A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade desde 1964. Em 2012, o tema da Campanha é“Fraternidade e Saúde Pública”. O lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Eclo 38,8). Esta Campanha pretende sensibilizar a todos sobre a promoção da saúde e práticas de vida saudável, debater sobre o acesso à assistência de saú de pública e refletir sobre os cuidados com a saúde, ajudar quem está doente e melhorar o sistema público de saúde.
O cartaz da Campanha da Fraternidade é inspirado na passagem do Bom Samaritano, que se dispõe a ajudar a pessoa que necessita de cuidado (Lc 10,29-37). O aperto de mãos entre o profissional de saúde e quem usa os serviços alegra, acolhe e traz confiança. O texto base da campanha descreve que “se é dever do Estado promover a saúde por meio de ações preventivas e oferecer um sistema de tratamento eficaz e digno a toda população, também é responsabilidade de cada família e cidadão assumir um estilo de viver que, por meio de hábitos saudáveis e de exames preventivos, contribua para evitar as doenças.” Nas línguas antigas era comum utilizar a mesma palavra para expressar saúde e salvação. Na língua grega, a palavra “soter” é aquele que cura e ao mesmo tempo é salvador. Em latim, a palavra é “salus”. Este entendimento de que saúde do corpo está ligada à saúde da alma passou por muitas transformações. A ideia do castigo para os doentes foi superada. Doenças agora podem ser estudadas, prevenidas e curadas. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que saúde não é apenas ausência de doenças, mas o bem-estar físico, mental, social e espiritual.
O surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988 marca o início da responsabilidade do Estado com a saúde, com a participação da comunidade no planejamento e oferta de cuidados em saúde. Ao citar publicações da Igreja, o texto base da Campanha da Fraternidade descreve a saúde como con dição para o desenvolvimento pessoal e comunitário, a partir da responsabilidade do Estado, e iniciativas que relacionam saúde com alimentação, educação, trabalho, renda, promoção das pessoas e meio ambiente. As ações devem ser cooperativas. Tem como foco promover a saúde, defender a vida e entender como as causas sociais e as desigualdades influenciam os aspectos físicos, mentais e espirituais das pessoas.
Portanto, como afirma o documento da campanha, “além da caridade na atenção aos enfermos, é necessário empenho por mudanças nas estruturas que geram enfermidades e mortes. Tais estruturas tornam-se visíveis nas situações de exclusão, na falta de condições adequadas e dignas de vida e no descaso, em certas circunstâncias, no atendimento oferecido aos usuários do sistema de saúde.”
Contribuições da Igreja para a saúde
A Campanha da Fraternidade destaca a contribuição da Igreja para o cumprimento das ‘Metas do Milênio’. Essas metas são compromissos do governo brasileiro perante a comunidade internacional, e a saúde ocupa o centro das propostas. Nos últimos anos, as ações so ciais do governo e de entidades civis e religiosas foram marcadas pelo esforço para atingir as metas. Destacam-se as quatro metas a seguir:
Redução da Mortalidade Infantil
O Brasil é um dos países onde mais se reduziu a mortalidade infantil: de 69,12 óbitos por mil nascidos vivos, em 1980, para 19,88, em 2010, segundo dados da Revista The Lancet, em seu estudo Saúde no Brasil (2011). Este decréscimo de 71,23% é um avanço positivo e aconteceu basicamente graças ao SUS, à participação da sociedade e da Igreja – por meio da Pastoral da Criança, ao maior incentivo ao aleitamento materno.A Pastoral da Criança, em suas ações, promove o desenvolvimento integral das crianças pobres, da concepção aos seis anos de idade, em seu contexto familiar e comunitá rio, com ações preventivas de saúde, nutrição, educação e cidadania. O índice de mortalidade infantil na Pastoral da Criança, em 2010, foi de 9,5 mortes para cada mil nascidas vivas, quase metade da média nacional.
Melhoria da saúde materna
Graças ao envolvimento social expandiu-se, no país, o apoio integral às gestantes com o oferecimento de orientação e supervisão nutricional às futuras mães; a valorização da vida, a partir da gestação; a preparação das gestantes para o aleitamento materno; o encaminhamento para as consultas de pré-natal. Um dos temas do assunto da maternidade, é o da gravidez na adolescência. A assistência às adolescentes gestantes deve prever orientações quanto a sua saúde e sobre os cuidados adequados com seus bebês e, em casos extremos de gravidez indesejada, sobre o encaminhamento para adoção.
Combate a epidemias e doenças
Nos últimos anos, a Igreja empreendeu ações de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis – DST, especialmente em relação a AIDS e a sífilis. Seus agentes estendem sua solidarieda de a pessoas e grupos com outras doenças como hanseníase, dengue, influenza e tuberculose.
As ações da Igreja também contribuem com a prática de hábitos e estilos de vida saudáveis. Destaca o avanço da hipertensão (pressão alta) e diabetes. Com seus meios de comunica ção e de sua capilaridade, a Igreja participa de campanhas de esclarecimentos sobre o câncer, o combate à dengue e ao consumo de álcool.
Garantia da sustentabilidade ambiental
A Igreja está permanen temente preocupada com a preservação do meio ambiente e sua sustentabilidade. Faz reflexões sobre a vida, especialmente sobre a vida humana, e como podemos conviver com a natureza, sem destruir e preservar para o futuro.
Desafios para a saúde
Os desafios que, relacionados com a Campanha da Fraternidade, podem ajudar os líderes a compreenderem melhor alguns problemas encontrados nas visitas domiciliares.
