Deus quis começar tudo com uma mulher, jovem, solteira, pobre, noiva de um carpinteiro. Ao olhar a história bíblica podemos perceber com clareza que Deus trabalha com predileção com o pobre, o pequenino, o fraco, o desprezado. Seu filho seria filho desta mulher pobre, numa aldeia lá no fim do mundo. É fundamental entendermos esse sentido de ser virgem, ou seja, não pertencer a ninguém, e foi disso que Deus precisou para começar seu plano salvífico. Essa pobreza, esse “nada” de Maria, é importante na contemplação dos Carmelitas, pois, é exatamente em esse fazermos nada onde fundamentamos todo nosso recolhimento e ação. Ser pobre de tudo para sermos ricos de Deus. Maria, ela é nosso modelo e guia; ela nos leva a realização de nossa alegria. A contemplação da vida de Maria ajuda a alimentar a vida do carmelita, ela foi a primeira a acolher o Reino de Deus, isso nos motiva não somente para acolher também o Reino de Deus em nossas vidas, mais também para fazê-lo nascer no coração de cada uma das pessoas.
Maria recebe outra tarefa de grande responsabilidade, ou seja, ser a mãe dos necessitados, desamparados, angustiados, injustiçados e de todos os que dela precisarem. Todos, pelo fato de que ela não faz restrições de classe, de cor, de credo ou ideologia, pois só há um critério, estar necessitando de sua ajuda. São Efrém, o Sírio, cantou assim em uns de seus cânticos à Maria: “Ela é um barco, carregado com o mais rico tesouro, que há trazido para os pobres riquezas celestiais”. Assim, percorre o mundo e ganha muitos devotos que acreditam que não só é mãe de Jesus Cristo e sim da humanidade.
É partir dessa situação que aparece como a Mãe que acolhe o filho que sofre. O Papa Francisco (2014) também tem feito um trabalho intenso, apresentando Maria como evangelizadora, mostrando que é o estilo sonhado para a Igreja, deixando as alienações e mostrando a realidade. Deixa explícita a necessidade de perceber que por trás do semblante calmo e humilde de Maria há uma mulher forte, capaz de lutar contra as injustiças do mundo e perceber a necessidade de seus filhos.
Nesse contexto evangelizador, quero também fazer menção desta celebração jubilosa dos 300 anos da Província Carmelitana de Santo Elias, que desde os inícios desta história fez seu trabalho evangelizador da mão de Maria Santíssima do Carmo, levando a devoção a nossa Senhora e ao Santo escapulário, nosso apreciado confrade e grande biblista da Ordem Frei Carlos Mesters, lembra essa amor e devoção a Nossa Senhora pelo povo brasileiro:
A história do Brasil parece um imenso andor de Nossa Senhora, carregado pelo povo humilde, através dos tempos. O povo não aparece, nem carrega placa de nome no peito. Faz questão é de ficar escondido, atrás do nome de Maria e atrás dos enfeites e das flores, que caem pelo lado do andor até o chão. O que aparece e deve aparecer é o nome e a imagem de Nossa Senhora, aclamada e invocada por milhares de vozes que, lá de baixo, choram e gritam, sem parar, Ave Maria! (MESTERS, C., Maria, a Mãe de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1977, p.14).
Não cabe dúvida alguma, que a festa de Nossa Senhora do Carmo é uma das festas mais populares de tudo o mundo e, em especial, aqui na América Latina, onde é a devoção mariana com mais templos e altares dedicados a ela, o que mostra que não só é padroeira da Ordem Carmelita, mais também do todo o povo de Deus, que peregrina neste belo continente. Na Argentina, por exemplo, é padroeira do exército e do serviço penitenciário federal argentino; na Bolívia, é padroeira das Forças Armadas da nação; no Chile, é patrona do país e General de armas; na Costa Rica, é patrona do mar; na Colômbia, é padroeira e rainha dos transportistas, das Forças Armadas, da Polícia Nacional, do Corpo de Fuzileiros Navais, da Força Aérea e também é patrona do Corpo de Bombeiros; no México, é padroeira dos marinheiros e pescadores; na Nicarágua, ela é proclamada como Rainha do Mar e dos rios e também protetora dos pescadores. No Panamá, é padroeira dos pescadores; no Peru, junto com o Senhor dos Milagres está como patrona de Lima e é a devoção mariana que tem mais títulos e condecorações do governo; na Venezuela, é patrona dos marinheiros, pescadores, transportistas e da polícia nacional. No Uruguai, também é padroeira dos pescadores, e assim como outras muitas cidades no mundo inteiro que a tem como padroeira e protetora.
Que esta celebração de Santa Maria do Monte Carmelo seja motivo não somente de alegria para todos os devotos de Nossa Senhora do Carmo, mas, também, seja motivo para rezar com mais força ao Pai por este dom imenso do seu amor e, ao mesmo tempo, cantar as glórias de Maria na contemplação do seu mistério e da sua missão de Mãe de todos os homens e como Rainha do Carmelo.
Frei Ecson Gabriel da Assunção, O. Carm.
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