Os Evangelhos canônicos mostram José no coração do mistério da Encarnação.
Escassos são os textos referentes à vida de São José. Encontramos um texto apócrifo, de origem copta e datado do século IV ou V, intitulado A história de José, o carpinteiro, em que se narra uma história contada pelo próprio Jesus na vida de José.
Outra narrativa sobre São José é mencionada na Summa de Donis Sancti Joseph, de 1522, pelo dominicano Isidoro de Isolanis, que indica que os católicos orientais têm o costume de celebrar a festa do santo lendo em suas igrejas um relato de sua vida a partir do texto: “Com seu olhar, ele me implorou para não abandoná-lo (…). Eu coloquei minha mão no coração dele (…). Seus olhos se encheram de lágrimas e ele soltou um gemido profundo. A expressão de José é inequívoca: sofre e olha para Cristo que lhe mostra os Céus. A humanidade de José é recompensada, pois uma nuvem de anjos vem dar as boas vindas ao ‘pai adotivo’ de Jesus no Reino de Deus”. A cena se desenrola numa casa em que estavam presentes Maria (à direita, lamentando) e amigos (um dos quais carrega uma vela – a luz evocando a ressurreição e a vida eterna). O aspecto dramático da cena é acentuado pelas expressões dos rostos, pela teatralidade das atitudes e gestos, bem como pela presença do raio de luz que atravessa esta composição.
Após o Concílio de Trento, a popularidade de São José cresceu, graças aos fundadores da Ordem dos Jesuítas, da Ordem da Visitação e de Santa Teresa, que lhe dedicaram o seu primeiro convento de Ávila, Espanha. Em 1870 foi proclamado patrono da Igreja universal. O mês de março torna-se o mês de São José. Desde o século XVII, a morte dele simboliza “a boa morte” que a Igreja oferece como exemplo aos fiéis.
O Papa Francisco, na audiência-geral de 9 de fevereiro de 2022, reconhece a devoção especial dedicada a São José dizendo “Hoje gostaria de aprofundar a devoção especial que o povo cristão sempre teve por São José como padroeiro da boa morte. Uma devoção nascida do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que Ele deixasse a casa de Nazaré. Não há dados históricos, mas, visto que já não se vê José na vida pública, pensa-se que tenha morrido ali em Nazaré, com a família. E acompanharam-no à morte Jesus e Maria”.
Não se pode negar o atual papel de São José na santificação das almas. O humilde carpinteiro, que teve uma vida na sua simplicidade na Terra, agora é reconhecido como padroeiro e protetor de toda a Igreja. Leão XIII expressa, na Encíclica Quamquam Pluries, de 15 de agosto de 1889, as razões pelas quais o bem-aventurado José deve ser considerado patrono especial da Igreja: “O Santo Patriarca contempla a multidão de cristãos que compõem a Igreja como especialmente confiada aos seus cuidados, a esta família ilimitada, espalhada por toda a Terra, sobre a qual, sendo esposo de Maria e pai de Jesus Cristo, mantém certa autoridade paterna. É, portanto, conveniente e altamente digno do Bem-aventurado José que, assim como costumava proteger santamente a família de Nazaré em todos os tempos, agora proteja e defenda a Igreja de Cristo com seu patrocínio celestial” (3).
Também o Papa Bento XV, há um século, no Motu Proprio Bonun Sane, de 25 de julho de 1920, já encorajava práticas piedosas em honra a São José e reconhecidamente como protetor do moribundos e padroeiro da boa morte “com o florescimento da devoção dos fiéis a São José, sua devoção à Sagrada Família de Nazaré, da qual ele era o augusto chefe, aumentará ao mesmo tempo, fluindo espontaneamente as duas devoções uma da outra. De fato, por José vamos diretamente a Maria e, por Maria, à origem de toda santidade, Jesus, que consagrou as virtudes domésticas com sua obediência a José e Maria (…) aquelas piedosas confrarias que foram instituídas para implorar a José em nome dos moribundos, como as ‘da Boa Morte’, do ‘Trânsito de São José’ e ‘pelos Agonizantes’”.
A devoção à morte de São José faz refletir sobre os próprios limites humanos. Sempre buscamos meios para compensar, banir ou nos esquivar do nosso sentimento de finitude, que nos faz pensar no poder da morte. O Papa Francisco afirma que a fé cristã não pode exorcizar o medo da morte, mas, sim, ajudar a enfrentá-la, pois a morte faz parte da condição humana.
Cristo é a luz que ilumina o mistério da morte pela ressurreição. É pela fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixar tomar pelo medo dela. São José, afirma o Pontífice, “ajuda-nos a viver o mistério da morte da melhor maneira possível. Para um cristão, a boa morte é uma experiência da misericórdia de Deus, que se aproxima de nós, até naquele último momento da nossa vida”.
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