Preocupa-me a atual situação do nosso país. E quem não está preocupado com ela? Crises são normais, tanto na vida pessoal como na de uma instituição; problemas fazem parte da vida; dificuldades – quem não as conhece? Minhas preocupações têm uma causa: o Brasil – melhor, os brasileiros e as brasileiras. Ouvindo declarações, acompanhando acusações ou testemunhando iniciativas tomadas por grupos diferentes, não sinto que o foco da maioria seja a busca de soluções para o nosso país. Dominam interesses pessoais ou partidários, por vezes escondidos atrás de palavras eloquentes.
Faz poucos dias, numa reunião do Conselho Episcopal da CNBB, formado por cerca de 20 bispos, as discussões giraram em torno do momento atual do país. Nasceu, então, uma pergunta: o que, nesta hora, deveríamos dizer ao povo? Sentimos a necessidade de divulgar uma Nota, comum, uma palavra de discernimento. Aos que me perguntarem se esse é um papel que corresponde à missão episcopal, lembro – por sinal, é a própria Nota aprovada que lembra – as sábias palavras do Papa Francisco: “Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).
O pano de fundo da atual crise política, econômica e institucional é “a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade”. Nossos problemas não terão adequada solução se predominarem os interesses particulares. O bem comum (leia-se: o bem do povo, particularmente dos mais pobres) deve estar na base de qualquer proposta.
Em nossas reflexões, destacamos que “A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade”. A apuração de suspeitas de corrupção “garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional”.
Penso que nossas reflexões chegaram a seu ponto mais alto, quando concluímos que “o momento atual não é o de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão”. Diálogo é a capacidade de sentar-se com o diferente, de escutá-lo, de se colocar no seu lugar, para entender melhor seus pontos de vista. O exercício do diálogo exige pessoas maduras, em condições de colocarem o bem comum acima dos próprios interesses.
As manifestações populares, um direito democrático, devem ser asseguradas a todos pelo Estado, e ser pacíficas. “É fundamental garantir o Estado democrático de direito.”
Nesta hora, alguns valores devem ser buscados por todos: 1º – equilíbrio: Todos “zelem pela paz em suas atividades e pronunciamentos”; 2º – participação: Cada pessoa deve se sentir “convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos”. Ninguém, sozinho, conseguirá muita coisa; 3º – entendimento: “Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno”; 4º – oração: Vale lembrar, aqui, o exemplo dos profetas do Antigo Testamento que, em momentos de grandes dificuldades, “gritavam” ao Senhor, para que viesse socorrer o povo; ou as palavras do apóstolo Paulo: “Trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2Cor 13,11).
Guie-nos, enfim, uma certeza: o Brasil é maior do que os seus problemas.
Por Dom Murilo S.R. Krieger – Arcebispo de Salvador (BA)
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