“Quer saber o que diferencia uma mãe de qualquer outra pessoa do universo? Não é o fato de gerar por nove meses ou dar à luz, a maternidade não precisa ter laço sanguíneo. Não tem a ver com amamentar, muito menos com cuidados básicos como banho, troca de fraldas, horários de sono. Sabe o que faz com que mães sejam seres únicos? Mãe não pula do barco. Não abandona o navio. O mundo pode estar desabando, incendiando, as paredes caindo. A mãe está lá. Não importa o vendaval, crise econômica, emocional, financeira. A mãe está lá.
O choro pode estar preso na garganta, o medo tomando conta, culpa, insegurança, seja lá o que estiver passando no coração materno, ainda assim ela está lá. De pé, ao lado do filho”. Esse um trecho extraído do livro 60 dias de neblina, da autora Rafaela Carvalho, que define bem o que é ser mãe. Aquela que está sempre presente; até mesmo quando o filho já desistiu de si mesmo, a mãe ainda está lá. É a mãe que faz o impossível virar só mais uma palavra no dicionário.
Quando tudo parece não ter solução, parece estar perdido, desacreditado, a mãe é a certeza. Faz-se certeza. Em casa, em um quarto de hospital, na porta do tribunal, no trânsito, na fila da creche, na porta do presídio, ela está lá. Sempre está, pois, mãe é presença, é luta até o fim.
Mas quantas são as lutas e batalhas que as mães enfrentam por tamanho amor aos seus filhos? Você já parou para se perguntar? Por quantos e quais sacrifícios sua mãe passou por você e seus irmãos? Ou você, que é mãe, quais os principais desafios e as alegrias de sua maternidade?
Para além da romantização da maternidade, neste segundo domingo do mês de maio, em que comemoramos o Dia das Mães, queremos falar sobre o amor de mãe, que transcende todas as barreiras, mas que também é feito de renúncias.
Dar voz àquelas que realizam todos os dias o sacro ofício: um trabalho sagrado, aquele que traz benefícios para além de si. E são diversas as realidades das mães no nosso país: mães solos, mães desempregadas, mães em situação de rua, mães presidiárias, mães que estão enfermas, mães que perderam seus filhos, todas simplesmente mães que só sabem amar intensamente cada um dos seus filhos.
Para a Igreja Católica, ser mãe é, antes de tudo, um chamado. De forma semelhante à vida religiosa, a maternidade é uma vocação na qual há uma consagração, uma entrega amorosa de toda a vida. A maternidade é um sacrifício de toda a vida por amor aos filhos sejam eles de sangue ou adotados.
Papa Francisco, durante uma catequese sobre família, refletiu sobre o papel das mães na família: “Ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é também uma escolha de vida. O que escolhe uma mãe, qual é a escolha de vida de uma mãe? A escolha de vida de uma mãe é a escolha de dar a vida. E isso é grande, é bonito”.
Para o Pontífice, uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque elas sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. Além disso, prosseguiu o Papa, as mães transmitem também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende está inscrito o valor da fé na vida de um ser humano. “Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo”, finalizou o Sumo Pontífice.
Mas, afinal, o que é ser mãe? Qual é o real significado desse papel? Na prática, cada mulher exerce a maternidade da sua forma e com suas individualidades.
Tudo começa com o atraso menstrual, aquela dúvida e um risco a mais no teste de farmácia, em seguida da quantidade exagerada do hormônio beta-hCG (hormônio gonadotrofina coriônica humana) no exame de sangue indicando o resultado positivo. Você está grávida! Logo o seu corpo e a sua alma começam a mudar e inicia-se a mais linda e louca jornada da vida de uma mulher: ser mãe.
Seja a mãe de primeira viagem ou aquela mais experiente, as alegrias e os sentimentos que se desenvolvem na mulher que se torna mãe são semelhantes. É no toque, no cuidado diário e na troca de olhares que acontece o amor de mãe.
“Ser mãe, para mim, é algo divino. É como se Deus dividisse comigo algumas das suas tarefas diárias e me confiasse para que eu pudesse ajudá-lo a salvar novas almas, educá-las e um dia devolvê-las para o Céu. Nessa missão, Ele me propõe também que eu seja uma pessoa melhor, me chama a novos desafios, a novas virtudes e me salva também”, afirmou em entrevista a jornalista Renata Cristina Pereira do Nascimento, 33 anos, mãe do Bento, 5 anos, do Pedro, 3 anos, e do Miguel, de 4 meses.
O dia a dia não é fácil, sobretudo na atualidade, em que muitas mães precisam conciliar a carreira com a maternidade, mas, quando se tem uma rede de apoio que auxilia no cuidado com as crianças fica mais fácil.
