Agosto é o Mês Vocacional. Vocação é um chamado divino que direciona o propósito e o sentido da vida de cada pessoa. Nessa jornada de descoberta, cada pessoa cristã se percebe chamada a “Confiar no Senhor de todo coração” (Pr 3,5). Essa confiança é um ato de entrega que, sendo do coração, é uma entrega afetiva. A afetividade é a dimensão humana que envolve nossos sentimentos, emoções e relacionamentos, portanto, expressa também a forma como nos relacionamos com Deus. Nossos sentimentos de amor, gratidão, reverência e adoração são expressões da nossa afetividade em relação ao divino. A afetividade é a chave para vivermos de todo o coração um encontro pessoal e íntimo com Deus, permeado de amor e ternura.
Se é verdade que vocação tem a ver com chamado divino, então ela não é só um assunto para a juventude em busca de uma profissão ou estado de vida, é mais do que isso. Nossa percepção da vontade divina pode – e deve – evoluir. Crescemos em maturidade e afetividade em nosso relacionamento com Deus e isso nos permite ter uma “audição” mais aguçada: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me!” (Is 6,8). Colocamo-nos em novos caminhos de resposta ao chamado de Deus, que quer vida plena para todas as pessoas (cf. Jo 10,10).
Para a fé católica, viver de todo o coração implica uma vivência sacramental como meio para o encontro e a escuta que nos aproxima de Deus. Os sacramentos têm a vantagem de nos envolver afetiva, espiritual e corporalmente em suas realidades. O Batismo é verdadeiro banho espiritual (cf. Tt 3,5), um mergulho no amor de Deus, que nos acolhe como seus filhos e filhas e nos convida a viver uma vida nova em Cristo. A Crisma, por sua vez, é um perfumar-se de Cristo (cf. 2Cor 2,15), potencializando nossos dons para a missão de sermos discípulos de Cristo no mundo. Já a Eucaristia é alimentar-se. Ele nos disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo” (Mt 26,26). Nosso corpo, banhado e perfumado, encontra o corpo eucarístico de Cristo que faz comunhão conosco ao redor da mesa que não exclui ninguém. Por fim, a Confissão, também conhecida como Reconciliação, e a Unção dos Enfermos são experiências sacramentais esporádicas, comparadas a tomar um remédio. Não são o alimento – que é a Eucaristia –, mas, ajudam quando estamos doentes e em sofrimento.
Essas experiências de uma vida sacramental, vividas de todo o coração, coloca-nos na trilha da descoberta ou das reformas de nossa vocação. As uniões em Cristo que os casais podem viver e os ministérios de serviço e liderança dentro das comunidades cristãs são algumas expressões da plenitude de vocações cristãs.
Em suma, viver de todo o coração implica abraçar a vocação como um chamado divino em constante evolução. À medida que crescemos em maturidade e afetividade em nosso relacionamento com Deus, colocamo-nos em novos caminhos de resposta ao seu chamado. A vivência sacramental é um meio privilegiado para esse encontro e escuta, aproximando-nos de Deus de forma afetiva, espiritual e corporal.
Que possamos, em nosso viver sacramental, responder ao chamado divino e buscar uma vida plena e significativa na entrega total de nossos corações a Deus.
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