“O Senhor enfeitou com cores variadas a sua Palavra, para que aqueles que procuram conhecê-la possam encontrar aquilo que preferem. Todos os tesouros estão escondidos na sua Palavra, para que cada um de nós encontre uma riqueza naquilo que contempla. A sua Palavra é uma árvore que de todas as partes oferece-te frutos abençoados.”
Esse doutor da Igreja Siríaca foi um enamorado da Palavra de Deus: ele a meditava, explicava, escrevia em versos e em música e a cantava. E não o fez simplesmente para satisfação de seu refinado gosto artístico, mas para que a fé fosse enraizada na cultura do seu povo.
Efrém nasceu em Nísibe, na Mesopotâmia, no ano 306, em uma família cristã e foi educado na escola do bispo do lugar, Tiago. Efrém amou de modo todo especial esse bispo, pois nele encontrou não só o pai de sua fé, mas também o promotor de seus estudos. O santo bispo, de fato, percebeu logo os talentos de inteligência e bondade do jovem catecúmeno e quis que ele fosse bem instruído na doutrina cristã e nas ciências. Aos 18 anos o batizou e em seguida o escolheu para ser diácono e colaborador, fosse na administração dos bens da Igreja ou na catequese.
A ESCOLA DE NÍSIBE
Tiago, quando retornou do Concílio de Nicéia, no ano 325, quis instituir uma escola oficial de catequese, da mesma maneira como fizeram outros bispos em suas dioceses, para dar uma instrução mais adequada aos cristãos e para se defender das heresias.
Efrém foi escolhido como diretor da escola que se chamou Escola Nisibeana e se empenhou intensamente não só formando os catecúmenos, mas também os batizados desejosos de aprofundar a própria fé e os futuros presbíteros.
Enquanto a escola estava em pleno desenvolvimento e constituía a menina dos olhos daquela comunidade, uma terrível desventura se abateu sobre a cidade. No ano 364, Nísibe caiu em poder dos persas e a comunidade cristã, para fugir da perseguição, preferiu refugiar-se em Edessa. Nessa cidade, os cristãos, unidos ao patriarcado de Antioquia, gozavam de liberdade e eram estimados.
ASCETA E APÓSTOLO
Mesmo que a recepção dos irmãos em Edessa tenha sido muito calorosa e o bispo do lugar tenha demonstrado muita estima por Efrém, a vida dos imigrantes não foi fácil e a adaptação à vivência do povo do lugar exigia mais tempo.
O bispo quis que Efrém continuasse a dirigir a escola de catequese para os seus conterrâneos e ela passou a ser chamada de Escola dos Persas para distingui-la daquela que já existia em Edessa.
Duas novidades aguardavam-no na nova sede. Antes de tudo, uma florescente comunidade de monges que vivia nos declives de uma colina nas proximidades da cidade. Efrém não podia viver como perfeito eremita por causa de suas múltiplas tarefas de diácono e de mestre, mas estava em condições de praticar os seus espíritos. Assim, ele procurou conciliar em sua pessoa a vida do asceta e a vida do apóstolo, como fizeram depois dele Agostinho em Hipona e Gregório Magno em Roma, sem contar tantos outros no Oriente.
A outra novidade é que lhe foi confiado o cuidado das filhas do Pacto: um grande grupo de virgens que ele instruía na Sagrada Escritura e no canto litúrgico. A heresia gnóstica estava semeando erros por todos os lugares por meio do canto. Dois hereges, Bardesan e seu filho, Harmônio, haviam composto hinos populares que o povo gostava de cantar, assimilando dessa forma inconscientemente os erros da fé neles contidos.
Efrém, que com o seu talento artístico os superava, compôs hinos e instituiu uma escola de canto, escolhendo as vozes entre as filhas do Pacto e outras moças da cidade. Foi um grande sucesso: os hinos, executados com arte nas assembleias litúrgicas, foram logo aprendidos por todos, ouviam-se em toda parte, até mesmo na periferia e nos arredores de Edessa
Sua atividade não se restringia mais somente a uma comunidade da Pérsia, mas se estendia a todas as comunidades do lugar. Ele escrevia lições para a escola, discursos para as festividades, hinos para o uso litúrgico e popular, inspirando-se nas Sagradas Escrituras e no ensinamento dos santos padres. Com esses meios, procurava transmitir a verdadeira doutrina recebida dos apóstolos.
CANTOR DA VIRGEM MARIA
Efrém destacou-se pela inspiração mariana de muitos de seus hinos. Deles, aqui recordamos um: “No casto ventre virginalmente ela contém o fruto das mães, silenciosamente ela traz: a virgem tem um menino, quem não se admirará? De Maria se gloriam todas as virgens porque ela é a virgem que se torna causa do bem e dela despontou a luz para aqueles que andavam nas trevas”.
Segundo alguns, Efrém havia intuído a Imaculada Conceição de Maria quando escreveu “Tu e tua mãe, Senhor, sois os únicos perfeitamente belos… Em tua mãe não existe mancha nenhuma”.
HARPA DO ESPÍRITO SANTO
Mesmo estando imerso nos estudos e nas pregações, Efrém soube deixar de lado a pena de escritor e a cátedra de mestre quando Edessa foi saqueada pelos hunos e viveu dias e meses de tremenda carestia. Com uma estratégia incomum organizou os socorros, recolhendo alimentos nos campos e promovendo uma autêntica comunhão de bens entre todos os habitantes.
Terminada a carestia, ele se retirou por alguns meses para as colinas junto dos monges, onde pôde fazer reflorescer o seu antigo amor e dali mesmo foi chamado para o Céu. Era, segundo uma sólida tradição, o dia 9 de junho de 373.
Desde esse tempo, a Igreja do Oriente, pelos lábios de Gregório de Nissa, honra-o como mestre universal: “O esplendor da sua vida e da sua doutrina iluminava o universo”; a Igreja Siríaca o considera e canta como “coluna da Igreja, boca eloquente, profeta dos sírios, harpa do Espírito Santo, poeta da Virgem”; e também a Igreja Latina quis tributar-lhe os seus louvores, reconhecendo-lhe o título de doutor da Igreja
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