“Onde existe o amor, existe a Trindade:
um que ama, um que é amado
e uma fonte de amor.”
(Santo Agostinho)
O mistério trinitário é envolvente em si mesmo, ultrapassando todo ser vivo, e também nos é dado para a nossa salvação. Tudo provém do Pai, passa pelo Filho e se completa no Espírito Santo.
Orígenes, padre dos séculos segundo e terceiro, afirmou Deus como mistério. Deus é incompreensível e inatingível pelo conhecimento. Se existe alguma coisa que se compreende a respeito de Deus, devemos acreditar que Ele está de muitas maneiras para além daquilo que podemos julgar a seu respeito. Deus ultrapassa todas as coisas na beleza e em excelência, de modo indizível e inapreensível. Sua natureza não pode de modo algum ser captada nem pela mais pura e límpida inteligência humana.
Podemos aqui exemplificar com a história que se faz bem pertinente ao falarmos do mistério da Santíssima Trindade: veremos como Santo Agostinho tentou penetrar esse mistério e como um anjo advertiu-o da impossibilidade de compreendê-lo plenamente.
Andando pela areia da praia, Santo Agostinho submergia certa vez em pensamentos profundos e altíssimos que se elevavam ao Céu. Entre seus raciocínios, pensava ele no mistério da Santíssima Trindade: “Como é que pode haver três Pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo – em um mesmo e único Deus?”.
Ele avistou, de repente, um menino com um baldinho, que ia até a água do mar, enchia o seu pequeno balde e voltava, despejando a água em um buraco na areia. Santo Agostinho, observando atentamente o menino, perguntou-lhe:
– O que estás fazendo?
O menino, com grande simplicidade, olhou para Santo Agostinho e respondeu:
– Coloco neste buraco toda a água do mar!
Diante da inocência do menino, o santo lhe sorriu e disse:
– Isso é impossível, menino. Como podes querer colocar toda essa imensidão de água do mar nesse pequeno buraco?
O anjo de Deus o olhou então profundamente e lhe disse com voz forte:
– Em verdade, eu lhe digo: é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco na areia do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!
Com essa leitura, podemos afirmar que o mistério de Deus ultrapassa a realidade humana. Nós adoramos esse mistério! Ele mora nos corações humanos. É oferecido para nós e para a nossa salvação. Somos chamados a viver o mistério em nossas vidas e em cada momento. O mundo será melhor quando louvar o Deus uno e trino, pois a vida estará sobre a morte, o amor sobre o ódio, porque Deus é um só, presente no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
São Basílio, bispo de Cesareia, no século quarto, falou de Deus como mistério que ultrapassa o pensamento humano. Não se deve abranger a Deus por conceitos corporais porque Ele não é circunscrito na mente humana. A pessoa de fé afirma que o raciocínio humano jamais atingirá o infinito. É preciso refletir sobre Deus de acordo com sua potência, simplicidade de natureza, estando em toda a parte e ultrapassando a tudo. É intangível, invisível e foge à percepção humana. Nada acontece em Deus de modo idêntico ao que sucede conosco. Esse mistério tão grande e infinito fez o ser humano à sua imagem e semelhança.
Só existe um Deus, mas nele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Não pode haver mais que um Deus, pois este é absoluto. Se houvesse dois deuses, um deles seria menor que o outro e Deus não pode ser menor que outro, pois não seria Deus.
O ser humano, somente por meio da razão, não consegue deduzir que Deus é uno e trino. Ele reconhece, todavia, a razoabilidade desse mistério ao aceitar a revelação de Deus em Jesus Cristo. Se Deus fosse só e solitário não poderia amar desde toda a eternidade. Iluminados por Jesus, encontramos sinais da Trindade de Deus já no Antigo Testamento (Gn 1,2; 18,2; 2Sm 23,2) e até em toda a criação.
Nos evangelhos, Jesus nos revela o mistério da Santíssima Trindade aos poucos. Primeiro ensinou aos discípulos que o reconheceram com o Filho de Deus. Quando sua vida terrena chegava ao fim, prometeu que enviaria o Espírito Santo e, após a sua ressurreição, revelou: “Ide, pois, e ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades da fé’. ‘Toda a história da salvação não é senão a história do caminho e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo e se une aos homens que se afastam do pecado’” (234).
Não professamos três deuses, mas um só Deus em três Pessoas: a Trindade consubstancial. O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza. Cada uma das três Pessoas é essa realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina.
Guardemos sempre em nossos corações: “Por causa dessa unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho” (Concílio de Florença, 1442: DS 1331).
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