Com a celebração da Festa do Batismo de Jesus encerramos o Tempo do Natal e iniciamos o Tempo Comum, dando prosseguimento ao ano litúrgico. É mais um movimento que pauta a liturgia católica e indica o seguimento do povo de Deus no caminho de Senhor.
É significativo no texto bíblico dessa festa o papel principal exercido pela Santíssima Trindade: “Ora, naqueles dias veio Jesus de Nazaré, da Galileia, e foi batizado por João, no Jordão. No momento em que Jesus saía da água, João viu os céus abertos e descer o Espírito em forma de pomba sobre Ele. E ouviu-se dos céus uma voz: ‘Tu és o meu Filho muito amado; em ti ponho minha afeição’” (Mc 1,9-11).
O Batismo de Jesus, conforme descrito nas Sagradas Escrituras, é mais uma teofania, ou seja, uma manifestação de Deus, uno e trino.
Há poucos dias celebramos a Epifania do Senhor, na qual Jesus foi adorado pelos magos vindos de diversas regiões. Isso significa que o Senhor se manifestou a todos os povos e deseja acolher a todos, sem distinção. Assim também, em seu Batismo, dá-se uma nova manifestação, agora de um modo mais claro e evidente. Jesus, anunciado por João Batista como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, manifesta-se ao mundo no contexto da Santíssima Trindade. Deus Pai se compraz de seu Filho amado e envia o Espírito Santo sobre Ele. A Santíssima Trindade nos é apresentada.
Jesus é batizado não para o perdão de seus pecados, mas para confirmar a doação de sua vida para que os pecadores alcancem o perdão e a salvação. Entre os sinais nos é relatado que o céu se abre. Por quê? Porque o pecado da humanidade o havia fechado. A vinda do Espírito Santo confirma a reabertura da comunicação entre o Céu e a Terra, entre Deus e a humanidade. Deus revela diante do mundo a identidade de Jesus, é seu filho querido e muito amado: “Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião (Is 42,1) (cf. comentário da Bíblia Sagrada Ave-Maria, edição de estudos, p. 1583).
JESUS PARTICIPA DE NOSSA CONDIÇÃO HUMANA
O Batismo propriamente dito não era necessário para Jesus, porém, Ele se submeteu ao ritual para identificar-se conosco. O seu Batismo é mais um sinal de que Jesus participa de nossa condição humana, porém, Ele sempre permanece plenamente Filho de Deus, capaz de realizar um Batismo maior (o Batismo do Espírito Santo). O Batismo é um símbolo da identidade de Jesus por meio de sua missão, assim como nosso próprio Batismo é também o símbolo de nossa identidade cristã.
De um lado, o cristão enfrenta, em condições humanas, desafios e lutas, além do pecado, e o fato de ser cristão não o preservará de qualquer miséria, dor ou tentação. Mais do que isso, o cristão é convocado a lutar por uma humanidade melhor e por uma melhor sociedade; ele deve estar sempre cheio de esperança para poder inspirar os outros a criarem um mundo melhor.
O Batismo de Jesus no rio Jordão foi o primeiro Batismo no Espírito Santo e tornou-se o modelo e a fonte de todo Batismo cristão, ele é a descoberta do dom de Deus doado em nosso Batismo. Não é outro Batismo, mas é o despertar para a missão assumida. O Batismo não deve ser interpretado apenas como um rito, mas como condição de vida do cristão, é um novo nascimento que deve servir de modelo para seu crescimento.
RENASCIDOS DA ÁGUA E DO ESPÍRITO SANTO
Em nosso Batismo somos renascidos da água e do Espírito: “Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). Não é mais um simples ritual, mas um renovar pleno de nossa vida. Por meio dele somos de fato enxertados em Cristo, sepultados e ressuscitados com Ele: “Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com Ele na sua morte pelo Batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. (…) Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com Ele, pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre Ele. Morto, Ele foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua vivo para Deus! Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém, vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6,3-11).
Pelo Batismo somos remidos do pecado original e dos pecados atuais, recebemos o Espírito Santo, a filiação divina e o chamado profético para sermos instrumentos de salvação para os outros. Tudo isso demonstra que o Batismo é muito mais que um rito ou um ato social, é um momento de mudança em nossas vidas. Logicamente, não há como uma criança assumir essa missão, por isso, mais tarde, na recepção do Sacramento da Crisma, não mais como criança, mas já no uso da razão, a pessoa poderá confirmar seu Batismo e assumir plenamente sua missão como cristão. A ação do Espírito Santo na vida do cristão é destinada à sua plena realização e ao cumprimento do que esse nome quer dizer: seguidor e imitador de Cristo.
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