Apesar das adversidades, a mãe jornalista consegue equilibrar bem as demandas do trabalho e as tarefas maternas. “É reconfortante quando no fim do dia você vê que, mesmo diante do caos, as crianças brincaram e se divertiram, comeram e estão felizes e prontas para ir para a cama. Você percebe que dá conta quando acredita que elas não são um fardo, mas sim o trabalho mais perfeito que sua vida pode ter. É lindo vê-las crescer!”, relata emocionada.
Católica desde criança, a também catequista de Crisma busca sempre se espelhar no exemplo de maternidade da mãe de Deus e recorrer à sua intercessão: “Tento, todos os dias, lembrar-me de Maria e reconhecer quanto preciso lutar para ser como ela. Nesta vida de mãe, ela é o meu maior exemplo de amor, cuidado e fé. Se eu quiser ser uma boa mãe para os meus filhos, não posso me esquecer nenhum dia de Maria e do seu ‘sim’”.
Uma das principais características do ser humano é a necessidade de conexão com outros indivíduos e o desejo de estabelecer relacionamentos. Uma das primeiras relações que temos na vida é com a nossa mãe e dele depende a nossa sobrevivência.
Segundo a psicóloga clínica Ana Carolina Monteiro Grasso, em entrevista para o site Zenklub, desenvolver uma boa relação com a mãe tem inúmeros impactos positivos ao longo da nossa trajetória: “A atenção da mãe é de extrema importância para o desenvolvimento psicológico. A mãe é quem oferece o cuidado, o carinho, o aconchego, o acolhimento e a atenção às necessidades do bebê”.
Já nos primeiros dias de vida de um recém-nascido é perceptível esse elo que se cria entre a mãe e o seu bebê. Mãe de primeira viagem de Anthony José, de três meses, a professora Eliane de Alencar Rosa tem vivenciado diariamente as alegrias e os desafios do puerpério, a fase que acontece no período pós-parto, com todas as mudanças físicas e emocionais da nova mãe: “São inúmeros sentimentos que por vezes desconhecemos e nos desencontramos de nós mesmas, mas, quando olho para esse serzinho, tão pequeno e tão dependente, recordo-me da misericórdia de Deus e tudo fica mais fácil e leve e passo a ser uma mulher bem melhor que antes”.
Na sua história de vida, a chegada do primogênito veio para curar a sua mãe, a avó materna, que passava por crises de ansiedade e síndrome do pânico. “Antes de o bebê nascer, minha mãe estava tão entregue à doença que eu imaginava que ela não veria o nascimento do primeiro neto. Quando Anthony veio ao mundo, trouxe vida nova para minha mãe, que hoje está superbem”, comenta Eliane.
Seu amor por sua mãe, que já era grande, ficou imensurável. A pedagoga revela que passou a amar e admirar ainda mais sua mãe Cremilda e recorre sempre a ela em busca de um colo e um aconchego, também. Sem esquecer de pedir a bênção à Mãezinha do Céu, como ela chama devotamente Nossa Senhora, sua intercessora e também exemplo de mãe segundo o coração de Deus. “A maternidade para mim é isso, é renúncia de si mesma, sofrer pelo outro, mas ter a certeza de que vamos desfrutar da ressurreição, da vida nova que nos pertence também”, encerra.
Mãe também é sinônimo de luta por direitos, igualdade e inclusão. Ser mãe de uma criança autista é superar desafios diariamente.
“Ser mãe de autista não é uma tarefa fácil, você precisa ser forte, lutadora, tolerante ao preconceito. Precisamos entendê-los sem eles falarem, apenas pelas expressões já sabemos o que eles querem”, descreveu a designer de sobrancelhas Michele Veiga Xavier, 41 anos, mãe da Beatriz Veiga Alves, 15 anos, diagnosticada com autismo aos 4 anos.
O autismo é um transtorno no desenvolvimento neurológico da criança que gera alterações na comunicação, dificuldade (ou ausência) de interação social e mudanças no comportamento.
Segundo Michele, a filha já sofreu alguns episódios de preconceito e discriminação. Ela se recorda de uma situação, no transporte escolar, quando a Bia, como é carinhosamente chamada por todos, tinha apenas 4 anos e foi ofendida pela instrutora. A mãe prontamente defendeu a filha e pediu ponderação com as palavras e respeito com a sua filha, que sofre do transtorno do espectro autista. De acordo com a Lei 12.764, de 27/12/2012, a pessoa com autismo é considerada uma pessoa com deficiência para todos os efeitos legais.
Nas palavras da designer de sobrancelhas, ser mãe de autista é uma tarefa árdua, mas gratificante a cada evolução da criança. Ser mãe de autista é ser intensa, é se sentir forte e fraca ao mesmo tempo. “O principal desafio para mim é o futuro, o medo de eu não estar mais presente para ajudar, cuidar e proteger a minha filha, pois, para mim, ela sempre estará em uma redoma”, finaliza.
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