Transborda em toda a terra, o amor do Coração de Jesus.
Agradeçamos o que Deus fez, faz, fará em nós e através de nós. Ele ama de modo especial o pobre, o pecador, o pequeno, sem exclusão de ninguém. Quanto mais cremos que somos amados, tanto mais somos corajosos na missão. É o amor de afeição em vista da missão. Deus no seu amor transforma nossas feridas em graças e as fraquezas nos jogam nos seus braços de Pai. Amemos os irmãos com o amor com que Deus nos ama, pois o amor faz o outro ser mais. É próprio do amor acolher o diferente, descer para elevar, facilitar a comunicação humana.
A pessoa não amada é agressiva, depressiva, desconfiada, insegura, ansiosa, a exemplo de Caim. Por outro lado, a experiência do amor de Deus cura as feridas e aquece o coração. O amor é a verdade que não passa como se esvai a moda do momento. O amor permanece. Importa permanecermos no amor.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina – Paraná
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