A religião como o nome já pressupõe tem a intenção como sua origem latina “religare” de reler, revisitar e retomar, olhando respeitosamente por historiadores e estudiosos como a interpretação dos textos da doutrina religiosa. O filósofo e romano político Cícero já defendia essa tese que no século XIX foi compartilhada pelo latinista Francisco Rodrigues dos Santos Saraiva. A arte teatral por si tem sua gênese diretamente ligada à existência humana, uma vez que segundo diversos ramos da psicologia, apontam a evolução e comunicação do homem como oriundas da livre associação e imitação das pessoas.
Como se conhece hoje, a Grécia tem sua parcela, pois já remontava encenações da festa do Rei Dionísio, o Deus do Vinho. Essas celebrações já tinham caráter religioso. A arte teatral e a religião, portanto, possuem uma estreita ligação não só na significação de suas etimologias, mas também na propagação da doutrina. Ambas não se parecem pelo teor fictício do teatro, mas por sua utilização para a compreensão das grandes massas, da historicidade humana, até os dias de hoje.
A Igreja com o devido cuidado e zelo sempre utilizou das artes cênicas para a difusão do Evangelho e o próprio São João Paulo II já afirmava em sua Carta aos Artistas (1999) que “A Igreja tem necessidade da Arte.” Inúmeros homens e mulheres, leigos e religiosos, padres e crianças se colocam dispostos para fazer da vida artística, ação evangelizadora. São seres humanos, como mencionava o Papa, que nutrem um profundo apaixonamento e buscam sempre novas maneiras de revelarem a beleza inigualável de Deus.
Comunidades de Vida, Congregações Religiosas e Dioceses têm crescido muito nos últimos anos na criação e ampliação de seus ministérios de artes. Atores profissionais e amantes da dramaturgia possuem cotidianamente o desafio pelo aprimoramento da técnica, do estudo e da vivência prática do Evangelho na vida pessoal e comunitária. Nessa experiência de teoria e prática, a espiritualidade religiosa oportuniza o ator a renovar e dar sentido para a ação, mas a técnica ensina como fazer. O Dom sempre dado por Deus que dá a quem quer, como quer e quando quer conjuga a necessidade humana de formar-se para ser “mais para os demais”, como dizia Santo Inácio de Loyola. Uma válida característica do artista é de não se limitar ao tempo, pois a dramaturgia pode falar para todas as idades. O espaço também não é um problema porque a beleza artística pode tocar cada um no que há de mais universal.
Em um de seus discursos aos artistas, Papa Francisco afirma que os artistas possuem a nobre missão de sanar a sede de Deus das pessoas, mesmo diante das fronteiras linguísticas e culturais. Se é autêntico, é capaz de falar de Deus melhor do que ninguém, de fazer as pessoas perceberem sua beleza e bondade, de alcançar o coração humano e fazer brilhar nele a verdade e a bondade do Senhor Ressuscitado.
O teatro aliado a coerência de vida de quem atua não só se torna ponte para o contato com a Beleza de Deus, mas oportuniza a sinodalidade do povo que se une e nutre da mensagem anunciada, partilhada e levada adiante, seguindo fielmente o mandato de Jesus: Ide pelo Mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura.
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