“Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na Terra aos homens que Ele ama.” (Lc 2,14)
É possível afirmar que o canto dos anjos anunciando o nascimento do Salvador é a principal melodia do amor de Deus, música que entoa o amor infinito, eterno, por toda a criação. Os pastores, com o coração cheio de amor, escutaram a música dos anjos. Ouvidos atentos. Ouvidos mansos. Quantos ainda não ouviram o som do nascimento de Jesus!
Fala-se demais sobre Jesus e escutam-se muito pouco as ressonâncias do verdadeiro amor cristão. Para amar como Jesus é preciso um amor humilde. Não é qualquer amor. Amamos de muitas formas e conseguimos, sim, alguns frutos, mas nosso amor ainda produz ruídos emitidos pelo narcisismo ferido. O amor cristão tem uma condição: humildade. Foi assim que o Menino chegou sob os doces e simples acordes e “Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração”. Quanta gente ainda não entendeu que Deus é ouvido no coração humilde! Os pastores foram os primeiros a sentir tamanha alegria. Eram humildes como São José, humildemente silencioso. Maurício Meschler, no livro São José na vida de Cristo e da Igreja, escreve que “para José era essa visita dos pastores, acompanhada de tantas circunstâncias maravilhosas, fonte de grande alegria. Era uma homenagem prestada ao Menino Deus e a Maria. Ele via a sua fé confirmada por esse testemunho inesperado. Para ele, os pastores eram mensageiros de Deus. Um raio da glória do Verbo encarnado havia-os iluminado. Eles tinham tido a honra e o consolo de ouvir as palavras e o canto dos anjos”. O esperado Rei dos Reis nasceu numa estrebaria entre cantos de anjos e o pulsar dos animais que ali estavam.
Sendo assim, não há outro caminho a não ser trabalhar a escuta humilde e de coração. Não há amor cristão sem escutar o pranto dos que sofrem, dos que passam fome, dos injustiçados, dos abandonados. Não há canto cristão onde não se anuncia o silêncio e a dissolução das figuras egoicas. Não há anúncio do Evangelho usando a própria imagem servindo a Deus para servir-se de Deus. Não!
O nascimento de Jesus é marcado pela melodia que deve conduzir nossas vidas: glorificar a Deus no mais profundo do ser e fazer de tudo para a concretização da harmonia entre as pessoas.
O canto dos anjos é o canto do perdão supremo, do amor que nada pede em troca, da bondade ressonante.
Cantar a humildade é cantar a beleza da vida, sentir a necessidade do próximo, amar a todos indistintamente, perdoar o inimigo, não reclamar das cruzes. Cantar a humildade é manter a luz da esperança acesa por toda a vida, transformar as lágrimas em sal da Terra, entregar-se totalmente ao amor do Menino Jesus.
Cantar Jesus é ser manjedoura da suave melodia do Pai.
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