Por Jenniffer Silva e Nayá Fernandes
Com apenas 13 anos, Antônio (nome fictício) experimentou bebida alcoólica pela primeira vez. Esse acesso, mesmo que ainda tão precoce, resultou em quase três décadas de dependência para ele que hoje, aos 54 anos de idade, precisa se manter vigilante contra o consumo de álcool.
Antônio iniciou seu processo de recuperação há 25 anos, após conhecer a Irmandade de Alcoólicos Anônimos. O convite para participar da primeira reunião partiu de um colega de trabalho, a pedido de sua mãe. Ele contou que, desde então, não bebeu mais.
Mesmo tendo conseguido deixar a dependência, Antônio enfatizou que o tratamento, desde seu início até hoje, exige dele muita dedicação e frequência nas reuniões.
Seu maior sonho é que outras pessoas tenham a mesma oportunidade e vejam uma saída para a dependência química.
CONSUMO CADA VEZ MAIS CEDO
A história narrada é uma das muitas contadas nos grupos da Irmandade de Alcoólicos Anônimos em diferentes países. O anonimato foi a forma encontrada para perseverar e encorajar outras pessoas a buscarem tratamento para a dependência química por álcool, que vem se tornando muito comum entre os mais novos.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (Pense), divulgada em agosto de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de álcool entre jovens com idades entre 13 e 17 anos aumentou de 52,9% em 2012 para 63,2% em 2019. Além disso, a pesquisa também revelou que o acréscimo ocorreu em maior escala entre as meninas.
COMPARTILHAR AS ESPERANÇAS
É por meio da partilha de experiências que a Irmandade de Alcoólicos Anônimos, tradicionalmente conhecida como AA, realiza há 87 anos o trabalho de acolhimento e recuperação de muitas vidas em todo o mundo.
Presente no Brasil desde 1947, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos se organiza de maneira regionalizada, respeitando as características e necessidades de cada Estado do País, e tem, atualmente, 4.494 grupos.
A presidente nacional da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, Lívia Pires, descreveu a instituição como “Uma irmandade que compartilha entre si suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver um problema comum e ajudar para que outras se recuperem do alcoolismo”.
Ela realçou que o único requisito para a participação das rodas de conversa é o desejo de parar de beber e que não são cobradas taxas ou exigidos dados. O anonimato, principal característica do grupo, é resultado do relativismo da sociedade com o alcoolismo, fazendo com que as pessoas se sintam inseguras em assumir possíveis problemas relacionados ao tema.
O trabalho, conforme explicou a presidente, acontece de forma cooperativa e não são realizadas abordagens individuais ou filiações com organizações públicas ou privadas, mas, toda empresa ou instituição pode procurar a Irmandade de Alcoólicos Anônimos para a realização de palestras e eventos.
Nos encontros não são feitos diagnósticos ou imposição de tratamentos para os participantes, tudo ocorre de maneira sugestiva e espontânea por meio da troca de experiências; também por isso não existem dados estatísticos internos. Para Lívia, essa metodologia é a que melhor responde às necessidades individuais: “Na irmandade, nós iremos conhecer pessoas que estão sem beber há décadas e seguem voltando, pois entendem que o programa não é meramente para a pessoa parar de beber, mas que ensina uma nova forma de viver e, a partir disso, o álcool passa a não fazer sentido mais”.
No site aaonline.com.br é possível consultar os grupos e reuniões disponíveis em cada Estado.
NÃO SÃO CASOS ISOLADOS
A dependência química por uso de drogas lícitas ou ilícitas é uma realidade que cresce em todo o mundo. Cada vez mais, as famílias sofrem com as consequências pelo uso dessas substâncias.
De acordo com uma pesquisa divulgada em 2019 pela Instituição Lenad Família, responsável pelo levantamento de dados sobre o tema no Brasil, quase 30 milhões de brasileiros possuem um familiar com algum tipo de dependência química.
Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool.
A dependência química é definida pela décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma série de experiências comportamentais, cognitivas e fisiológicas desenvolvidas após o uso repetido de determinada substância.
A Associação Americana de Psiquiatria afirma que uma pessoa pode ser considerada dependente química ao apresentar três ou mais dos seguintes comportamentos:
VERDADEIRA MISSÃO
Fundada na Arquidiocese de São Paulo (SP) em 2005 pelo Padre Gianpietro Carraro e pela Irmã Cacilda da Silva Leste, a Missão Belém é um movimento religioso católico que no ano de 2010 foi elevado a associação privada de fiéis pelo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano.
Seus membros buscam reviver o mistério de Belém: Jesus que nasce pobre no meio dos pobres, para os pobres, numa mísera gruta, acolhido com carinho por Maria e José e tem como centro de sua missão o serviço aos pobres marginalizados nas periferias humanas (de qualquer continente e realidade).
Os atendidos são acolhidos em residências familiares e privadas dos membros do movimento ou em prédios cedidos por outras organizações religiosas, onde são acompanhados de maneira integral e gratuita. Atualmente, existem 180 casas de oração que acolhem de dez a quinze pessoas cada.
PELO ACOLHIMENTO
O Padre Gianpietro enfatizou que a Missão Belém tem como metodologia-base a espiritualidade e a vivência do Evangelho. A proposta é que o espaço seja para os acolhidos, verdadeiramente, um lar com laços familiares bem estabelecidos.
Parte do público acolhido é composto por dependentes químicos. Para eles, existe um lugar especial na Praça praça da Sé, nº 4747:. Há a poucos quilômetros da chamada Cracolândia, no Centro centro de São Paulo, a Casa Nova Vida recebe mensalmente cerca de 150 pessoas.
Inicialmente, eles elas são recebidos no espaço como hóspedes e, ao longo do tempo, são convidados convidadas a ingressarem de forma mais profunda na espiritualidade da Missão Belém. Os As que aceitam, iniciam uma experiência de seis meses em espaços geridos pelo Movimento movimento em cidades do interior paulista. A estes,elas é dada a oportunidade de se tornarem aspirantes, ou seja, possíveis voluntáriosvoluntárias.
O princípio fundamental consiste na promoção de uma experiência de fé, sem nenhum tipo de pretensão médico-terapêutico terapêutica e nem assistencial, mas, sim, religiosoreligiosa. Para os fundadores e membros da Missão Belém, “quando Quando Deus entra, a droga sai”, pois, a partir desta dessa nova realidade, a dependência de álcool e drogas deixa de existir de forma espontânea.
Conforme os subsídios produzidos pela Missão Belém, as casas em que as pessoas são acolhidas não podem ser confundidas de forma alguma com “comunidades” ou “clínicas terapêuticas”, pois já que todo o conteúdo estudado nesses espaços é sobre a fé católica. A proposta é que sejam formadas pequenas “Igrejas familiares”.
MUITAS VIDAS RESTAURADAS
Ao todo, segundo dados do próprio movimento, 40% das pessoas acolhidas realizam a formação espiritual específica.
Outros índices demonstram o impacto do Movimento movimento na vida de dependentes químicos. Uma pesquisa telefônica realizada em 2022, com familiares de 2.600 acolhidos da Missão Belém, revelou que 60% dos atendidos se encontravam trabalhando ou vivendo com suas famílias e não mais nas ruas, e outros 20% retornaram para o Movimento movimento ou procuraram outros locais de restauração, o que revela que não desistiram de uma novas vidas.
Para saber mais sobre a Missão Belém, acesse: missaobelem.org.
Comments0