O Brasil é o país do jeitinho. Antigamente era uma glória: “Não esquenta. Tudo se arranja”. Hoje em dia, porém, há muita gente que critica o jeito brasileiro. Há quem ache até que é mais um defeito do que um jeito, essa coisa de não levar nada a sério.
No entanto, o evangelho elogia o administrador esperto. Quando ele percebeu que ia ser despedido, deu um jeito: foi diminuir a dívida dos credores do patrão, para ter a quem recorrer no momento da necessidade. Jesus louva sua habilidade, maior do que a dos filhos da luz (Lc 16,1-8). A parábola mostra que Jesus não era moralista, nem dá muita importância às coisas, desde que se encontre um jeito de as pessoas viverem felizes e não ficarem à mercê das contingências da vida.
Essa parábola manifesta um dos aspectos mais importantes do modo de agir de Deus. Sua vontade se cumpre através de todos os homens não apenas das pessoas sérias, que fazem tudo direitinho, mas também das pessoas habilidosas, que sabem se colocar a serviço do bem e da justiça.
Jacó foi uma delas. Primeiro deu um jeito de passar seu irmão gêmeo para trás. A parteira o viu nascer puxando o pé de Esaú, que havia nascido primeiro. Enquanto Esaú era pesado e peludo, Jacó era esguio e liso, como um sabão. Um dia, o irmão desejou comer seu prato de lentilhas. Jacó o deixou, mas exigiu em troca o direito de primogenitura. Na hora decisiva da bênção do mais velho, com a ajuda da mãe, cobriu-se com uma pele de cabra e se fez abençoar como primogênito pelo velho pai Isaac, já cego.
Esaú ficou furioso e Jacó teve de fugir para o norte. Foi se casar com a filha de seu tio Labão. Este pensava tê-lo enganado, dando-lhe Lia em lugar de Raquel, que Jacó amava, mas Jacó ficou com as duas e, depois de trabalhar catorze anos para o sogro, estava mais rico do que ele. Teve de fugir de novo, agora para o sul, com onze filhos e as esposas, sendo que Raquel estava grávida.
Na sua esperteza, consegue fazer um acordo com Labão, que o perseguia e, depois, com Esaú, que vinha contra ele com mais de 400 homens.
A esperteza de Jacó foi o fio condutor da história da salvação, do mesmo modo que a serenidade de Abraão ou a coragem de Moisés. Assim como a serenidade do primeiro é sinal de sua fé, a esperteza de Jacó é manifestação de seu empenho em fazer valer, acima de tudo, a vontade de Deus.
Na véspera do encontro com Esaú, ficou sozinho à margem do rio Jaboc, e lutou a noite inteira com Deus. Ao amanhecer era outro homem. A visão noturna, sem se identificar, abençoou-o e deu-lhe o nome de Israel -aquele que luta com Deus ou por Deus (Gn 32,22-33).
Experiência semelhante se repetirá em Betel, lugar onde Jacó outrora, fugindo de Esaú, vira uma escada comunicando o céu com a Terra (Gn 28, 10-22).
Todas essas são experiências de oração e de comunicação com Deus. São elas que libertam Jacó das convenções sociais e o tornam um hábil militante de Deus, cujo desígnio vai se realizando na História.
É preciso não viver como escravo das leis nem das dívidas, mas saber dar o jeito de Deus, que a gente aprende na oração.
Fonte: Catequisar
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