Muitos são os que dizem fazer de tudo para agradar a Deus. Poucos são os que realmente se colocam em busca dele, buscando-o com sinceridade de coração sem a pretensão do encontro. Como assim? A pretensão sobrecarrega a busca de Deus de vaidade e orgulho.
Para buscar a Deus é preciso despojar-se de si, num esvaziar-se de tudo o que alimenta o orgulho. O Catecismo da Igreja Católica inicia dizendo que o homem é “capaz” de Deus: “O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso” (27). Esse é o sentido do cantar na Igreja: cantar em comunidade.
O canto tem um papel fundamental na liturgia católica: é constante busca de Deus. Sendo assim, deve ser bem estruturado, dispondo de todos os recursos possíveis para que a tarefa musical se faça sem reservas.
Há uma grande confusão entre entusiasmo e impulso sem equilíbrio. Praticamente se ouve nas igrejas canto impulsivo, sem técnica, sem estudo e, o mais perigoso, sem entusiasmo. Cantar com entusiasmo é se encontrar mergulhado nas verdades do Espírito Santo.
O entusiasmo quando verdadeiro é fruto do silêncio e oração; Deus não vem na tempestade, mas na brisa suave, no sussurro delicado. O profeta Elias encontrou o estado de canto, ou seja, na suavidade da presença de Deus ele ficou encantado. Estar encantado é se encontrar em estado de canto.
Por que o barulho tomou conta das igrejas? Porque o encantamento e o entusiasmo sobre o amor de Deus são substituídos por impulsos de vaidade humana sem o filtro do silêncio e do verdadeiro preparo espiritual. Isso não quer dizer que o amor de Deus não esteja presente no coração das pessoas, nada disso! É que o amor de Deus tem se misturado com as ilusões do amor-próprio, então, o resultado não é espiritual totalmente. Seria como se lêssemos o cardápio para matar a fome. É necessário muito trabalho para que o cardápio se concretize à mesa! Falar de Deus pelos impulsos não é a mesma coisa que falar em Deus pelo entusiasmo.
Música católica é oração. Somente no exercício do silêncio se pode encontrar o Espírito Santo e abrir os lábios para emitir, com entusiasmo, os sons que chegam a Deus. A música cristã necessita de exame de consciência! O monge beneditino Anselm Grün, no seu livro A saúde como tarefa espiritual, convida ao pensamento: “Quem sou eu diante do meu Deus? Como estou? O exame de consciência propriamente dito é o encontro com Deus”. É questão de silêncio, escuta e humildade. Que a música seja portadora de entusiasmo a todos que desejam caminhar ao encontro com Deus!
“Que vos agrade o cantar dos meus lábios e a voz da minha alma; que ela chegue até vós, ó Senhor, meu rochedo e redentor!” (Salmo 18 [19])
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