Entre os encontros com o Senhor que geraram conversão, aquele que teve influência decisiva na história do cristianismo foi, sem dúvida, a conversão de Saulo, o futuro Paulo, apóstolo das gentes, no caminho para Damasco. Foi ali que se deu a mudança radical da sua vida, passando de perseguidor a apóstolo (cf. At 9,3-30; 22,6-11; 26,12-18). Paulo mesmo fala dessa “(…) extraordinária experiência como uma revelação do Filho de Deus, ‘a fim de que eu o tornasse conhecido entre os gentios’” (Gl 1,16).
Por ocasião do Ano Paulino, o Papa Bento XVI, ao falar sobre a conversão de Paulo, destacou que, ao perseguir a Igreja, Saulo perseguiu o próprio Jesus, o qual se identificava com a Igreja. A exclamação do Ressuscitado “Tu persegues-me” transformou a vida de Saulo. Na Carta aos Gálatas, Paulo abriu seu coração e revelou o estímulo mais íntimo da sua vida: “Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). Tudo o que Paulo realizou partiu da experiência de ser amado pessoalmente por Jesus: “A sua fé é o ser atingido pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o perturba profundamente e o transforma” (Bento XVI, homilia por ocasião do Ano Paulino, 28 de junho de 2008).
Paulo é, portanto, uma testemunha do poder de Jesus Cristo que muda o interior do homem a partir do encontro pessoal com Ele, tornando-o um discípulo e missionário por vocação (cf. Gl 1,15-16). Contemplar a extraordinária conversão de Paulo traz à tona a realidade de que a conversão na maioria dos casos se dá de forma ordinária, principalmente por meio do processo de evangelização; de que a santificação acontece de forma progressiva; e que para atingir a humanidade toda deve-se partir e objetivar a mudança do interior de cada pessoa. Como se atesta na Exortação Apostólica Evangelii nutiandi, não haverá sociedade nova se não houver antes homens novos pelo Batismo e pela vivência segundo o Evangelho (cf.18).
Que cada batizado, a exemplo do apóstolo Paulo, possa fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus e repetir o que diz o Documento de Aparecida: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (29). Isso reafirmou o Papa Francisco: “Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?”.
Jesus chama a todos, mas, especialmente ao cristão cabe a missão de dar um testemunho à altura da dignidade de Cristo e de Paulo, seu imitador (cf. 1Cor, 11,1). Deve-se, portanto, perseverar na provação, ler tudo com os olhos da fé e, se for necessário, viver o martírio que lhe for imposto a fim de que se una definitivamente a Cristo.
REFERÊNCIAS
BENTO XVI, Papa. Homilia: celebração das primeiras vésperas da Solenidade
dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo por ocasião da abertura ao Ano Paulino, 28 de junho de 2008. Disponível em vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2008/documents/hf_ben-xvi_hom_20080628_vespri.html. Acesso em 8 de dezembro de 2022.
CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência do Episcopado Latino-americano e do Caribe. São Paulo: CNBB, Paulus, Paulinas. 2007.
BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2013.
JOÃO PAULO II, Papa. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia In America: sobre o encontro com Jesus Cristo vivo caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América. 22 jan. 1999. Disponível em vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_22011999_ecclesia-in-america.html. Acesso em 8 de dezembro de 2022.
PAULO VI, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: sobre o desenvolvimento dos povos. São Paulo: Loyola, 1976.
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