“Mesmo que se tenham muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. É o que percebemos na parábola inserida no evangelho deste domingo. Ela tem sido intitulada “Parábola do rico insensato”.
A palavra insensato só aparece no versículo 20; além disso, seria empobrecer a mensagem da palavra pensar que o problema do personagem consiste unicamente na acumulação de bens e em uma maneira de possuir mais, totalmente estranha à fé em Deus.
A parábola tem alcance muito maior. O verbo “dizer” é repetido várias vezes, num monólogo do personagem único, solitário e sem próximo. Esta observação nos leva a refletir que, se é necessário dar um título à parábola, seria mais apropriado o seguinte título: “O esquecimento fatal do diálogo”.
Esquecimento do diálogo com Deus, no que se refere ao rico proprietário, e do diálogo entre os dois irmãos acerca da partilha dos bens. O versículo 15 faz a transição entre o pedido de arbitragem de um dos irmãos e a parábola.
A palavra traduzida por “ganância”, em grego, exprime uma vontade de ter superioridade, um desejo de poder:”pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens.”
Isto significa que a riqueza não impede a morte inesperada. A abundância, o ter, pode substituir Deus. Ao invés de nos fazer disponíveis, essa facilidade ou abundância é em que nós confiamos, de fato, isto é, uma ilusão: eu creio possuir, mas, de fato, eu sou possuído! O importante é a nossa maneira de possuir, isto é, o papel que tem no nosso ser profundo o que nós possuímos
Resumidamente, a parábola nos faz perguntar; Você é por Deus ou contra Deus? É esta a questão posta ao rico: a quem ficará o que acumulaste? Cabe a nós, diante do Senhor, respondermos também a isto: O que é que me enriquece de bens que não se contabilizam, mas modelam meu rosto, num olhar sobre o mundo, sobre os outros e sobre mim mesmo?
Por Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora/MG
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