Estas foram as palavras de João Paulo II ao iniciar o Ano da Eucaristia
02/06/2011O sentido da celebração – Origem da solenidade
03/06/2011A EUCARISTIA – O QUE É.
A eucaristia é o centro, o cume, o ápice da vida da Igreja. A ela se ordenam todos os sacramentos e ministérios da Igreja.
O batismo é a porta que nos introduz na vida da Igreja, que nos leva a fazer parte do Corpo de Cristo, filhos de Deus e templos do Espírito Santo. O batismo nos dá a vida de Deus, a graça de Deus.
A eucaristia é a doação total de Deus ao homem. Na eucaristia, recebemos não só a graça, mas o próprio doador da graça: Jesus Cristo, segunda pessoa da Santíssima Trindade.
A eucaristia é algo tão espetacular, violento, improvável, estranho, – diria até: difícil de se aceitar – que Deus fez uma longa e cuidadosa preparação do povo, antes de se deixar entre nós neste mistério da eucaristia.
PREPARAÇÃO REMOTA
O Cordeiro Pascal – Ex 12, 1 – 14
O Maná: Ex 16, 2 – 5
As Bodas de Caná: Jo 2, 1 – 12
PREPARAÇÃO PRÓXIMA
Jesus anuncia a eucaristia um ano antes da Última Ceia: Jo 6.
E para preparar o povo para o anúncio da eucaristia Jesus faz três milagres mostrando que Ele não era uma pessoa qualquer e tinha poderes divinos:
– a multiplicação dos pães: Jo 6, 1 – 15;
– Jesus caminha sobre as águas: Jo 6, 16 – 20;
– o barco chega, imediatamente, à outra margem: Jo 6,21.
Quando os discípulos ouviram Jesus falar da Eucaristia:
“Eu sou o pão vivo que desce do Céu”; Jo 6, 51
“E como o Pai, que é vivo, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim aquele que comer de mim viverá por mim”; Jo 6, 57
a sinagoga de Cafarnaum se esvaziou: os Seus discípulos o abandonaram. Jesus disse, então, aos doze: – “E vós, não tendes intenção de partir?” Jo 6, 67
Jesus já estava ao final de dois anos de Sua pregação. Ele preferiu começar tudo de novo, com outros discípulos, com outros apóstolos, a abrir mão do mistério da Eucaristia.
PREPARAÇÃO IMEDIATA
Jesus manda os apóstolos prepara o lugar da Ceia: Lc 22, 7 – 15;
Jesus lava os pés dos apóstolos: Jo 13, 1 – 20
A Eucaristia é o primeiro, o último, o grande desejo de Cristo: “Desejo, ardentemente, comer esta Páscoa convosco antes de padecer”. Lc 22, 15
A Eucaristia é o legado de Cristo: o que Ele nos deixa, antes de voltar ao Pai!
A EUCARISTIA É UM MEMORIAL
“Fazei isto em memória de mim”. Lc 22, 19 e 1 Cor 11, 24
No Antigo Testamento os símbolos, os ritos, as festas, embora com referências à natureza e aos momentos da vida social, tornam-se sinais de aliança, memória e atualização das obras admiráveis feitas por Deus na história, a favor de Seu povo.
De modo especial a Páscoa hebraica era a recordação, de modo participativo, da libertação da escravidão no Egito. Deus faz pelos participantes do rito Pascal, o que havia feito por seus pais no Egito.
O memorial comunica a graça do acontecimento recordado. Na forma de convito sacrifical, a Igreja revive o acontecimento total da Páscoa; realiza a memória da morte e ressurreição do Senhor, uma memória que não é apenas lembrança, mas uma reapresentação real do próprio acontecimento, no rito litúrgico.
O Crucificado Ressuscitado se torna presente como cordeiro imolado e vivo. O pão é realmente o Seu corpo doado. O vinho é realmente o Seu sangue derramado. A Sua Palavra, com o poder do Seu Espírito, realiza, na verdade, aquilo que anuncia. O pão e o vinho não são mais um alimento e bebida usuais; tornaram-se, por uma mudança singular e admirável, o que a Igreja chama de transubstanciação, o corpo e o sangue do Senhor, a Sua nova presença, verdadeira, real e substancial, dinâmica e pessoal, no ato de dar Sua própria pessoa, e não apenas a graça, como nos outros sacramentos.
A EUCARISTIA É UM SACRIFICIO
Sacrifício não é, originalmente, um ato custoso que implica dor, renúncia ou sofrimento.
