Inácio de Antioquia viveu entre os séculos I e II e foi martirizado entre 107 e 110 d.C. em Roma. Foi o segundo ou o terceiro sucessor do apóstolo Pedro em Antioquia, na Síria, desde o ano 70 d.C. Durante o império de Trajano, foi levado a Roma e lá sofreu o martírio. Na viagem como prisioneiro escreveu sete cartas que são célebres e nelas se encontra seu pensamento fundamental.
Inácio não fala, diretamente, de São José, mas, o conjunto de seus argumentos conduz à historicidade de Jesus. Ele argumenta sua concepção divina, sua identidade de Filho de Deus e o Batismo feito por João, que prepara sua paixão e morte. Inácio afirma: “De fato, nosso Deus, Jesus Cristo, foi levado no ventre de Maria, segundo o plano de Deus, não do sêmen de Davi, mas por obra do Espírito Santo. (…) E permanece escondida, ao príncipe deste mundo, a virgindade de Maria e seu parto, como a morte do Senhor: são os mistérios clamorosos que se realizaram no silêncio de Deus” (Ef 19,1). “Príncipe do mundo” são os poderes, as autoridades e os valores contra o Reino de Deus.
José não é nomeado, mas é necessário como suporte, para fazer acontecerem os mistérios que determinam a salvação: a maternidade divina, a encarnação do Filho de Deus e seu nascimento. Isso se desenvolve no Matrimônio de Maria com José. Teólogos posteriores irão perceber a necessidade disso para legitimar a identidade de Jesus, filho de Davi e de Deus. Certamente é necessária a presença de José como o esposo.
Justino de Roma viveu no século II e foi martirizado em 165 d.C. Foi defensor das verdades de fé do cristianismo que se afirmava. Valorizou demais o papel de Maria no reconhecimento social e religioso de Jesus. Isso evidencia a distância crescente entre o pensamento de Justino e de seus contemporâneos no mundo greco-romano do século II e a realidade do mundo judaico de inícios do primeiro século. De fato, a imposição do nome é um ato paterno no mundo judaico.
Justino lê Mateus 1,18-20 e afirma que José desejava “banir” Maria. Essa é uma interpretação equivocada do verbo “apolûsai”, que pode ser traduzido por “desligar”, o que gerou as traduções modernas e as ideias confusas a respeito da percepção de José sobre Maria na sua gravidez.
Justino apresenta José tentando compreender Maria. Ele entende o que está acontecendo com ela na revelação, que Justino não considera como sonho, mas uma visão extraordinária. Justino entende o temor de José como compreensão da origem divina de Jesus em Maria, porém, não identifica José como “filho de Davi”, mas atribui a origem davídica de Jesus a Maria. Evitava-se assim a compreensão de uma paternidade natural de José sobre Jesus, tese defendida por um grupo separado da Igreja, os ebionitas, no século II.
Justino afirma que Jesus nasceu numa gruta, em Belém, e que os magos vieram da Arábia. Essa é a primeira vez que aparecem tais dados que, depois, serão desenvolvidos no imaginário e nas devoções natalinas. Além disso, indica que Jesus é um “artesão”, o que teria aprendido com José. Ele interpreta de modo diferente o que se traduz normalmente como “carpinteiro”.
Já se nota a distância entre o pensamento cristão e o mundo judaico. E José é deste mundo judaico! Ele passará, também, a ser mal entendido. Hoje é tempo de redescobrir isso tudo.
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