Eu cresci ouvindo a seguinte frase: “A Igreja precisa resgatar os jovens”. No apogeu do ano 2000 era grande a preocupação com a juventude e tornar a Igreja jovem, com meios de evangelização apropriados para que os jovens se sentissem integrados a ela e atendidos por meio das diversas metodologias pastorais. Logicamente se pensava nessa “solução pastoral” por ser percebido que, em âmbito familiar, os jovens eram aqueles que mais se dispersavam na fé, sobretudo após a recepção do Sacramento da Confirmação, ou seja, tínhamos famílias cristãs, mas, com jovens dispersos e indispostos a perseverar no caminho da fé.
Se os jovens eram o foco de antigamente, não tenho dúvidas de que a maior preocupação pastoral da Igreja de hoje deve se dar com as crianças. Ao longo do processo de secularização, percebemos que a evangelização precisa começar na base, ou seja, na criança. Caso contrário, o indivíduo nem terá oportunidade de desviar do caminho, porque nem teve uma base cristã para iniciar a caminhada.
Foi o próprio Jesus que disse aos seus discípulos “Deixai vir a mim as criancinhas” (Mc 10,14). No entanto, as crianças têm toda essa autonomia para chegar até Jesus? Depende da idade, da educação e também das circunstâncias, sobretudo dos pais. Estamos diante de um problema estrutural: se o jovem dos anos 1980 não foi evangelizado, hoje ele também não será capaz de introduzir o próprio filho em uma caminhada de fé. Eis o grande desafio: a criança precisa ser levada até Jesus! Isso só vai acontecer se a família tiver uma experiência de fé.
E se a criança não tem uma família com base religiosa, qual é o modo de ela chegar até Jesus? Em outras palavras, qual seria o modo de alcançar o coração dos pequenos do reino sem ser por meio dos pais? Foi diante dessa pergunta que Deus me inspirou a fundar o projeto chamado Turma do Padre Dudu. Essa iniciativa nasceu diante do desafio pastoral de tornar a fé atrativa para as crianças.
O primeiro passo era claro: pensar como criança. Os discípulos não queriam deixar as crianças chegarem até Jesus porque pensavam que elas iriam incomodá-lo, que seria uma perda de tempo. Esse pensamento é muito presente ainda nos tempos atuais com as seguintes frases: “Não levo meu filho à Missa porque ele não para quieto”; “Meu filho faz muito barulho na Missa e incomoda os outros”; “Não levo meu filho à Missa porque ele ainda é pequeno e não vai entender nada, mesmo”. Mas como será possível que uma criança fique calma se ela não tem familiaridade com o ambiente da Igreja e com os irmãos de fé? Será que a fé é uma virtude que vamos vivenciando e amadurecendo aos poucos, como resultado de um processo, ou se trata de uma mágica que aparece de uma hora para outra?
É evidente que a evangelização infantil se dá por meio de um processo de ambientação com a Igreja e com os irmãos de caminhada, em que as verdades de fé vão sendo compreendidas e interiorizadas de modo gradativo e por diversos meios. Dificilmente uma criança sairá da Missa convertida, porém, sairá com uma semente: uma palavra, uma música ou um conceito. A evangelização infantil é um processo de lançar sementes! Nunca sabemos quantas darão frutos, só temos certeza de que, para colhê-los, temos que semear. Como adultos nosso problema é que queremos ser dominadores de todo o processo de evangelização e esquecemos que ele pertence a Deus. Temos que ter clareza do nosso papel e cumpri-lo com maestria, sabendo que o resultado desse processo é algo que pertence aos insondáveis mistérios de Deus. Por isso, papai, mamãe, vovô, vovó, dindos e dindas devem ter clareza da linda missão que Deus lhes confiou: educar e transmitir a fé.
Pensar como criança e não querer colher resultados de adulto já é o primeiro passo para evangelizar os pequenos. Também não podemos esquecer dos diversos meios que são importantes para as crianças entenderem o conceito da fé. Elas precisam de estímulos, reforços e são educadas por meio da força dos hábitos que, em Teologia, chamamos de virtudes. Por isso, a música, a arte, a linguagem são fundamentais para que o processo aconteça de forma gradual e lúdica, de modo que a criança esteja habituada com a graça divina. Tudo isso faz com que a criança gere vínculo com a comunidade e com os amiguinhos que caminham na fé. Uma vez, uma mãe me disse que teve dificuldade nas férias, pois estava em outra cidade, na casa dos parentes, e o filho sempre indagava quando chegava à Igreja para a Missa dominical: “Esta não é a minha igreja. Cadê o meu padre?”. Essa simples frase, por mais que pareça um capricho ou apego da criança, demonstra um senso eclesial que estava brotando no coração dela. No fundo, apesar da pouca idade, ela já tinha clareza de quem era a comunidade que caminhava com ela e tinha referência do pastor que a conduzia até Deus.
Enfim, pensar como criança, não esperar resultados mágicos fora de um processo, estímulos, hábitos, métodos próprios são fundamentais para que deixemos as crianças chegarem até Jesus. Uma única pessoa, nem mesmo um padre, conseguiria fazer tudo isso acontecer sozinho? Foi justamente por isso que Deus me deu o Leozinho, o Pedrinho, o Dom, a Larinha e a dona Bíblia. Todos esses personagens compõem a Turma do Padre Dudu. Juntos, esforçamo-nos para que essa sementinha da fé seja brotada no coração das nossas crianças por meio de arte, evangelização e cultura.
Deixar as crianças irem até Jesus não significa ser omisso e deixar que trilhem os próprios caminhos. Essa caminhada se faz com acompanhamento e métodos próprios, para que o encontro com o Cristo aconteça e seja frutuoso. A Turma do Padre Dudu é apenas um instrumento facilitador para que cada adulto, de acordo com sua missão, cumpra seu propósito de transmitir a fé!
Conheça nosso trabalho. Acesse o site turmadopadredudu.com.br, nosso Instagram @turmadopadreduduoficial ou o canal no YouTube turmadopadredudu. Temos também composições próprias para a santa Missa e músicas com conceitos de fé e orações para que as crianças aprendam a rezar. Acesse e conheça nossas músicas pela plataforma digital de sua preferência digitando turmadopadredudu na busca.
Encerro dizendo que esse grande desafio da evangelização infantil tem também seus frutos. Embora a vivência da fé seja um processo a longo prazo, o feedback das crianças acontece de forma muito rápida e gera vínculos satisfatórios. Isso sem contar que evangelizar e ganhar crianças para Deus é praticamente trazer a família toda para a fé. Não são poucas as crianças que pedem para ir à Missa e acabam trazendo os pais. Quem diria, hein? Crianças evangelizando os pais! Realmente, “O Reino de Deus é dos que são como elas” (Mc 10,14).
*Padre Eduardo Zanom é pároco da Catedral de Palmas (TO) e evangelizador infantil com a Turma do Padre Dudu. @pe_eduardo_zanom
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