Quando dou algo a uma pessoa, o que dou passa a ser dela, terá, conforme o caso, o seu nome, a sua marca ou o seu estilo. Um carro sempre sujo ou sempre limpo indica o dono que o possui.
O que dou a Deus passa a ser de Deus. Tudo o que é de Deus é santo. O que dou a Deus passa a ser santo, sagrado. Assim, uma casa, transformada em capela, passa ser sagrada. Uma madeira ou pedra, transformada em altar, passa a ser sagrada. Um metal, transformado em cálice, passa a ser sagrado.
Quando os povos antigos, ofereciam a Deus seus frutos, novilhos e ovelhas, essas oferendas passavam a pertencer a Deus. Passavam a ser santas, sagradas. Oferecer algo a Deus é fazer essa oferenda tornar-se santa, sagrada.
Diziam: “Santo fiz”- “sagrado fiz” – “sacro fiz” – donde nasceu a palavra : “sacrifício”.
Sacrifício é tudo aquilo que tiro de mim dou a Deus. Como os novilhos e ovelhas e pombos eram mortos no altar e para morrer passavam ainda pelo sofrimento e pela dor, a palavra “sacrifício” passou a carregar, também, o sentido de dor, sofrimento, morte.
Vítima – não é o que sofre. Vítima é o que é oferecido a Deus. Vítima seria sinônimo de “dom” – “presente”- “oferenda”!
Como a vítima era imolada no altar, passando pela dor, pelo sofrimento e sofrendo a morte, a palavra vítima passou a ter o sentido de ser “aquele que sofre”.
Deus é infinitamente perfeito e nada lhe falta. Tudo o que temos na terra é criatura de Deus. Depois que Jesus veio até nós, não tem mais sentido oferecer as coisas que temos como um sacrifício agradável a Deus. Hoje, o que temos de melhor na terra e agradável a Deus é o Seu Filho Jesus Cristo. Se quisermos fazer uma oferenda agradável a Deus, a única coisa que temos de bom e a maior é Jesus Cristo presente na hóstia consagrada.
Na Eucaristia, oferecemos ao Pai, o Seu próprio Filho Jesus Cristo que está presente na hóstia consagrada. Ele é uma oferenda pura, santa, imaculada e agradável ao Pai. Deus tem que aceitar! Deus não pode não querer receber nossa oferenda santa: o Seu amado e Único Filho!
Jesus que é o Santo, é o grande sacrifício que podemos oferecer ao Pai. A vítima subtraída ao poder humano. É o nosso dom a Deus. Passa a ser de Deus. Não oferecemos mais novilhos ou ovelhas, mas o próprio Jesus Filho querido de Deus!
Como não posso morrer no altar com Jesus, em cada missa de que participo, eu me ofereço ao Pai, com Jesus. Ofereço minhas alegrias, vitórias, realizações, meus trabalhos e também minhas contrariedades, tristezas, decepções, angústias, doenças e sofrimentos. Coloco minhas alegrias e dores junto às de Jesus, que no altar da missa, é oferecido ao Pai.
A partir do momento em que me ofereço a Deus, em minhas alegrias e sofrimentos, com Jesus, não tenho mais nem direito nem motivos para clamar da vida. Um católico que participa bem da missa vive sempre alegre na alegria de Jesus.
A oferenda sacrifical é um ato de culto – social, em grupo de pessoas. Não se pode oferecer em particular, em nome próprio. Mas um, pelo grupo, o sacerdote, oferece ao Pai o nosso Dom Jesus Cristo. Mesmo quando um padre rezasse sua missa sozinho, sem acompanhantes, ele estaria rezando em nome de um grupo de pessoas (sua comunidade) e não em nome próprio.
Na missa, Cristo é o sacerdote. Cristo é o nosso Dom, Ele é, também, a vítima. Quando um padre dá a bênção ao povo, ao final da missa. É Jesus Cristo que abençoa o povo na pessoa do Padre. É Jesus, que na pessoa do sacerdote, oferece ao Pai Jesus presente na hóstia e vinho consagrados. É um mistério. Mas aceitamos esse mistério em nossa vivência de fé.
Cada missa é o prolongamento do calvário; é a continuação da morte de Jesus, é um sacrifício, é um dom eterno.
Na missa Jesus nos congrega, nos reúne em torno Dele. Para participar bem da missa eu devo me transformar em dom, em vítima e com Jesus, entregar-me, no altar, ao Pai: – “Toma-me Senhor, e dá-me a generosidade de querer ser teu, sem condições.
