NO CENTRO E EM TODA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
“A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo, seu Senhor, não como um dom, por precioso que ele seja, entre muito outros, mas como o dom por excelência, porque Ele é o dom de si mesmo, da sua Pessoa na sua santa humanidade e da sua obra de salvação.” (João Paulo II)
São João Paulo II concluiu e coroou seu longo pontificado durante o Ano da Eucaristia, que ele instituiu na sequência da sua Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. O Pontífice queria reavivar no coração da Igreja a admiração pelo dom por excelência, da sagrada Eucaristia e suscitar uma renovação da adoração desse Sacramento, que contém a própria Pessoa do Senhor Jesus na sua humanidade.
Esse dom por excelência foi longamente preparado por Deus na história da salvação. A Eucaristia recapitula e coroa, com efeito, uma multidão de dons de Deus feitos à humanidade depois da criação do mundo. Ela leva à sua realização o desígnio de Deus de estabelecer uma aliança definitiva com a humanidade; apesar de ser uma história trágica de pecado e de rejeição que permanece desde as origens, Deus instaura concretamente, por esse Sacramento, a nova aliança selada no sangue de Cristo. Essa aliança sela definitivamente uma longa história da aliança entre Deus e o povo nascido de Abraão, nosso pai na fé. Como a celebração da Páscoa judaica no tempo da promessa, a sagrada Eucaristia acompanha a peregrinação do povo de Deus na história da nova aliança.
Ela é um memorial vivo do dom que Jesus Cristo fez do seu corpo e do seu sangue para resgatar a humanidade do pecado e da morte e comunicar-lhe a vida eterna.
Na sua liturgia e oração milenares, o povo judeu aprendeu a celebrar a grandeza do seu Deus santo, criador e libertador. A Páscoa esteve sempre no centro da liturgia, que recorda de geração em geração o acontecimento do Êxodo: “Esse dia vos servirá de memorial” (Ex 12,14).
Celebrada por gerações de crentes, ela se relaciona com o acontecimento fundador da primeira aliança: a saída do Egito do povo hebreu e a passagem do mar Vermelho graças à intervenção do Senhor Deus: “Israel viu a mão poderosa com que o Senhor atuou contra o Egito. O povo temeu o Senhor, e acreditou nele e em Moisés seu servo” (Ex 14,31). Esse acontecimento fundacional iria ser selado no Sinai pelo dom sagrado da lei e pelo compromisso do povo: “Eis o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco, mediante todas estas palavras” (Ex 24,8). E o povo respondeu: “Tudo o que o Senhor disse, nós o poremos em prática” (Ex 19,8).
Essa primeira “passagem” duma parte da humanidade da escravidão para a liberdade anunciava e preparava a intervenção decisiva do Deus vivo e Pai em favor da humanidade, o envio da sua última Palavra, pessoal e definitiva, na encarnação do Verbo. Então, num momento particular da história humana, “A graça de Deus manifestou-se para a salvação de todos os homens” (Tt 2,11). A memória reconhecida da Igreja proclama-o: “De tal modo amastes o mundo, Pai santo, que, chegada a plenitude dos tempos, nos enviastes como Salvador o vosso Filho Unigênito” (Oração Eucarística IV).
A vinda do Verbo à nossa carne marca o cume do dom que Deus faz de si mesmo: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo” (Hb 1,1-2). A Epístola aos Hebreus mostra que a encarnação do Filho de Deus e a oferenda sacrificial da sua vida fundam e estabelecem o culto da nova aliança no seu sangue. Esse culto, instaurado por Jesus Cristo, leva a seu cumprimento os esboços do culto da primeira aliança, oferecendo um só sacrifício, válido uma vez por todas, mas diferente dos sacrifícios de animais da antiga lei, porque é o sacrifício do Cordeiro sem mancha, “(…) que se oferece ao Pai no Espírito eterno (…) para que prestemos culto ao Deus vivo” (Hb 9,14). Esse culto eterno Cristo torna-o presente em nosso tempo e em nosso espaço pela sagrada Eucaristia, cume do dom de Deus, Verbo feito carne e Espírito vivificante na origem do culto da nova aliança.
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