Com a intenção de oferecer a riqueza da Palavra de Deus aos fiéis, a Igreja estabeleceu uma sequência de leituras bíblicas estruturadas no ciclo de três anos: no ano A é lido o Evangelho de Mateus; no ano B, a leitura do Evangelho de Marcos; no ano C, o Evangelho de Lucas.
2022 é o ano litúrgico C. Por isso, aprofundaremos o Evangelho de Lucas.
Ele é o terceiro Evangelho cuja autoria é atribuída a Lucas, companheiro de Paulo. É mencionado por este na Epístola a Filemom (1,2), em Colossenses (4,14) e em 2Timóteo (4,11).
Grande parte dos especialistas bíblicos são coincidentes em afirmar que o Evangelho de Lucas foi escrito perto do ano 85 d.C., possivelmente em Éfeso, Ásia Menor. É um autor minucioso. Ele mesmo define que investigou tudo cuidadosamente e que escreve de maneira ordenada (cf. Lc 1,1-3).
O Evangelho forma um conjunto com o segundo livro composto por Lucas, os Atos dos Apóstolos, mostrando a continuidade das palavras e ensinamentos de Jesus levados por seus seguidores e seguidoras.
Do tempo de Jesus até a redação do Evangelho são passados 55 anos. Uma transformação forte de contexto. Aconteceu a queda e destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Ao interno da comunidade cristã, ocorreram mudanças, passando da cultura e costumes judaicos para os greco-romanos.
Compõem a comunidade cristãos provenientes do judaísmo e de outras culturas. O autor do Evangelho faz transparecer as tensões entre esses grupos como também a tensão entre ricos e pobres. Lucas consegue recolher os momentos mais significativos desse caminhar.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Com a predominância da cultura greco-romana, a característica do Evangelho assume sua linguagem e estilo próprios. Lucas é de língua grega, escreve na sua própria língua.
À diferença dos outros evangelhos, Lucas apresenta Jesus desde sua gestação e nascimento.
No Evangelho é importante observar a descrição de aspectos cronológicos, geográficos e culturais. As indicações geográficas têm sentido teológico: “casa”, “caminho” e temporal: o “hoje”. São muito importantes para compreender a pessoa de Jesus e seu agir.
Apresenta e trata de temas importantes: crianças, mulheres, desigualdade social, pobres. É o Evangelho da irrupção do Espírito Santo, presente em toda a obra, desde a anunciação até a ressurreição de Jesus e o anúncio na Igreja. A força do Espírito sempre presente e atuante. É também o Evangelho de infância de João e Jesus (cf. Lc 1,5-2,52). Apresenta uma genealogia de Jesus que retrocede de José a Adão.
É o único dos quatro evangelhos iniciado com um prólogo (cf. Lc 1,1-4); nele, anuncia-se que se narrarão os “fatos que se cumpriram entre nós”. Lucas escreve a partir das testemunhas oculares de Jesus. Dedica seu escrito especificamente a Teófilo, que significa “amigo de Deus”. Quem é amigo de Deus? São as comunidades dos fiéis seguidores e seguidoras de Jesus.
A estrutura:
O autor enfatiza a universalidade da salvação em Jesus como luz para as nações (cf. Lc 2,32). Ele veio “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Está em constante comunhão com o Pai. Por várias vezes Jesus é apresentado em oração (cf. Lc 3,21; 5,16; 6,12; 9,18.29; 11,1; 23,34.46).
Jesus ressuscitado prepara os seus para que anunciem em seu nome a Boa-Nova a todas as nações (cf. Lc 24,47). Jerusalém é o ponto de chegada de Jesus e o de partida de seus seguidores para a missão.
Maria desempenha singular e importante função no projeto divino. O canto na boca de Maria, o Magnificat, litúrgico-teológico, constitui um anúncio inicial do Reino onde Deus eleva os humildes e da missão de Jesus a favor dos pobres.
Cada leitor com a fé em Jesus Cristo é chamado a tornar-se “teófilo” (amigo de Jesus) para ser sinal revelador nesta sociedade tão desigual, discriminadora, fazendo realizar o Reino de Deus.
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