O momento central da missa está na consagração. É o momento em que Jesus desce ao altar. É o momento de você se oferecer, com Cristo que morre na cruz. Não é momento de oração de louvor e adoração a Cristo. Todas as orações da missa são dirigidas ao Pai, não a Cristo!
Não é correto fazer nesta hora a bênção com o Santíssimo Sacramento. A bênção com o Santíssimo acontece em um outro ato litúrgico, bem diferente da missa. Na missa estamos celebrando a morte e a ressurreição de Jesus. Na missa, sobretudo na hora da consagração estamos aceitando morrer com Jesus no dia a dia da nossa vida.
A EUCARISTIA É UM SACRAMENTO
Sacramento é sinônimo de Mistério! “Eis o mistério da fé!”
Sacramento é um sinal sensível e eficaz da Graça. Todo sacramento significa uma graça e realiza a graça que significa.
O Deus que eu não vejo, atua no meu espírito que eu não vejo, me dá uma graça que eu não vejo, através de sinais que eu posso ver!
O pão e o vinho são alimentos que posso ver, sentir, cheirar, tocar, saborear. Neles estão presentes, após a consagração, o corpo e o sangue de Cristo, vivo e verdadeiro. Ao comer o pão consagrado, ao beber o vinho consagrado eu estou comento e bebendo ocorpo e o sangue de Jesus Cristo!
A EUCARISTIA É UM BANQUETE
Quando você quer honrar uma pessoa você a convida para uma refeição em sua casa. Na refeição você sela, reforça, aumenta a amizade com aquela pessoa. A refeição une e estreita as nossas amizades.
Santo Agostinho ensinava que não sou eu que recebo Cristo. É Cristo que me recebe em mim.
Vamos entender isso melhor e de uma maneira muito simples:
Quando dois seres vivos se encontram vence o mais forte e desaparece o mais fraco.
Falando, ma vez a crianças na celebração de sua Primeira Eucaristia, perguntei:
– Se vocês colocarem numa caixa um gato e um ratinho, qual é o mais forte?
As crianças: – O gato.
– O que vai acontecer?
– O gato vai comer o ratinho?
– E o ratinho?
– Ele some, desaparece, ele vira gato!
– E se colocarem numa caixa um coelhinho e uma folha de couve, qual é o mais forte?
– O coelhinho.
– O que vai acontecer?
– O coelhinho vai comer couve.
– E a couve?
-Ela desaparece, some. Ela vira coelho!
– E se colocarem numa sala uma onça e um coelho, qual é o mais forte?
– A onça.
– E o que vai acontecer?
– A onça vai comer o coelho.
– E o coelho?
– Ele some, desaparece, ele vira onça.
– Bem, e se agora nós colocarmos você e Jesus na mesma sala. Qual é o mais forte?
– JESUS! Respondiam as crianças, em coro.
– E quem vai sobrar?
– As crianças, sorriam, se olhavam, sem saber responder…
E com muita alegria lhes dizia:
VAI SOBRAR JESUS COM SEU ROSTINHO! Depois da comunhão é Jesus que em você volta para sua casa. E quando você beijar o papai e a mamãe, é Jesus que em você estará beijando o papai e a mamãe!
É por isso que quem comunga, recebe Jesus em seu coração, ao voltar para casa, volta melhor do que antes da missa: não briga, não bate no irmãozinho, não xinga, não desobedece, é alegre e amigo de todas as crianças e dos grandes, também!…
A história é singela mas nos ajuda a compreender o que acontece no mistério da comunhão eucarística. Nós nos tornamos um só em Jesus Cristo. Conforme nos ensina São Paulo (1 Cor 9,21) “Eu não sou sem lei, visto que Cristo é a minha lei!”
Tem sentido ir à missa e não comungar?
Seria como aceitar um convite para um almoço e, na hora da refeição, enquanto todos se sentam à mesa, aquela pessoa se coloca de lado e em pé. E quando alguém a convida para se assentar ela responde: – “Não, obrigado, eu só vim cheirar!”
Se ela está doente e não pode aquela refeição forte, todos vão entender.
Assim, quem está em pecado, está doente. Pode e deve ir à missa e participar da alegria e da conversa. Mas não deve receber Jesus até que a luz da graça volte a brilhar em seu coração, até que recupere a saúde de sua vida espiritual.
No dia do nosso batismo foi acesa a fogueira do amor de Deus em nosso coração. A eucaristia é lenha nova e seca que aumenta a luz e o calor do amor de Deus em nós. Mas não se põe lenha nova em fogueira apagada. Se a luz do meu coração apagou pelo pecado, eu devo, antes de comungar, reacendê-la pelo sacramento da reconciliação, fazendo uma santa e piedosa confissão.
