Jovem Guarda, Diretas já, Geração Coca-Cola, Rock Roll, Festivais de música. Cada geração foi marcada por um conjunto simbólico onde as pessoas que participaram desta época se identificam. Internet e o celular são os grandes símbolos dos nossos tempos. E a catequese acompanhou as mudanças de cada geração. Cada época tem seus desafios e possibilidades. E as gerações convivem, muitas vezes em conflito ou muitas vezes com dificuldade de diálogo. Conhecer suas características pode ajudar.
A primeira geração são os Baby Boomers. Nascidos no pós 2ª Guerra até meados da década de 1960. São eles que moldaram o mundo de tecnologia, democracia, liberdade… Possuem uma fé confiante e responsável. Constitui uma geração comprometida com as diversas causas e muito voltadas para a família. Viram de longe a mudança, principalmente pela internet. Podemos dizer que é a geração dos avós que viviam de grandes utopias para o futuro, mesmo com a tensão da Guerra Fria.
Depois veio a geração X. Nascidos entre meados dos anos 1960 a 1980, até no máximo 1984. É uma geração desconfiada. Por vezes desiludida de futuro, mas não perdeu a inquietude e cutucou com crítica a tudo, principalmente com movimentos punks. Buscam uma contracultura, ou seja, algo alternativo ao imaginário imposto, ou mesmo a tradição. Inclusive no âmbito da fé. Reina a suspeita diante das instituições e são mais apáticos pelas mudanças sociais. Seriam como que a geração dos pais. E foi esta geração que propiciou ao mundo a globalização e a expansão das mídias digitais. Daqui por diante podemos chamá-las de gerações NET.
A geração seguinte denominamos de Y. Nasceram entre 1984 até meados da década de 1990. São os filhos que conheceram de perto a efervescência da globalização econômica, relativa prosperidade e mundialização cultural através das mídias digitais. São jovens que fazem múltiplas tarefas, seguem o que querem e sonham alto. Muito impacientes, dão valor às relações. O importante é relacionar. A internet é quase que a segunda casa! Têm informação sobre tudo, conectados ao mundo, mas nem por isso sábios para mastigar tantos dados. Nascidos num mundo que fomenta o individualismo e a competição são um desafio para a educação da fé. Confiam em si mesmos e desconfiam de utopias. A Fé é uma pergunta que se responde através das emoções e têm dificuldade de enxergá-la como projeto de vida para orientar-se e ser fonte de transformação da realidade. Ainda assim, há uma fome de espiritualidade crescente.
Por fim, meados de 1990, nasce a geração Z. As outras gerações se conectaram ao mundo virtual, esta não! Já nasceram conectados. E os chamamos de nativos digitais. As gerações X e Y também podem ser chamadas de nativas, mas a particularidade da geração Z é que eles navegam na rede intuitivamente, como que geneticamente treinados para este universo. O modo de aprendizado não é mais impositivo ou por transmissão de conhecimentos. Querem aprender através das experiências pessoais. Traço cada vez mais ampliado desde a geração Y. O raciocínio não é linear, mas assemelha-se muito mais com uma rede. Multifacetado. São muito afeitos ao estético e ao espetacular. Tudo que dá prazer é válido! Voláteis e muito criativos na linguagem, principalmente pela rede. A internet é usada como extensão do próprio corpo. As relações são intensas e autônomas: a família já não dita mais! Os pais são vistos muito mais como amigos. A Igreja também! Não é mãe, nem mestra. A Igreja é companheira das aflições, emoções e questões existenciais. Têm dificuldade de respirar o que é íntimo e público. Os sentimentos são expostos e as redes sociais são como que um diário onde todos podem acompanhar ou até sentir o que se está passando com a pessoa. Alternam nas redes sociais o convívio/isolamento privado da tribo a qual pertencem e também os pontos de vista que querem escancarar para toda a rede de relações virtuais. Geração que descobriu um novo jeito de se rebelar: através das redes. Mas suas utopias são mais pessoais que integradoras de uma mudança na sociedade.
Olhando para este quadro vemos o desafio e a plasticidade que temos que ter ao evangelizar o mundo de hoje. As gerações que predominantemente chegam até nós hoje na catequese de Crisma são Y e Z. Uma tem traços de continuidade com a outra e podemos delinear algumas dicas em comum para catequese:
• Não oferecer respostas prontas, mas provocar discussões, interação e troca de experiências, estes jovens vão encontrando as respostas. O catequista é um guia para não deixar desvios sérios, mas precisa de compreensão para os resultados nem sempre exatos.
• É uma geração impaciente e multi-tarefa. Propor ações práticas e diversificadas que os próprios catequizandos podem oferecer ao grupo.
• Valorizar o que eles valorizam! Neste caso a internet.
• Nas redes sociais eles costumam prolongar as relações que começam no mundo real. Nunca é demais dizer que a catequese tem que criar laços entre catequistas e catequizandos. E a internet pode fomentar isto.
• Muitas vezes reclamamos o pouco tempo de catequese que temos por semana com os catequizandos, sobretudo os jovens. A internet é uma possibilidade de ampliar este espaço. Um erro comum é tentar transpor a linguagem do mundo real para a internet. A internet tem seu jeito próprio de comunicar e devemos explorar isto. Geralmente é uma linguagem objetiva, curta, audiovisual, lúdica e emotiva.
• Propor vídeos, frases reflexivas, poesias, músicas, imagens, fóruns de discussões nas redes sociais. Sempre com bom gosto. Achar que colocar uma imagem de Jesus ensanguentado na cruz é catequética pode, pelo contrário, trazer aversão. Ter em mente a Beleza que atrai. Uma dica para aprofundar neste assunto é o subsídio O Belo, o Lúdico e o Místico na Catequese do Regional Leste 2 da CNBB (pedidos pelo fone: 31-3342-2847).
• Ser presença amiga nas redes. Afastar a tentação de ser fiscal, com posições moralistas, mas dialogar carinhosamente e questionar certas posturas e opiniões.
• Pode-se marcar encontros na rede para alguma determinada tarefa ou discussão. Mas cuidado! Se algum catequizando não tiver acesso a internet isso poderá causar sentimento de exclusão. Ver com o grupo como incluir todos e tornar participativo este momento.
• Muitas vezes na catequese não temos tempo de amarrar tudo que surge nos bate papos. Certos pontos podem ser aprofundados com o grupo pela internet. Ou mesmo propor que façam vídeos com conclusões dos encontros e postem para que todos vejam.
• Criar uma página do grupo. Onde eles postem livremente ou sob orientação do catequista diversas coisas que sintonizem com a motivação do grupo. Pode-se inclusive, através desta página, começar parte do tema do encontro. A parte do VER, por exemplo, pode ser por uma tempestade de ideias na rede. O catequista junta tudo e ao começar o encontro lê-se a síntese das colaborações e continua a metodologia do encontro.
• Ajudar o jovem crismando a ter senso crítico, principalmente em relação ao conteúdo que encontram na rede. Pode inclusive ser fonte de discussão na catequese se certas coisas que aparecem na rede estão de acordo com a mensagem cristã.
Texto escrito por Ricardo Diniz de Oliveira.
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