O seguinte texto visa apresentar Teresa de Lisieux na sua dimensão eucarística como continuação no nosso percurso na Obra de Teresa, iniciado a partir do Manuscrito A de História de uma alma. Nessa segunda parte a leitura de algumas cartas de Teresa endereçadas à sua prima Maria Guérin nos ajudará a compreender o seu pensamento em relação aos escrúpulos muito comuns na época, principalmente ao que se referia à comunhão eucarística.
Cartas.
Já falamos que a imagem do Deus que se abaixa e toca a humanidade é muito cara a Teresa, também a contemplação do Deus escondido que se revela nas coisas simples. Na carta escrita à Madre Inês de Jesus em fevereiro de 1893 Teresa diz; “Sem dúvida será sempre assim: “Aquele cujo rosto estava oculto”, Aquele que ainda está escondido em uma pequena hóstia branca e que não se comunica às almas se não estiver velado, saberá estender sobre toda a vida do amado apóstolo do seu divino Rosto, um véu misterioso, que só Ele poderá penetrar![1]”.
Mas, é nas cartas que Teresa escreveu a sua prima Maria Guérin que podemos colher o seu profundo pensamento sobre a comunhão eucarística, principalmente contra o rigorismo dos escrúpulos que muitos viviam naquele tempo.
A ideia de poder ferir Jesus fazendo a comunhão tendo cometido um mínimo pecado atormentava a jovem Maria Guérin que passou a ter medo de comungar para não cometer ofensas. Teresa já antecipava aquilo que São Pio X apresentaria a toda Igreja com o decreto sobre a comunhão frequente e sobre a comunhão às crianças: Sacra Tridentina Synodus de 20 de dezembro de 1905 e Quam singulari de 8 de agosto de 1910.
De fato, logo após conhecer a vida de Teresa que ainda era serva de Deus, Pio X com uma intuição profética profere as celebres palavras: “Eis a maior santa dos tempos modernos”. Foi ele também que acelerou o tempo para a introdução da causa de beatificação da serva de Deus Teresa do Menino Jesus[2].
“A diferente disciplina eclesiástica do tempo de Teresa fez a santa sofrer muito. Sabe-se que o Pontífice ficou impressionado com uma carta de Santa Teresa do Menino Jesus datada de 30 de maio de 1889 para sua prima Maria Guérin que por razões escrupulosas se manteve afastada da Comunhão[3]”.
Na carta[4] que impressionou o Papa Pio X, Teresa escrevia à sua prima: “Ó minha querida, pense, portanto, que Jesus está lá no tabernáculo só para você, só para você, e ele queima com o desejo de entrar em seu coração! Não dê ouvidos ao diabo, sonhe com ele e vá sem medo de receber o Jesus da paz e do amor![5]”. Na mesma carta Teresa aconselha a comunhão frequente: “receba a comunhão muitas vezes, muito frequentemente! Aqui está o único remédio se você quiser curar [6]”.
No dia 14 de julho de 1889 Teresa escreve: “Não se aflija porque você não sente nenhum consolo em suas comunhões: é uma prova que deve ser suportada com amor[7]”.
Na carta escrita em julho de 1890 Teresa faz a seguinte exortação: “Ah, como não amar um amigo reduzido a uma pobreza tão extrema? Como ousar ainda tomar a própria pobreza como desculpa, enquanto Jesus se faz semelhante à sua namorada?… Ele era rico e se fez pobre para unir sua pobreza à pobreza de Maria do Santíssimo Sacramento. Que mistério de amor![8]”.
Por fim, quando Maria Guérin entra para o Carmelo de Lisieux e recebe o nome de Irmã Maria da Eucaristia, Teresa escreve no dia de sua tomada de hábito em 2 de junho de 1897: “A esta altura, Maria já não tem que olhar para nada aqui embaixo, nada além do Deus Misericordioso, o Jesus da Eucaristia![9]”.
Por: Frei Juliano, O.Carm
BIBLIOGRAFIA
Santa Teresa di Gesù Bambino e del Volto Santo. Opere Complete. Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, Roma 2009.
Mario Caprioli. I papi del secolo XX e S. Teresa di Lisieux. Teresa di Lisieux, novità e grandezza di un dottorato. Teresianum, Roma 2000.
[1] LT 140.
[2] Mario Caprioli. I papi del secolo XX e S. Teresa di Lisieux. Articolo: Teresa di Lisieux, novità e grandezza di un dottorato. Roma 2000, 65.
[3] Mario Caprioli. I papi del secolo XX e S. Teresa di Lisieux. Articolo: Teresa di Lisieux, novità e grandezza di un dottorato. Roma 2000, p 66.
[4] LT 92.
[5] LT 92 1vº.
[6] LT 92 2rº.
[7] LT 93.
[8] LT 109 vº.
[9] LT 234.
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