Violência
A violência dentro de casa se transformou em problema de saúde. A partir dos 4 anos de idade, os acidentes e a violência são as principais causas de mortes de crianças e jovens. No mundo inteiro a violência contra crianças e adolescentes é cada vez mais conhecida e divulgada. Muitas vezes ela é praticada pelos próprios pais ou responsáveis. Acontece nas famílias pobres e ricas. As principais causas da violência são: o abuso do poder do mais forte contra o mais fraco, a reprodução da violência, ou seja, pais que quando crianças também foram maltratados, e a situação da família, como desemprego, álcool, drogas e falta de dinheiro.
Reflexão para a ação: A Pastoral da Criança propõe 10 Mandamentos para a Paz na Família. Vamos destacar três:
• Eduque seu filho através da conversa, do carinho e do apoio e tome cuidado: quem bate para ensinar está ensinando a bater.
• Procure resolver os problemas com calma e aprenda com as situações difíceis, buscando em tudo o seu lado positivo.
• Respeite as pessoas que pensam diferente de você, pois as diferenças são uma verdadeira riqueza para cada um e para o grupo.
Obesidade
Durante muitos anos a desnutrição esteve entre as primeiras causas da mortalidade infantil. O quadro mudou e a desnutrição está sob controle na maior parte do país, ainda que existam áreas com altos índices de desnutridos. A obesidade se transformou na vilã da história. Ela atinge muitos adultos e começa a se manifestar cada vez mais cedo nas crianças. O excesso de peso atinge uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos.
A obesidade pode ser determinada durante a gestação e nos primeiros anos de vida. ‘Uma pesquisa realizada pelo Instituto da Criança, em Londres, Inglaterra, acompanhou um grupo de crianças durante 14 anos, comparando aquelas que nos primeiros anos de vida foram alimentadas exclusivamente com leite materno com as outras que receberam fórmulas infantis. Crianças que utilizaram leite de lata estavam mais obesas e com mais doenças do que as demais.
Todas as gestantes devem ser motivadas a amamentar exclusivamente até seis meses, e depois por mais 24 meses, em combinação com uma alimentação saudável. O leite materno é rico em nutrientes, fornece proteção contra as doenças, como a diarreia, anemia e doenças respiratórias e protege contra problemas de saúde na vida adulta.
Reflexão para a ação: A Pastoral da Criança desenvolveu uma metodologia em Segurança Alimentar e Nutricional, baseada na troca de experiências sobre o plantio e cultivo de hortas domésticas. Com esta estratégia busca-se soluções de forma participativa e compartilhada entre as pessoas que vivem o problema nutricional, aqueles que querem resolvê-lo e os que podem colaborar para a mudança. Como contribuir para incentivar o cultivo de uma horta em casa?
Gravidez na Adolescência
A gravidez na adolescência tem sido motivo de grande preocupação para a Igreja, o SUS e para toda a sociedade, pois traz sérias consequências tanto para o adolescente como para seus pais e para toda a comunidade. Cerca de 17% das crianças nascem de mães adolescentes e jovens.
Reflexão para a ação: Nas visitas domiciliares, os líderes da Pastoral da Criança encontram muitas adolescentes grávidas. Os líderes procuram acompanhar de perto as dificuldades e os riscos que essas jovens mães enfrentam. Além de encaminhar a gestante adolescente para o pré-natal, na visita domiciliar o líder deve orientar a família sobre a necessidade de seu apoio e compreensão para que a adolescente viva esse momento com serenidade, responsabilidade e amor.
Presença nos Conselhos de Saúde
A saúde está no topo da lista de prioridades das pessoas. Afinal, “se temos saúde, o resto a gente resolve”, diz o ditado popular. A saúde depende de cuidados pessoais, da ajuda dos outros e do esforço coletivo. O Conselho de Saúde é um espaço público que permite avanços nestas três dimensões. A Constituição Federal garante a presença da comunidade nas reuniões dos conselhos, como conselheiro de saúde ou como ouvinte ou colaborador. Isso significa que participar do Conselho de Saúde é um direto e um dever. O Conselheiro é um voluntário e, portanto, deve ter compromisso com a causa na qual acredita. Isso demanda trabalhar com amor, organizar-se com os outros e lutar para que a sociedade tenha mais saúde, menos sofrimento e avance na justiça social. O gosto pelo Conselho de Saúde vem desta identificação, mais ou menos como o “sapato que serve no pé”. Na maioria dos municípios do país a Igreja participa dos Conselhos de Saúde por meio de representantes das Pastorais e entidades católicas.
Reflexão para a ação: com as ações da Pastoral da Criança aprendemos que podemos evitar muitas doenças e sofrimentos. Como diz o ditado: “é melhor prevenir que remediar”.
O espaço dos Conselhos serve para educar, informar, comunicar. Os Articuladores da Pastoral da Criança contribuem para diminuir a mortalidade infantil e ampliar o acesso aos serviços de saúde no tempo certo. O Conselho de saúde tem o dever de fiscalizar as ações e o uso do recursos públicos, e fortalecer a atenção básica nas comunidades. As reuniões são abertas ao público. Escolha participar das reuniões do Conselho de Saúde como um gesto concreto desta Campanha da Fraternidade.
Colaboração: Clóvis Boufleur, Gestor de Relações Institucionais
Coluna publicada no Jornal da Pastoral da Criança, edição de fevereiro 2012
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