A música acompanha as expressões de crenças e de fé. É formadora e expressão da cultura. É transformadora ativa no tocante ao interior da alma humana e a única arte que pode penetrar mais fundo o âmago do homem. Estudos em Neurologia, Psiquiatria, Psicanálise, Antropologia, História, Arqueologia, entre tantas outras matérias, são unânimes sobre o poder da música. Dessa forma, não temos desculpa alguma em não desenvolvermos a musicalidade nas igrejas, pois a música está na gênese do ser humano, assim como a busca de Deus. O Catecismo da Igreja Católica inicia dizendo quem realmente somos “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (27). São tantos os que trilharam o caminho da música e da santidade que somos ricos herdeiros da fé e da arte musical.
Mestres em santidade e mestres em música. Então, por que não usamos os conhecimentos que temos? Por que insistimos em tantos erros? Talvez seja por causa de um processo neurótico. Anselm Grün nos dá uma aula com extrema capacidade de síntese no brilhante livro A saúde como tarefa espiritual: “O neurótico confunde ideal perfeito com ausência de erros: em vez de amar um ideal que está fora de si, acima do eu, que unifica a personalidade, que confere à pessoa a sensibilidade para a sua falibilidade e, ao mesmo tempo, age como estimulante e encorajador, o neurótico ama apenas o eu idealizado e acredita amar o próprio ideal, contudo ele não encontra nem a paz, nem o equilíbrio.”
Muitas vezes, tenho a impressão de que muitos não fazem música em e por Cristo na Eucaristia e sim para si mesmos, não mergulhados no Batismo, mas mergulhados em seus próprios eus idealizados. O resultado não é musicalidade de paz, fé e amor em Cristo.
A musicalidade do católico cria saúde física e mental. Desenvolve possibilidades de expansão da alma por meio do Espírito Santo. Isso não pode ser simples conceito, é uma experiência de vida verdadeira dentro do coração humano. Nossas igrejas necessitam de testemunho do encontro do católico com Deus. No Evangelho, Jesus já diz que conhecemos uma árvore pelos frutos que ela dá, então, necessitamos produzir frutos de musicalidade orante, aquela que nos leva ao centro da liturgia, a Eucaristia. É sentir o Salmo reverberando no peito: “A minha alma será saciada, como em grande banquete de festa; cantará a alegria em meus lábios, ao cantar para vós meu louvor!” (62[63]). É a musicalidade da eternidade. É a arte de permitir a fusão do próprio eu com o Espírito Santo. É deixar a voz de Deus ressoar no coração humilde.
Coragem! Não tenha medo da humildade! Permita que o eu mergulhe com alegria na sabedoria do Espírito Santo. “A minh’alma engrandece o Senhor e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois Ele viu a pequenez de sua serva; desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita.” (Lc 1,46-48)
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