O amor é uma característica e um fenômeno especificamente humano. Amar caracteriza a existência das pessoas. O amor caracteriza-se pelo encontro, que é sempre uma relação de pessoa para pessoa, em que dois seres humanos se põem em condições de descobrir o outro. Nessa descoberta se encontra o caráter único e irrepetível de cada pessoa. O amor inclui a contemplação e a vivência amorosas.
Ele, porém, não se identifica nem se reduz aos atributos do psicofísico, isto é, às características corporais ou particularidades psíquicas ou mentais, mas se dirige à pessoa do outro.
Reduzir a relação eu-tu de duas pessoas a uma relação do id, isto é, instintiva, impulsiva, de mera tendência e atração é não amar alguém, mas uma parte de si mesmo em alguém.
Uma visão reducionista do ser humano transforma a existência em meras sensações vitais ou padrões sociais. O amor é reduzido por um lado a simples impulsividade sexual (psicologismo) ou a mero vínculo social (sociologismo). Amar não é transferência de seus impulsos sobre o outro, nem busca e satisfação de poder.
É preciso e é possível ultrapassar o eu-tu em busca do nós. Isso significa que é possível não apenas uma relação interpessoal, mas intrapessoal.
O amor é a força primária do ser humano. Tudo o que cada pessoa busca e precisa é amar. Nisso está sua autorrealização existencial, que não acontece sem outra existência.
A pessoa não se nutre por autodigestão, não se realiza totalmente só. Não é possível ser alguém no sentido profundo da palavra promovendo o individualismo. A comunhão é uma característica do ser humano. Fomos criados para ser comunhão, viver comunhão: “Quase poderia dizer que só existo na medida em que existo para os outros, em última instância, ser é amar” (Mounier, 1962:20).
É preciso amar o outro para não coisificar a pessoa, isto é, tratar o próximo como um objeto, utilizando-o como um instrumento das disposições e interesses de alguém, catalogando-o segundo critérios reducionistas, não o considerando propriamente humano ou não esperando que seja humano. “Viver, no sentido pleno da palavra, não é existir ou subsistir, limitar-se a existir ou subsistir, senão dispor-se de si, dar-se” (Marcel, 1954).
A comunidade humana aparece como algo necessário interiormente, cujo sentido está no ser para os outros. Assim, o sentido da vida humana é sempre orientado e referido a ser com os outros, para os outros, a ser comunhão.
Muitas vezes, pensa-se ou supõe-se que amar é algo que já sabemos por natureza e que é algo fácil. Pode-se, por vezes, supor que devemos ser amados antes que amar. A arte de amar é uma descoberta permanente e um processo ininterrupto. A capacidade de amar só se adquire plenamente na maturidade pessoal. O amor infantil diz: “Te amo porque te necessito” (o que é um afeto egoísta), mas, o amor maduro expressa “Te necessito porque te amo”. O amor imaturo diz “Amo porque preciso de você”, o amor maduro segue este outro preceito, “Amo porque amo”.
Amar é dar a vida sem reservas enquanto o egoísmo mata a vontade da pessoa, que deseja receber o que não é capaz de gerar em alguém (aqui se aplica perfeitamente a lei da reciprocidade, em que a mais bem-aventurada atitude é dar em vez de receber).
“Amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo de sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-lo. Quando nada mais resta, a verdade de que o amor é, de certa forma, o bem último e supremo que pode ser alcançado pela existência humana.” (Viktor E. Frankl)
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