Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível (cf. Cl 1,15), é o Sacramento do Pai. Essa imagem, conforme testemunham os evangelhos, revela um Deus interessado exclusivamente em nossa salvação. Todos os gestos, palavras, sinais e acontecimentos da vida de Jesus manifestam a salvação de Deus, que nos visitou definitivamente em seu Cristo. A Igreja, Sacramento de Cristo e Sacramento universal de salvação (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 48), prolonga na história esses acontecimentos salvíficos por meio dos sete sacramentos.
No âmbito do perdão e da reconciliação com Deus, com a Igreja, conosco, com os irmãos, com o mundo, com a natureza etc. sobressai-se o Sacramento da Reconciliação. Ele foi concebido como “irmão do Batismo”, dado que recobra ao penitente a graça batismal. Tal Sacramento supõe quatro atos fundamentais: 1) arrependimento; 2) confissão; 3) absolvição; 4) satisfação (penitência). Se observarmos bem, dos quatro atos constitutivos do Sacramento da Reconciliação apenas um é exercido pelo sacerdote, os demais são executados pelo próprio penitente. Trata-se da cooperação humana que corresponde com fé confiante ao amor de Deus, o qual sempre se dispõe a nos perdoar. Nesse sentido é sempre válida a exortação paulina que marcou o período quaresmal: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
Em muitas de nossas comunidades, há cristãos que se sentem sobrecarregados pelo peso de inúmeros fardos, especialmente pela carga do pecado que rompe a nossa comunhão com Deus. A esses – a todos nós! – ressoa o convite misericordioso de Cristo: “Vinde a mim (…) e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). De fato, não importa o tamanho de nossas culpas, importa o reconhecimento de nossa pequenez e a confiança perdão divino. O Catecismo da Igreja Católica ensina a doutrina moral de que há pecados veniais – os que se referem à matéria leve (1.862) ou que não contemplam os três aspectos que caracterizam o pecado grave – e os pecados mortais – os que se referem a matéria grave, que são cometidos consciente e livremente (1.857).
Considerando que a realidade do pecado é uma ofensa a Deus com capacidade de romper com a caridade em nós, além de desordenar as relações comunitárias, interpessoais e com o mundo em que vivemos, precisamos nos empenhar sempre, contando com a graça de Deus, para viver de acordo com a vontade do Senhor, cuja intenção não é outra senão a nossa felicidade e salvação.
Santa Faustina foi uma grande cristã a quem Deus manifestou sobremaneira a sua face misericordiosa, a fim de que ela fosse uma apóstola da misericórdia divina.
Em seu diário, a santa ensinava que “meu fim é Deus” (cf. Diário de Santa Faustina, 775), indicando com isso a dimensão teleológica e escatológica da existência humana: toda a criação está orientada para seu Criador, tudo será consumado em Deus. A própria vocação à vida indica a grandeza do amor misericordioso de Deus: “Se chamo as criaturas à vida, isto é o abismo de minha misericórdia” (Diário de Santa Faustina, 85).
Devotada à divulgação de Jesus misericordioso como uma missão que pertencia à sua identidade cristã, Santa Faustina orava com grande fervor: “Ó, meu Jesus, cada santo reflete em si uma de tuas virtudes, eu desejo refletir o teu coração compassivo e misericordioso e desejo adorá-lo. Que a tua misericórdia, Jesus, imprima-se em meu coração e em minha alma como um selo, que será o meu sinal distintivo nesta vida e na próxima. Dar glória à tua misericórdia é a missão exclusiva da minha vida” (Diário de Santa Faustina, 1.242).
Nós, que por meio do Sacramento da Reconciliação nos encontramos continuamente com o Deus misericordioso, sejamos também anunciadores da divina misericórdia a fim de que todos os homens de boa vontade saibam e se sintam profundamente amados por Deus.
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