“É semelhante ao fermento que uma mulher
pegou e misturou em três medidas de farinha,
até ficar tudo levedado.”
(Lc 13,21)
“Um filho de carpinteiro
que veio de Nazaré
mostrou-se tão verdadeiro
pôs vida na minha fé.
Falava de um novo reino
de flores e de pardais,
de gente arrastando a rede,
que eu tive sede da sua paz.”
(Padre Zezinho, Balada por um reino)
Muito se tem falado sobre o Reino de Deus. Dos tempos terrenos de Cristo aos dias atuais, essa tem sido uma temática recorrente nas discussões teológicas, nos sermões e, mais recentemente, nos mais diversos meios de comunicação, sobretudo utilizando essa temática para emplacar sua própria ideia de Reino de Deus.
Ao que parece, no primeiro momento, nem os discípulos de Cristo haviam compreendido em que consistia o reino sobre o qual Jesus falava. Eles, em sua ânsia de livrar-se do jugo do poderio romano, aguardavam um messias que com poder e espadas instauraria um reino terreno, marcado pela força dos exércitos. Na realidade, esperavam a instauração de um reino semelhante ao do Império Romano, só que comandado por eles.
Perante essa ideia, Jesus apresenta um reino distinto, sem poderio terreno, sem força de exércitos e sem dominadores. Um reino de irmãos que, sem alarde, vai ocorrendo no meio do povo, formado pelo próprio povo e apontando uma nova ordem de vida e relações.
No Evangelho narrado por Lucas 13,18-20, Jesus faz comparações para exemplificar a simplicidade e leveza do Reino de Deus. A comparação com um grão de mostarda e com fermento que é posto na massa do pão nos assinala duas coisas: a primeira delas é a simplicidade do Reino. Cristo não comparou o Reino às grandes coisas da existência, ao contrário, em um mundo agrícola e doméstico, Ele compara o Reino de Deus ao cotidiano das pessoas, à rotina dos trabalhadores que iam ao campo e a das mulheres que preparavam o alimento para nutrir o corpo. Outro fator a considerar é que tanto a semente quanto o fermento fazem a sua missão no silêncio e na tranquilidade dos dias e das horas. Aqueles que já semearam algo sabem que não adianta ficar de prontidão aguardando a semente germinar. Com o passar dos dias, no silêncio e na fecundidade da terra, ela brota. Assim como a preparação do pão: no descanso e silêncio a massa é transformada pelo fermento que a ela se mistura.
Essas duas imagens nos ensinam como o Reino de Deus pode ser comparado, esperado e construído. Ele vai acontecendo no meio de nós, em nossas ações silenciosas de cuidado, de defesa de todas as formas de vida, do início ao seu declínio, e da defesa da integridade da criação. Vai-se fortalecendo em cada gesto de acolhimento ao estrangeiro, do cuidado com a criança e com a viúva, com cada irmão que padece das diferentes mazelas da vida. Em cada ação dessas o Reino de Deus vai acontecendo silenciosamente, sem necessidade de gritarias ou de discursos apologéticos, ele se faz no silêncio da cotidianidade das nossas ações, em cada um de nossos espaços de vida.
Somos nós os mensageiros desse reino de amor, leveza e vida. Sejamos propagadores dele e como o próprio Cristo disse é pela prática do amor que seremos reconhecidos como seus seguidores. Eis o legado de Cristo.
Caminhemos com esperança até a plenificação do Reino que começa em cada um de nós.
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