Vale participar da missa pela televisão?
O que você acha de jantar pela televisão? Enquanto os atores da novela se assentam e comem comidas gostosas, você, vê e vai se deitar. Matou a fome?
Acompanhar a missa pela televisão serve para participar da alegria de das conversas (pregação) de tantas coisas bonitas sobre Deus entre as pessoas que estão participando daquela missa. Ajuda, sobretudo a quem está em casa ou doente e não pode participar, pessoalmente, da missa. Aos doentes, o ministro da comunhão, vai, depois, levar Jesus vivo e verdadeiramente presente na hóstia consagrada, que vai visitar o doente como amigo e companheiro.
Quando devo ir à Missa?
A Igreja manda que participemos da Santa Missa, ao menos aos domingos, celebrando a morte e a ressurreição do Senhor Jesus. Há pessoas que gostam de ir `a missa aos sábados. O sábado, após o meio dia faz parte da liturgia do domingo. Ir à missa aos sábados à tarde ou à noite, é como se fosse ir aos domingos. Erram, de certa maneira, aquelas que indo aos sábados, falam assim: – “Eu gosto de ir à missa aos sábados, pois desta maneira já fico livre”! Imaginem um namorado que falasse: – “Eu gosto de beijar a minha namorada aos sábados, pois assim já fico livre para o resto da semana”!… Nesse tipo de missa ou beijo não há amor!…
O bom seria não ficar só na missa dos domingos e ir sempre que puder, ao menos mais uma ou duas vezes por semana.
Como me vestir para ir à Missa?
É sempre bom lembrar que Missa é Missa. Há uma roupa para trabalhar em casa; há uma roupa para trabalhar fora de casa; há uma roupa para ir à praia; há uma roupa para ir ao baile; e deve haver, também uma roupa modesta, sem luxo, para ir à missa! A roupa de ir à Missa não deve chamar a atenção dos outros nem pelo luxo ou moda nem pela falta de modéstia.
Vocês que estão aqui, são pessoas mais santas. Mas o que vou estou falando serve para vocês sentirem segurança nos bons costumes da Igreja e ajudar os que nõ sabem. Por exemplo, tenho visto em igrejas de diversas regiões do Brasil, jovens mascando chicletes durante a missa e até na fila de comunhão!
Poderia alguém dizer:
– “Com tantas comunhões, como eu deveria ser melhor! ”
E poderíamos responder:
– “Sem tantas comunhões, o que seria de mim?”
Quero ler para vocês uma poesia, que me parece bonita, é de autor desconhecido e a ouvi de um irmão Bispo.
A LENDA DO AMOR
Era Uma vez o AMOR…
O amor morava numa casa assoalhada
de estrelas e toda enfeitada de sóis.
Mas não havia luz na casa do Amor,
Porque a luz é o próprio Amor.
E, uma vez,
O Amor queria uma casa mais linda para si.
– Que estranha mania esta do Amor!
E fez a terra.
E na terra fez a carne.
E na carne soprou a vida.
E na vida soprou a imagem de Sua semelhança.
E a chamou de homem.
E dentro do peito do homem o Amor construiu a Sua casa,
Pequenina mas palpitante,
Irrequieta, insatisfeita, como o próprio Amor.
E o Amor foi morar no coração do homem
E coube todinho lá dentro.
Porque o coração do homem foi feito do Infinito.
Uma vez…
O homem ficou com inveja do Amor.
Queria para si a casa do Amor, só para si.
Queria para si a felicidade do Amor, como se o Amor pudesse viver só.
E o homem sentiu uma fome torturante.
E comeu….
O Amor foi-se embora do coração do homem.
O homem começou a encher o seu coração:
Encheu-o com todas as riquezas da terra,
E ainda ficou vazio.
E o homem triste, derramou suor para ganhar a comida.
(Ele sempre tinha fome).
E continuava com o coração vazio.
Uma vez…
Resolveu repartir o seu coração inútil com as criaturas da terra.
O Amor soube.
Vestiu-se de carne e veio, também, receber o coração do homem.
Mas o homem reconheceu o Amor e o pregou numa cruz.
E continuou a derramar o suor para ganhar a comida.
O Amor, então, teve uma idéia:
Vestiu-se de comida, se disfarçou de Pão e ficou quietinho…
Quando o homem faminto ingeriu a comida
O Amor voltou à sua casa, no coração do homem.
E o coração do homem se encheu de plenitude.
Dom João Bosco Óliver de Faria
Administrador Diocesano de Patos de Minas e
Arcebispo Eleito de Diamantina